Page 56 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 54 Nº2
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Fatores que consolidam esta afirmação são: imaturidade   pediátrico de referência nacional que atende crianças
          imunológica, alterações na cicatrização ou reperfuração   entre os 0 e os 18 anos.
          do enxerto devido a infeções ou má função da trompa   Perfez-se  um  total  de  260  timpanoplastias  de  tipo  I
          de Eustáquio, má colaboração por parte dos pais e da   neste período de 4 anos.
          criança, o que dificulta o pós-operatório. (4,5)  Foram excluídos do estudo crianças com: 1- colesteatoma
          Existem,  no  entanto,  estudos  que  referem  que  as   ou atelectasias timpânicas (n=60); 2-follow-up inferior
          crianças podem ser submetidas a intervenção cirúrgica   a 6 meses (n=24); 3-com mais de 15 anos (n= 38); 4-
          mesmo com idades inferiores a 5 anos. Os argumentos   com  dados  insuficientes  (n=29).  Perfez-se  assim  uma
          referidos são: 1- diminuição da qualidade de vida   amostra total do estudo de 109 crianças (N=109).
          devido a hipoacúsia e privação aquática. 2- incidência   Foram  recolhidos  dados  relativos  ao:  1-  sexo;
          elevada  de  complicações  secundárias  severas  devido   2-  idade;  3-  lateralidade  do  ouvido  submetido  a
          a  otite  média  crónica.  3  –  redução  do  número  de   timpanoplastia  simples;  4-  estado  do  ouvido  contra
          visitas médicas que são requeridas no seguimento   lateral; 5- local, tamanho e etiologia da perfuração; 6-
          da  perfuração.  4-  perda  auditiva  que  pode  alterar   avaliação audiológica pré e pós-operatória; 7- volume
          o  desenvolvimento  infantil  e  o  sucesso  escolar.  5-   timpanométrico  pré-operatório;  8-  associação  ou  não
          limitação do dano que a infeção crónica ou recorrente   de  mastoidectomia;  9-  complicações  pós-operatórias.
          pode causar noutras estruturas do ouvido médio. 6-   (tabela 1)
          melhor reserva coclear nas idades precoces com grande   Definiu-se como insucesso cirúrgico: 1-persistência da
          potencial de recuperação auditiva. (1,6)          hipoacúsia de condução (GAP aéreo-ósseo superior
          Na  literatura  internacional  há  evidência  de  que  as   a  20dB)  ou  agravamento  do  limiar  auditivo.  2-
          timpanoplastias  têm  maiores  taxas  de  sucesso  em   aparecimento no período pós-operatório (entre 6 meses
          crianças com mis de 7 anos de idade (5,7,8,9) . No entanto,   a  4  anos)  de  atelectasia  timpânica,  otite  seromucosa,
          existem  outros  estudos  que  demonstram  que  não   reperfuração ou colesteatoma.
          existem diferenças em relação à idade. (3,10,11) .  Considerou-se sucesso cirúrgico todas as crianças
          No que concerne aos fatores de prognóstico cirúrgico   em que se observou encerramento da perfuração
          das timpanoplastias, vários fatores têm sido estudados   timpanica, sem aparecimento de alterações estruturais
          para além da idade: causa da perfuração, tamanho
          e  localização  da  perfuração  timpânica,  estado  do   TABELA 1
          ouvido médio na altura da cirurgia, estado do ouvido   Resultados possíveis obtidos em relação às variáveis analisadas no
          contralateral (prova indirecta da  função da trompa   estudo
          de  Eustáquio),  sexo  do  doente,  técnica  cirúrgica  e
          volume timpanométrico pré-operatório (1,2,11,12) . Noutros   Variáveis analisadas  Resultados obtidos
          estudos  de  timpanoplastias  em  crianças  a  presença   Sexo         Masculino/Feminino
          de hipertrofia ou infeção crónica do tecido adenoideu   Idade          Grupo 1 (4-7 anos)
          foi proposto como hipotético fator de prognóstico. No                  Grupo 2 (8-15 anos)
          entanto não foi encontrada relação estatística (3,5,7) . Nas   Ouvido intervencionado  Direito/Esquerdo
          crianças  submetidas  a  timpanomastoidectomia  existe
          um melhor controlo do ouvido médio, no entanto esta é   Estado do ouvido   Normal/ Com patologia
          cirurgia mais agressiva e  requer uma maior pericia por   contralateral
          parte do cirurgião otológico quando comparada com   Local da Perfuração  Anterior/Central/Posterior/Total
          uma timpanoplastia tipo I. Desta forma a sua relação   Tamanho da Perfuração  Pequena (<25%)
          com o melhor ou pior prognostico cirurgíco na literatura               Grande (>25%)
          é um tema controverso (12, 13, 14) .               Causa de Perfuração  Pós-TVTT/Pós-OMA/
          Com  o  presente  estudo  pretende-se  identificar  quais              Pós-OSM/Pós-traumática*
          os fatores que podem estar associados a insucesso
          cirúrgico em crianças submetidas a timpanoplastia tipo   Mastoidectomia  Sim/Não
          I, de forma a tentar maximizar o sucesso cirúrgico das   Volume timpanométrico   <3.5/≥3.5cc
          crianças que sejam submetidas a timpanoplastias.   pré-operatório
                                                             Audiograma tonal    Pré e pós-operatório
          MATERIAIS E MÉTODOS                                simples
          População do estudo:
          Foi feito um estudo retrospetivo com análise de todos   Complicação    Nenhuma/ Reperfuração/
          os processos clínicos das crianças entre os 0 e os 15   pós-operatória  Otite Serosa/ Atelectasia/
          anos de idade que foram submetidas a timpanoplastias                   Colesteatoma
          tipo I de Portmann, durante um período de 4 anos (1 de   *Pós-TVTT  (pós  colocação  de  tubos  de  ventilação  transtimpânicos);
          Janeiro de 2008 a 31 de Dezembro de 2011) no Serviço   Pós-OMA (Pós otites medias agudas de repetição); Pós-OSM (Pós otite
          de Otorrinolaringologia do HDE. O HDE é um hospital   seromucosa)

      126  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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