Page 34 - Revista SPORL - Vol 59. Nº2
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inspeção  das  cavidades  no  pós  operatório  permitindo   MATERIAL E MÉTODOS
          assim uma optimização dos resultados. 1,4         Este  estudo  observacional  retrospectivo  transversal
          A primeira classificação realizada acerca das abordagens   descritivo  foi  conduzido  no  departamento  de
          endoscópicas do seio frontal foi descrita por Wolfgang   Otorrinolaringologia  do  Hospital  Santa  Maria  –  Centro
          Draf em 1991, diferenciando a sinusotomia frontal em   Hospitalar  Universitário  Lisboa  Norte  desde  1  de
          tipo 1, 2a, 2b e 3. A técnica de Lothrop modificada ou   Setembro  de  2017  a  31  Dezembro  de  2019.  Foram
          sinusotomia  frontal  Draf  3  é  uma  sinusotomia  frontal   recolhidas informações de todos os doentes submetidos
          alargada,  que  tem  por  objectivo  estabelecer  um  novo   a cirurgia de sinusotomia frontal Draf 3.
          ostium amplo e medial que incorpora ambos os recessos   Foram selecionados para esta cirurgia todos os doentes
          frontais  e  que  alarga  a  comunicação  frontonasal.    A   com  necessidade  de  realização  de  uma  sinusotomia
          técnica cirúrgica envolve a remoção da porção superior   frontal  alargada,  dada  a  extensão  e  complexidade  da
          do  septo  nasal,  do  bico  do  frontal,  do  pavimento  de   patologia subjacente ou dado a necessidade de revisão
          ambos os seios frontais e do septo interfrontal. 1,3,5  cirúrgica após realização de sinusotomias frontais prévias
          Após  o  desenvolvimento  e  aperfeiçoamento  desta   menos  alargadas  e  que  não  permitiram  o  controlo  da
          técnica,  esta  tem  sido  cada  vez  mais  utilizada  para  a   doença.  Para  além  do  critério  da  gravidade  da  doença
          resolução  de  patologias  complexas  do  seio  frontal,   que justificasse a realização deste tipo de cirurgia foram
          nomeadamente  em  casos  de  rinossinusite  crónica   tidos em conta critérios anatómicos através da avaliação
          recidivante  não  responsiva  a  tratamento  médico  e/ou   imagiológica  por  tomografia  computorizada  e  através
          sinusotomias frontais tipo 1 e 2. 1,3             de  avaliação  endoscópica  pré-operatória,  de  modo  a
          Para  além  da  resolução  de  patologia  do  seio  frontal,   perceber  se  a  cirurgia  era  anatomicamente  exequível,
          esta  técnica  constitui  uma  importante  via  de  acesso  à   sem  necessidade  de  complemento  com  abordagem
          base  do  crânio  anterior,  evitando  abordagens  externas   externa.
          craniofaciais e abordagens transcranianas. 1      Todos os doentes foram então submetidos a uma história
          Nos últimos anos têm-se verificado avanços significativos   clínica detalhada, exame otorrinolaringológico completo,
          ao nível de equipamento e tecnologia associada à cirurgia   avaliação endoscópica nasal após descongestionamento
          endoscópica endonasal, nomeadamente em termos de   nasal e exames de imagem do território nasosinusal e/ou
          neuronavegação intra-operatória e novos instrumentos   cranioencefálico, de modo a validar a indicação cirúrgica
          cirúrgicos,  que  permitem  um  aperfeiçoamento  da   para uma sinusotomia frontal alargada.
          cirurgia  com  melhores  resultados.  Do  ponto  de  vista   Onze  doentes  foram  incluídos.  Foram  recolhidos
          de  técnica  cirúrgica  têm  sido  também  crescentemente   dados  demográficos,  antecedentes  patológicos  de
          usados  e  desenvolvidos  novos  enxertos  e  retalhos   relevo  (asma,  polipose  nasal),  antecedentes  cirúrgicos,
          mucosos  para  cobrir  o  osso  exposto  e  que  permitem   hábitos  tabágicos,  comorbilidades  associadas  (alergias,
          uma  melhor  cicatrização  e  menores  taxas  de  estenose   hipersensibilidade aspirina, trauma craniofacial prévio),
          pós-operatória. 3,4                               sintomatologia  pré  e  pós-operatória  (obstrução  nasal,
          A sinusotomia frontal Draf 3 tem substituído largamente   rinorreia,  alterações  olfacto,  epistáxis  e  cefaleias/dor
          as abordagens externas craniofaciais, estando associada   facial),  indicações  cirúrgicas,  evolução  clínica,  achados
          a  uma  elevada  eficácia,  reduzida  morbilidade,  menor   endoscópicos  e  a  presença  de  complicações  pós-
          tempo  de  hospitalização,  menor  dor  pós-operatória   operatórias. Foi ainda realizado, após convocatória dos
          e  ausência  de  deformidades  estéticas.   Assim,  tem-se   doentes, um inquérito de sintomas nasais validado para
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          afirmado  como  gold  standard  na  revisão  cirúrgica  de   a  língua  portuguesa  (SNOT22)  relativo  ao  período  pré-
          patologia  crónica  recidivante  do  seio  frontal  e  como   operatório  e  relativo  aos  3  meses  após  a  cirurgia,  de
          cirurgia  primária  em  patologias  mais  complexas,  como   modo a perceber o impacto da cirurgia na sintomatologia
          mucocelos e tumores. 1,4                          e qualidade de vida do doente.
          A eficácia a longo prazo desta técnica não está ainda bem   A  análise  estatística  dos  dados  do  inquérito  SNOTT22
          caracterizada, com taxas de sucesso variáveis na literatura,   foi realizada através do SPSS (Statistical Package for the
          devido à técnica cirúrgica que varia entre cirurgiões, mas   Social Sciences - versão 23.0 IBM Corporate, Armonk, NY,
          também devido às diferenças na população dos doentes   USA). Foi realizado o teste de Wilcoxon para comparar
          operados. 1,3                                     o score do inquérito de sintomas nasais SNOT22 entre
          Este artigo tem como principal objectivo avaliar a eficácia   o período pré-operatório e 3 meses após a cirurgia. O
          e  segurança  da  técnica  de  sinusotomia  frontal  Draf  3,   p<0,05 é considerado estatisticamente significativo.
          de modo a validar a sua indicação como primeira linha   Para revisão da literatura foi utilizado o motor de pesquisa
          em  casos  selecionados  de  patologia  complexa  do  seio   da PubMed com as palavras: Draf 3 e frontal sinusotomy.
          frontal, substituindo na maioria dos casos as abordagens   Foram seleccionados artigos científicos em língua inglesa
          cirúrgicas externas.                              e  publicados  nos  últimos  10  anos,  sendo  escolhidos
                                                            pela  sua  relevância,  a  qualidade  da  informação  e  os
                                                            departamentos que as publicaram. Foram privilegiados
                                                            artigos de revisão sistemática e meta-análises.


      112  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
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