Page 34 - Revista SPORL - Vol 58. Nº2
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crónica (diagnosticado em 2004, em seguimento pela        FIGURAS 1 e 2
Hematologia) e arritmia cardíaca não especificada,        Tomografia computorizada, vista axial, neoplasia da glândula
hipocoagulado. Observado regularmente em                  parótida direita
Dermatologia, havia realizado múltiplas biópsias
excisionais em diferentes localizações, com diagnóstico   Em consulta de controlo 3 semanas após o
histopatológico prévio de carcinoma espinhocelular        procedimento, o processo cicatricial da ferida
invasor bem diferenciado na região parotídea cutânea      operatória não apresentava particularidades. O doente
direita (1,7 cm de diâmetro máximo, novembro de           foi encaminhado para consulta de Decisão Terapêutica
2017).                                                    de Grupo, mas acabou por falecer no seu domicílio,
O doente é encaminhado para observação pelo               vítima de paragem cardiorrespiratória de causa não
grupo de Cirurgia de Cabeça e Pescoço em janeiro de       identificada, não tendo realizado qualquer terapia
2019 após desenvolvimento de tumefação na região          complementar.
parotídea direita, de crescimento lento, indolor, sem
flutuação à palpação, aderente ao plano profundo,
sem evidência de lesão cutânea de novo, subjacente
à pequena cicatriz de cirurgia dermatológica prévia.
Foi submetido a PAAF cujo resultado foi inconclusivo.
A TAC maxilo-facial efetuada descrevia, no estudo
da glândula salivar parotídea direita, uma lesão
expansiva de matriz homogénea, que demonstrava
cerne hipodenso (líquido) e escasso tecido periférico
de densidade similar ao músculo nas aquisições sem
contraste – apresentava bordos lisos e uma interface
definida com tecido glandular e cutâneo adjacente; a
sua posição anatómica foi considerada o lobo superficial
da glândula parótida. A lesão captava contraste na sua
periferia. Do ponto de vista radiológico, era sugestiva
de tumor de Warthin. Nas figuras 1 e 2 podem ser
observadas as características imagiológicas da lesão.
Nas figuras 3-5, a partir de reconstrução tridimensional
de tomografias computorizadas realizadas, é possível
apreciar a localização da neoplasia e a sua relação com
as estruturas adjacentes.
O doente foi proposto para parotidectomia superficial.
À data da cirurgia apresentava alteração ligeira da
coloração cutânea na região mais proeminente
da tumefação, então violácea. Foi submetido a
parotidectomia superficial (com preservação do nervo
facial), com exérese parcial da cartilagem do canal
auditivo externo e do retalho cutâneo adjacente ao
tumor, com encerramento direto.
O estudo anatomopatológico da peça (parotidectomia
direita parcialmente revestida por retalho cutâneo
semilunar rosado e ligeiramente retraído) revelou
uma neoplasia epitelial maligna de crescimento
infiltrativo, de tipo anexial cutâneo, compatível com
porocarcinoma écrino, com 2,1 cm de maior eixo, que
atingia uma espessura de invasão de 1 cm, infiltrando
multifocalmente a parótida superficial (figuras 6-8).
Após o diagnóstico, o doente realizou TAC toraco-
abdominal que, para além de alterações compatíveis
com os seus antecedentes hematológicos, revelou a
presença de duas formações com densidade em vidro
despolido nos corpos vertebrais de L4 e L5 com 13 e
25 mm, não revelando metastização imagiologicamente
inequívoca, regionalmente ou à distância.

82 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
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