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da membrana timpanica ou recidiva de otite média Neste estudo 55 crianças eram do sexo feminino (50.5%)
crónica e encerramento do gap aéreo-ósseo sem e 54 crianças do sexo masculino (49.5%). 20 indivíduos
agravamento do limiar auditivo. do sexo feminino tiveram insucesso cirúrgico (36.4%),
Todas as crianças incluídas neste estudo foram enquanto que apenas 14 indivíduos do sexo masculino
submetidas a uma timpanoplastia tipo I por via obtiveram insucesso (25.9%). Não se encontrou
retroauricular e pela técnica descrita por Portmann. significado estatístico em relação ao sexo feminino e o
Os enxertos colocados foram na sua grande maioria insucesso cirúrgico (p=0.08).
de fascia temporalis, e em alguns casos foi usada A idade mínima dos doentes foi de 4 anos e a idade
cartilagem do tragus, colocados underlay. Em nenhum máxima de 15 anos. A média de idade deste estudo foi
destes casos se realizou reconstrução ossicular. Nos de 9.87 anos. O total de crianças do grupo 1 (4-7 anos)
pós-opratório todas as crianças foram submetidas a perfez 19.3% da amostra total, enquanto o grupo 2 (8-
exames audiometricos (audiograma tonal simples) 15 anos) perfez 80.3%.
para controlo e compração dos seus limiares com os Constatou-se insucesso cirúrgico em 7 doentes (33.3%)
resultados obtidos pré-operatóriamente. do grupo 1 e 27 doentes (30.7%) no grupo 2. Verificou-
se estatisticamente que a idade não tinha relação com ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE
Análise estatística: o insucesso cirúrgico. Também não se verificou relação
A análise estatística de dados foi efetuada através do entre o grupo de crianças mais jovens e o insucesso
software Statistical Package for the Social Science for cirúrgico (p=0.665)
Windows versão 16.0 (SPSS Inc, Chicago IL). Intervencionaram-se 51 ouvidos direitos e 58 ouvidos
Os testes que se utilizaram nas variáveis categóricas esquerdos, obtendo-se uma frequência relativa de
foram: teste do Chi-quadrado e teste exato de Fisher. 46.8% e 53.2% respetivamente. Obteve-se insucesso
Já nas variáveis contínuas o teste utilizado foi o teste cirúrgico em 13 doentes (25.5%) cujo ouvido operado
Mann-Wittney. foi o direito e 21 doentes (36.2%) ao ouvido esquerdo.
Consideraram-se significativos os valores obtidos a um Apesar de no nosso estudo o ouvido esquerdo estar
nível de significância inferior a 5%. associado a maior insucesso cirúrgico, este não foi
estatisticamente significativo (p=0.179)
RESULTADOS Em relação ao estado do ouvido contralateral
No nosso estudo de 109 timpanoplastias tipo I, obtivemos intervencionado, contatou-se que o ouvido contralateral
75 casos de sucesso cirúrgico (68.8%), e 34 casos em que estava normal em 40 crianças (36.7%) e patológico em
houve insucesso cirúrgico, perfazendo uma percentagem 69 crianças (63.3%). Observou-se insucesso cirúrgico
de 31.2%. Dentro do insucesso cirúrgico, verificou-se em 14 doentes cujo ouvido contralateral estava normal
que 3% (3 crianças) houve persistência da hipoacúsia (35.5%), e em 20 doentes cujo ouvido contralateral
de condução (GAP aéreo-ósseo superior a 20dB) ou estava patológico (29%). Não se verificou no entanto
agravamento do limiar auditivo; em 21% (23 crianças) significado estatístico (p=0.551)
constatou-se reperfuração do enxerto; em 4.6% houve Relativamente à perfuração timpânica (tabela 2),
o desenvolvimento posterior de otite seromucosa (5 verificou-se que existiu maior insucesso cirúrgico
casos); em 3.7% desenvolveu-se atelectasia do novo nos seguintes casos: 1- perfurações anteriores ou
enxerto (4 casos) e em 2% (2 crianças) diagnosticou-se posteriores, 2- perfurações superiores a 25% da área
colesteatoma no ouvido intervencionado. timpânica; 3- perfurações cuja etiologia era pós-otites
TABELA 2
Resultados obtidos dos doentes relativamente à localização, tamanho e etiologia da perfuração timpânica das crianças submetidas a
timpanoplastias tipo I
Total de doentes Insucesso Cirúrgico
Perfuração timpânica Frequência absoluta Frequência relativa Frequência absoluta Frequência relativa
Perfuração anterior 42 39.3% 14 33.3%
Perfuração central 28 26.2% 7 25.0%
Perfuração posterior 18 16.8% 6 33.3%
Perfuração total 19 17.8& 6 31.6%
Perfuração pequena 44 41.1% 12 27.3%
Perfuração grande 63 58.9% 22 34.9%
Perfuração Pós-TVTT 22 20.2% 7 31.8%
Perfuração Pós-OMA 62 56.9% 21 33.9%
Perfuração Pós-OSM 25 22.9% 6 24.0%
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