Page 29 - Revista SPORL - Vol 59. Nº2
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significativo  na  integridade  da  plastia  ao  fim  de  6   ouvido médio 6 meses após cirurgia, a taxa de sucesso
          meses:  aproximadamente  70%  dos  que  realizaram   cai para 55%. Em outras séries na população pediátrica
          adenoidectomia  encerraram  e  88%  dos  que  não   esta tendência mantém-se e nos adultos a aquisição de
          realizaram adenoidectomia encerraram (p=0.16).    uma membrana timpânica intacta e sem imperfeições
          A existência de otorreia intra-operatoriamente ou nos   (bolsas de retração ou lateralização do enxerto) ocorre
          3  meses  anteriores  à  cirurgia  ocorreu  em  8  casos.  A   em  70%  dos  casos,  enquanto  que  a  melhoria  dos
          presença de otorreia não teve impacto estatisticamente   limiares auditivos ocorre em cerca de 67.2% 15,16,17 .
          significativo no sucesso no encerramento da perfuração:   No  nosso  estudo,  desconsiderando  os  normouvintes,
          75% dos ouvidos secos encerraram e 87% dos ouvidos   o gap ósseo-aéreo médio pós-operatório foi de 15 dB
          com otorreia encerraram (p=0.66).                 (±8DP) e o número médio de decibéis ganhos do gap
          O  material  de  enxerto  usado  nestas  cirurgias  foi   aéreo-ósseo foi 9dB (±9DP). Na literatura o gap aéreo-
          fáscia temporal, pericôndrio com cartilagem tragal ou   ósseo médio pós-operatório varia entre 6,8 e 18 dB o
          pericôndrio isolado. 91% dos ouvidos encerrados com   que vai de encontro aos resultados do nosso estudo .
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          pericôndrio + cartilagem tragal cumpriram o outcome   No entanto, a maioria dos estudos reporta os resultados
          primário, 85% dos encerrados com pericôndrio também   audiométricos  de  forma  inconsistente .  Seguindo  as      ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
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          e  73%  dos  ouvidos  encerrados  com  fáscia  temporal   indicações  da  Academia  Americana,  os  resultados
          também,  não  sendo  a  diferença  estatisticamente   audiométricos  foram  apresentados  como  a  média  do
          significativa (p=0.46).                           gap  aéreo-osseo  pós-operatório  e  número  médio  de
          Avaliamos também o impacto do material de enxerto   decibéis ganhos ou perdidos do gap aéreo-ósseo .
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          no  gap  aéreo-ósseo.  Constatou-se  que  a  média  do   A idade ideal para a timpanoplastia é controversa. Alguns
          gap  aéreo-ósseo  nos  ouvidos  em  que  foi  colocada   autores recomendam esperar até aos 6 anos , 7 anos
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          cartilagem com pericôndrio tragal foi 11.3 dB (±1.4 DP),   ou 8 anos  ou então a partir dos 9 , 10  ou 12 anos .
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          fáscia temporal foi 17,2 dB (±2 DP) e pericôndrio foi 8.1   Apesar das discrepâncias é geralmente aceite aguardar
          dB (±1.6 DP). A diferença entre o gap aéreo-ósseo nos   até aos 6 anos para realizar a timpanoplastia . O nosso
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          ouvidos  com  fáscia  por  comparação  aos  com  enxerto   estudo  não  identificou  diferença  estatisticamente
          de  pericôndrio  é  estatisticamente  significativa,  com   significativa  entre  o  grupo  de  crianças  com  menos
          superioridade do enxerto com pericôndrio (P=0.005).  de  12  anos  e  o  grupo  de  adolescentes  (13-18  anos).
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          DISCUSSÃO                                         recentes  o  que  pode  representar  uma  alteração  da
          A  taxa  de  encerramento  da  perfuração  após   indicação  para  cirurgia  em  idades  precoces 10,25 .  De
          timpanoplastia em idade pediátrica tem sido reportada   fato,  a  criança  mais  jovem  da  nossa  amostra  tinha  7
          como sendo inferior à dos adultos . Publicações recentes   anos, o que aponta para uma mudança de paradigma
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          colocam a taxa de sucesso nos adultos à volta dos 90%,   após a recomendação de estudos antigos de atrasar a
          enquanto  que  uma  metanálise  de  timpanoplastia  em   realização da timpanoplastia para idades mais tardias,
          idade pediátrica de 2015 reporta taxas de encerramento   nomeadamente  após  os  6  anos,  alterando  a  natureza
          de  83.4% 10,12,13 .  Nessa  metanálise,  a  taxa  de  sucesso   dos  casos  do  grupo  mais  jovem  que  têm  idades
          reportada é inferior à descrita por Vrabec JT em 1999 .   superiores àquelas das coortes do passado.
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          Seria de esperar que com a melhoria dos cuidados de   O  estado  do  ouvido  contralateral  pode  considerar-se
          saúde ao longo dos anos a eficácia da timpanoplastia   uma medida indireta da função da trompa de Eustáquio
          fosse  superior.  Este  fenómeno  poderá  dever-se  ao   bilateralmente . No nosso estudo, a presença de OME,
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          método rigoroso de seleção de casos e ao cumprimento   atelectasia  ou  perfuração  no  ouvido  contralateral
          de tempos mínimos de seguimento. De facto, a maioria   afetou  negativamente  a  integridade  da  plastia  ao
          dos autores aconselham a avaliação da integridade da   fim  de  6  meses.  Na  literatura,  têm  sido  reportado
          plastia  ao  fim  de  pelo  menos  6  meses  e  idealmente   frequentemente  esta  relação  e  aconselhado  aguardar
          ao fim de 12 meses, pois um número significativo de   a resolução da OME no ouvido contralateral antes de
          falências parece ocorrer após 1 ano 4,14 . No nosso estudo   submeter a criança a timpanoplastia 10,25 .
          a integridade da plastia ao fim de 6 meses foi atingida   No  nosso  estudo,  não  foi  encontrada  relação
          em 38 ouvidos ou seja 79.2%, inferior ao reportado por   estatisticamente significativa entre o encerramento da
          Hardman J (2015) . Apenas 16 ouvidos foram avaliados   perfuração e a sua localização, tamanho ou etiologia.
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          aos 12 meses, pelo que as conclusões a tirar em relação   Alguns  estudos  sugerem  que  perfurações  anteriores
          à taxa de falência tardia são limitadas.          terão  menos  chance  de  sucesso  pela  reduzida
          A  timpanoplastia  tem  como  objetivo  adquirir  uma   vascularização  nessa  área,  no  entanto  a  maioria  da
          membrana  timpânica  intacta  e  melhorar  os  limiares   evidência  científica  aponta  para  ausência  de  efeito .
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          auditivos.  Quando  incorporamos  os  outros  fatores  na   Pelo contrário, a literatura atual admite que o tamanho
          definição de sucesso cirúrgico, o ganho no mínimo de   da  perfuração  tem  influência  na  taxa  de  sucesso  de
          10dB  de  gap  aéreo-ósseo  ou  preservação  da  audição   encerramento  da  perfuração  quando  comparadas
          em caso de normouvintes e o arejamento adequado do   perfurações  com  >50%  de  área  com  <50%  de  área  e


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