Page 58 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 54 Nº2
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médias agudas de repetição. No entanto, em nenhum   feminino estava associado a maior insucesso cirúrgico,
         dos  casos  houve  significado  estatístico  (p=  0.962,  p=   mas sem significado estatístico (P=0.08).
         0.36, p=0.488 respetivamente). Houve ainda 2 casos em   Em relação à idade, existem estudos (1,3,4)  que referem que
         que a localização da perfuração timpânica e o tamanho   as  timpanoplastias  parecem  estar  associadas  a  piores
         da mesma não se encontrava descrita no processo    resultados de sucesso cirúrgico quando são realizadas
         clínico.                                           em crianças mais novas (menos de 7 anos), devido a
         No nosso estudo apenas 10 doentes (9.2%) realizaram   diversas  condições  inerentes  à  criança  já  enunciadas
         mastoidectomia no mesmo tempo cirúrgico que        anteriormente. No entanto, no nosso estudo, tal como
         foram  intervencionadas  com  timpanoplastia  tipo   em outros na literatura, (2,10,14)  não se verificou relação
         I. Obteve-se insucesso cirúrgico em 5 doentes que   estatisticamente significativa entre a idade mais jovem
         realizaram mastoidectomia (50%) e em 29 que não    das crianças e o insucesso cirúrgico.
         realizaram mastoidectomia (29.3%). No entanto não   No nosso estudo observamos maior taxa de insucesso
         se verificou significado estatístico entre a realização de   cirúrgico quando o ouvido intervencionado era o
         mastoidectomia e o insucesso cirúrgico, p= 0.261.  esquerdo.  Na  literatura  científica,  não  é  encontrada
         Em relação ao volume timpanométrico pré-operatório   relação entre o ouvido intervencionado e a relação com
                                                                             (12)
         verificou-se  que  a  média  do  volume  timpanométrico   o insucesso cirúrgico .
         era  superior  nos  indivíduos  em  que  tinha  ocorrido   Não  se  verificou  relação  com  significado  estatístico
         sucesso cirúrgico (3.37 cc), do que nos indivíduos em   relativamente ao estado clínico do ouvido contralateral
         que  tinha  havido  insucesso  cirúrgico  (3.04  cc).  Fez-se   e o insucesso cirúrgico. Tal evidência é suportada por
         uma subdivisão em 2 grupos. Volume timpanométrico   alguns estudos (2,4,16)  e rejeitada por outros (1,8,12) . Os
         pré-operatório superior ou igual a 3.5cc e inferior   autores que encontraram associação entre o estado
         a 3.5 cc. Constatou-se que o grupo em que volume   patológico do ouvido contralateral e o insucesso
         timpanométrico  era  inferior  a  3.5  cc  (61  doentes)   cirúrgico, relacionaram-no com a funcionalidade da
         estava associado a maior insucesso cirúrgico, 34.4%   trompa de Eustáquio: um ouvido contralateral normal
         (21 doentes). Por sua vez, o grupo cujo volume     com um timpanograma normal pressupõe que a trompa
         timpanométrico  era  superior  ou  igual  a  3.5  cc  (48   de  Eustáquio  esteja  funcionante,  o  que  poderá  estar
                                                                                              (13)
         doentes), esteve associado a menos insucesso cirúrgico,   associado a melhor prognóstico cirúrgico .
         27.1%  (13  doentes).  No  entanto,  não  se  verificou   Vários autores citam que a localização da perfuração é
         significado estatístico entre o volume timpanométrico e   um  factor  de  prognóstico  importante.  As  perfurações
         o insucesso cirúrgico, p=0.350                     anteriores são tecnicamente mais difíceis de efectuar,
         Em relação à audiometria pré e pós-operatória verificou-  sendo  mais  difícil  o  posicionamento  do  enxerto.  Por
         se que apenas em 3 crianças (3%) houve agravamento da   outro lado a perfusão sanguínea é menor anteriormente,
         hipoacúsia. Observou-se de forma geral uma melhoria   o  que  poderá  de  alguma  forma  ter  implicações  na
         do gap aéreo-ósseo quando se comparou o audiograma   integração do enxerto . No entanto no nosso estudo,
                                                                               (4)
         pré-operatório e pós-operatório. (tabela 3)        tal  como  noutros  estudos  da  literatura  científica,  não
                                                            foi demonstrada  associação entre  a  localização da
                                                            perfuração e o grau de insucesso cirúrgico. (2,13,17) .
          TABELA 3                                          Relativamente ao tamanho da perfuração é especulado
          Comparação audiológica pré e pós-operatória dos doentes
          submetidos a timpanoplastias tipo I               por alguns autores que perfurações grandes estão
                                                            associadas  a  pior  prognóstico  cirúrgico  devido  a
              Avaliação audiológica media pré e pós-operatória  dificuldades com a exposição cirúrgica na visualização
                                                            de todo o rebordo da perfuração e devido ao facto
          Gap aéreo-ósseo     500 Hz  1000 Hz   3000Hz
                                                            de  a  perfusão  sanguínea  do  restante  tímpano  ser
          Pré-operatório       30       25        20        mais pobre. (1,18,19) . No nosso estudo, apesar de termos
          Pós-operatório       15       15        10        encontrado  maiores  taxas  de  insucesso  cirúrgico  em
                                                            crianças com perfurações grandes (maiores que 25%),
                                                            não se demonstrou significado estatístico.
          DISCUSSÃO                                         Outros estudos publicados também não encontram
          No nosso estudo verificou-se que alguns fatores estão   associação entre o tamanho da perfuração e o insucesso
          associados a pecentagens mais elevadas  de inscesso   cirúrgico. (2,8,12)
          cirúrgico  nas  timpanoplastias  tipo  I  em  crianças  mas   Relativamente  às  etiologias  da  perfuração  timpânica,
          sem significado estatistico associado.            estudos como o nosso, não encontram correlação entre
          Grande parte dos estudos (2,12,14)   verificaram  que  o   a  etiologia  da  perfuração  timpânica  e  a  o  insucesso
          sexo  não  é  um  fator  de  mau  prognóstico  cirúrgico.   cirúrgico . Outros estudos referem associação entre a
                                                                   (18)
          No entanto um estudo  refere que o sexo masculino   etiologia infeciosa e o insucesso cirúrgico, justificando-a
                             (15)
          é    um  fator  de  pior  prognostico  nas  timpanoplastias   com o facto que algumas bactérias que infetam o
          em crianças. No nosso estudo verificamos que o sexo   ouvido médio poderem levar à produção de citoquinas

      128  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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