Page 19 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 49. Nº3
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Destes,  9%  (21  doentes)  necessitou  de  drenagem   das  infecções  orofaríngeas  e  cervicais,  de  modo  a
          cirúrgica sob anestesia geral.                    assegurar um melhor prognóstico a estes doentes.
          Cinquenta doentes (16,8% – percentagem semelhante
          à da literatura 3) tiveram complicações. A mais grave e   Referências bibliográficas
          frequente foi a mediastinite, em 11 doentes, seguida da   1.  Murray  AD,  Marcincuk  AC.  Deep  neck  infections.  2009.  www.
          infecção pulmonar grave (8 doentes) e choque séptico.   emedecine.pt. Acedido em Abril 1, 2010.
          O risco de obstrução da via aérea levou a traqueotomia   2. Jennings CR. Surgical anatomy of the neck. Em: Valery J Lund (Ed.)
          e ventilação mecânica invasiva em 14 doentes, a maioria   Scott-Brown’s  Otorhinolaryngology,  Head  &  Neck  Surgery,  7th  ed,
          dos  quais  (78,6%)  em  doentes  que  desenvolveram   London, Hodder Arnold. 2008; 2(137):1739-1753.
          mediastinite.                                     3.  Boscolo-Rizzo  P,  Marchiori  C,  Montolli  F,  Vaglia  A  et  al.  Deep  neck
          A  taxa  de  remissão  e  cura  dos  nossos  doentes  (99%)   infections:  a  constant  challenge.  J  Otorhinolaryngol  2006  May;  68(5):
          e  o  tempo  médio  de  internamento  (6,6  dias)  foram   259-265.
                                   4
          semelhantes aos da literatura . Este último aumentou   4. Eftekharian A, Roozbahany NA, Vaezeafshar R, Narimani N. Deep neck
          grandemente,  para  55,1  dias,  quando  surgiram   infections: a retrospective review of 112 cases. Eur Arch Otorhinolaryngol.
          complicações. A reduzida taxa de mortalidade deveu-se   2009 Feb; 266(2):273-277.
          a três casos de mediastinite, desenvolvidos a partir de   5. Suehara AB, Gonçalves AJ, Alcadipant FA, Kavabata NK et al. Infecções
          infecções do espaço para e latero-faríngeos, onde não   cervicais profundas: análise de 80 casos. Rev Bras Otorrinolaringol 2008
          foi significativa a diferença de sexo e idades, ao contrário   Abr; 74(2):253-259.
          da presença de co-morbilidades (HTA e etanolismo) e a
          origem odontogénica da infecção.

          CONCLUSÃO
          Ao  longo  deste  trabalho,  verificou-se  a  elevada
          prevalência de patologia otorrinolaringológica (infecções
          peri-amigdalinas  e  para-faríngeas,  essencialmente),
          enquanto  ponto  de  partida  para  infecções  cervicais
          profundas no Serviço de ORL do Hospital de São José.
          Esta patologia, embora mais frequente, não se associou
          a  grandes  complicações  ou  morbilidade,  desde  que
          diagnosticada  e  tratada  adequada  e  atempadamente.
          Foi  patente  também  a  tendência  crescente  destas
          infecções,  associadas  a  elevada  morbilidade  e
          mortalidade, sobretudo em idade jovem.
          De clínica frustre e pouco reveladora da real extensão
          e  gravidade  da  infecção,  a  febre  e  o  aumento  da
          PCR  nas  análises  sanguíneas  foram  os  factores  mais
          consistentemente presentes nestes doentes, embora a
          real  importância  dos  mesmos,  assim  como  os  valores
          de cut-off (no caso da PCR) devam ser objectos de mais
          estudos,  para  determinar  o  seu  real  valor  enquanto
          factores  preditivos  de  gravidade.  A  importância  das
          doenças  sistémicas  na  disseminação  destas  infecções
          e  na  ocorrência  de  complicações  acompanha-se  da
          necessidade  de  uma  abordagem  multi-disciplinar
          destes  doentes,  tendo  em  vista  a  evolução  favorável
          dos mesmos. A mediastinite necrosante, embora rara,
          mantém-se  a  complicação  mais  grave  e  associada  a
          maior morbi-mortalidade.
          Por  todos  os  motivos  acima  referidos,  alerta-se  o
          especialista de ORL para a importância do diagnóstico
          precoce (baseado na clínica e, eventualmente, métodos
          de  imagem)  e  tratamento  médico-cirúrgico  adequado



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