Page 16 - Revista SPORL - Vol 57. Nº4
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INTRODUÇÃO dos cornetos inferiores);
A rinossinusite crónica (RSC) é uma doença muito frequente, •controlo da doença: considerou-se doença “controlada”
com uma incidência que varia entre 2% e 15,5% dependendo quando o doente não reportava sintomas e não apresentava
da série consultada1. No maior estudo realizado em europeus alterações mucosas; “parcialmente controlada” quando
foi apontada um incidência de 10,9%2. É consensual que aos reportava um sintoma ou se identificavam alterações
doentes que não melhoram com terapêutica médica máxima mucosas; “não controlada” quando era reportados pelo
deve ser oferecida cirurgia1. Esta, apesar de frequentemente menos dois sintomas ou um sintoma e alterações mucosas
realizada, tem uma taxa de recorrência pós-operatória muito (baseado na classificação de controlo proposta por Tao et al
elevada (30-50%)3. Do ponto de vista dos autores, é necessário (2018)3; avaliou-se o controlo precoce (< 12 meses) e controlo
encontrar modelos preditores de gravidade e evolução tardio (> 12 meses);
da doença de forma a selecionar os melhores candidatos
cirúrgicos e adaptar as expectativas destes ao resultado da •tempo de follow-up;
cirurgia.
•eosinofilia sanguínea pré-operatória e tecidular na peça
Estes modelos são, no entanto, raros. Tao et al3 desenvolveram operatória (classificação qualitativa da eosinofilia: ausentes;
em 2018 um modelo preditor de não controlo pós-operatório presentes, mas não predominantes; predominantes).
da RSC. Este baseia-se na eosinofilia sanguínea, eosinofilia
tecidular e no score de Lund-Mackay (sLM)4 da Tomografia A análise estatística foi realizada com recurso ao software IBM
Computorizada (TC) pré-operatória. Com isto, os autores SPPS Statistics 25®. O teste qui-quadrado foi utilizado para
criaram dois tipos de score (clínico e patológico) e relacionaram estudar a associação de variáveis categóricas; na análise de
de forma estatisticamente significativa os resultados obtidos variáveis contínuas, utilizou-se o coeficiente de correlação
com o controlo pós-operatório da doença. de Spearman para estudar a relação entre duas variáveis, o
teste-t para estudar diferenças de médias entre dois grupos
Os autores deste artigo decidiram estudar a associação entre e o teste ANOVA para grupos múltiplos. O teste de Mann-
a eosinofilia, os achados imagiológicos pré-operatórios e o Whitney U foi utilizado quando as variáveis não cumpriam
controlo da RSC numa população portuguesa, bem como critérios de normalidade. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado
testar a aplicação do modelo preditivo desenvolvido por Tao para variáveis não paramétricas. Foi realizada uma regressão
et al. (2018)3. logística para análise multivariada. Considerou-se um valor de
p<0,05 para identificar significância estatística.
MATERIAL & MÉTODOS
RESULTADOS
Foram analisados retrospetivamente todos os doentes Os autores incluíram 104 doentes (104 cirurgias) neste estudo.
submetidos a CENS no Centro Hospitalar de Vila Nova de A caracterização da amostra está representada na tabela 1.
Gaia/Espinho no período compreendido entre 1 de Janeiro
de 2015 e 31 de Outubro de 2017. Foram incluídos no Os autores apresentam uma população portuguesa adulta
estudo os doentes submetidos a cirurgia por RSC com ou diversa, com representação de ambos os géneros e de todas
sem pólipos. Foram excluídos processos com informação as faixas etárias. Houve uma tendência para realizar cirurgia
insuficiente ou ambígua; cirurgias de revisão; Rinossinusite mais extensa nos casos de RSCcPN (54%) do que nos casos
(RS) Aguda Recorrente; RS fúngica; doentes com discinesia de RSCsPN (43%), embora sem significância estatística
ciliar primária/fibrose quística; doentes com neoplasias (p=0,316, teste qui-quadrado). As taxas de rinite alérgica
benignas/malignas do nariz, seios perinasais ou hipófise; (35%) e asma (24,3%) são relativamente superiores às
encerramentos de fístulas de LCR; encerramento de fístula referidas na literatura1–3. Registou-se um grande número
oro-antrais; mucocelos e cirurgias para controlo de epistáxis. de omissos em ambas as variáveis (aproximadamente 40%).
Não se encontraram diferenças entre as duas formas de RSC
Foram registadas as seguintes variáveis: relativamente à percentagem de doentes com rinite (44% na
RSCsPN vs 33% na RSCcPN, p=0,408, teste qui-quadrado) ou
•dados demográficos: idade, género, hábitos tabágicos, asma (22% na RSCsPN vs 26% na RSCcPN, p=0,748, teste qui-
comorbilidades (exemplo: rinite, asma) quadrado). Os autores avaliaram a influência de cada variável
no controlo pós-operatório tardio (tabela 2).
•tipo de doença: RSC com (RSCcPN) ou sem pólipos (RSCsPN);
A análise univariada identificou as variáveis potencialmente
•tipo de cirurgia: CENS limitada (antrostomia e etmoidectomia modificadoras do controlo pós-operatório tardio: género, rinite
anterior) ou CENS extensa (com etmoidectomia posterior, alérgica e controlo pós-operatório precoce. Relativamente
esfenoidotomia e/ou sinusotomia frontal, uni/bilateral, com/ ao género, constatou-se a existência de um maior rácio de
sem septoplastia. A abordagem cirúrgica foi modelada pela doentes do sexo masculino com doença controlada (72%) em
sintomatologia do doente, achados na TC dos seios peri- comparação com género feminino (53%) – p = 0,030, teste qui-
nasais (SPN) pré-operatória e achados cirúrgicos quadrado. Nos doentes com rinite alérgica, a percentagem de
doentes controlados (48%) foi menor do que nos doentes sem
•sintomatologia: obstrução nasal, rinorreia anterior/posterior, doença (75%) – p = 0,012, teste qui-quadrado.
cefaleia/sensação de peso sinusal, hipo/anósmia)
•características da TC SPN pré-operatória: sLM, score
etmoido-maxilar (score E/M), ocupação do complexo osteo-
infundibular (COI), ocupação da fenda olfativa (FO), hipertrofia
146 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO

