Page 62 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 54 Nº2
P. 62

TABELA 1                                          Na consulta constatou-se uma lesão parcial do pavilhão
          Classificação de Weerda  para lesões traumáticas do pavilhão   auricular envolvendo o 1/3 superior, com amputação
                           1
          auricular                                         do  hélix  e  escafa,  tendo  como  limite  inferior  o  anti-
          1º Grau  Trauma  superficial/  Abrasão  sem  envolvimento   hélix e a crura superior do hélix, que se encontravam
                   significativo da cartilagem              preservados (Figura 1). O restante pavilhão auricular
                                                            não apresentava distorções significativas.
          2º Grau  Amputação de porção da auricular  com
                   preservação de pedículo de pele vascularizado  Foi proposta a reconstrução, num único tempo, do
                                                            defeito  do  pavilhão  auricular  direito  com  enxerto
          3º Grau  Avulsão  parcial  ou total com preservação da   composto da concha do ouvido contralateral, que o
                   porção amputada
                                                            doente aceitou (Figura 2).
          4º Grau  Avulsão  parcial ou total sem  preservação da
                   porção amputada                          FIGURA 2
                                                            Planeamento cirúrgico: A  reconstrução da parede  lateral
         defeito do pavilhão auricular, sendo a maioria realizada   do  pavilhão  auricular  direito  foi  realizada  utilizando  um
                       3
         em dois tempos .                                   enxerto composto de pele e cartilagem da concha do ouvido
         Neste trabalho apresentamos uma técnica de         contralateral. A parede medial foi reconstruída através de um
         reconstrução para defeitos periféricos do 1/3 superior   retalho retroauricular de avanço ipsilateral
         do pavilhão auricular, realizada num único tempo
         cirúrgico.

          DESCRIÇÃO DO CASO
         Os autores apresentam o caso de um jovem estudante
         de  23  anos,  caucasiano,  do  sexo  masculino,  sem
         antecedentes médicos de relevo, que foi observado
         em  consulta  de  Otorrinolaringologia  e  Plástica  Facial
         no Hospital  CUF  Infante  Santo, por  avulsão completa
         do terço superior do pavilhão auricular direito, após
         mordedura  humana.  A  agressão  ocorrera  há  cerca  de
         um mês, sem preservação da porção amputada, tendo
         sido realizado, na altura, encerramento dos retalhos
         traumáticos.

          FIGURA 1
          Pré-operatório  de avulsão  de 4º grau  do  pavilhão  auricular
          direito.  Visão  (A)  anterior,  (B)  posterior,  (C)  pormenor  perfil
          direito, (D) perfil direito.                      A cirurgia, sob anestesia geral, foi realizada 3 meses
                                                            após a agressão, sob profilaxia antibiótica.
                                                            Para  a  colheita  do  enxerto  composto  do  ouvido
                                                            contralateral iniciou-se o procedimento com o desenho
                                                            do molde do defeito que foi posteriormente utilizado
                                                            na  delimitação  do  segmento  de  cartilagem  e  pele
                                                            necessário à reconstrução. Este segmento foi colhido da
                                                            face posterior do pavilhão auricular contralateral, após
                                                            infiltração  com  anestésico  local  (lidocaína,  2%,  com
                                                            adrenalina 1:200 000) e dissecção da pele da superfície
                                                            ventral da concha, tendo como limite medial do enxerto
                                                            o sulco retroauricular. Foi realizado o encerramento por
                                                            planos e suturado à face anterior da concha, um penso
                                                            compressivo, embebido em bacitracina (Figura 3).
                                                            A abordagem do pavilhão auricular direito iniciou-
                                                            se  pela  incisão  sobre  o  anti-hélix  e  crura  superior  do
                                                            hélix  (limite  inferior  do  defeito),  com  descolamento
                                                            suprapericondral dos tecidos mediais e remoção do
                                                            tecido cicatricial com reavivamento dos bordos.
                                                            O retalho de avanço retroauricular, póstero-superior,
                                                            foi obtido através da continuação posterior da incisão
                                                            sobre  o  anti-hélix,  com  realização  de  triângulos  de


      132  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
   57   58   59   60   61   62   63   64   65   66   67