Page 19 - Revista SPORL - Vol 57. Nº4
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por subpopulações (RSCcPN e RSCsPN). Na análise do controlo     DISCUSSÃO                                                                  ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
a longo prazo, não se encontrou associação com a eosinofilia
sanguínea, independentemente da subpopulação utlizada           A população estudada neste estudo é representativa de ambos
(RSC, RSCcPN e RSCsPN: p=0,782, p=0,785, p=0,855, no teste      os géneros, incluindo doentes adultos de todas as faixas
de ANOVA, respetivamente). Encontrou-se, contudo, uma           etárias. Os resultados obtidos relativamente à sintomatologia
associação positiva entre a eosinofilia tecidular e o controlo  reportada são sobreponíveis aos reportados na literatura.
a longo prazo, mas apenas na RSCcPN (p=0,021, teste Kruskal-    Os autores reportam taxas de rinite e asma ligeiramente
Wallis).                                                        superiores ao descrito na literatura; tal pode justificar-se pelo
                                                                elevado número de omissos em ambas as variáveis podendo
Na análise multivariada (tabela 2), os autores elaboraram       assim representar um viés de seleção.
um modelo preditor do controlo pós-operatório com base
nas três variáveis com significância estatística: género,       Tendo em consideração os resultados encontrados neste
rinite alérgica e controlo pré-operatório. O modelo obtido      estudo, os autores assumem que o sLM é um marcador de
revelou-se estatisticamente significativo (p<0,001) mas com     doença mais importante nas formas polipoides (onde por
coeficiente de determinação baixo (r2 Cox & Snell = 0,283).     norma é superior). Na RSCsPN não estima tão eficazmente a
A adição das variáveis “sLM”, “score E/M” e “eosinofilia        severidade da doença. A associação entre o sLM e o controlo
tecidular”, reforçaram o coeficiente de determinação do         pós-operatório apenas se verificou na RSCcPN, e mesmo neste
modelo (r2 Cox & Snell = 0,783) sem lhe retirar significância   grupo sem atingir significância estatística. Assim, este estudo
estatística (p<0,001). A inclusão da eosinofilia sanguínea      não corrobora a utilização do sLM como preditor isolado de
retirou significância estatística ao modelo.                    controlo pós-operatório da doença na RSC.

Os autores tentaram aplicar os scores preditivos descritos      À luz da visão etiopatogénica clássica da RSC, que considera
por Tao et al. (2018)3 à população em estudo. Destes, o score   que a RSCcPN é uma doença com resposta inflamatória
patológico pressupõe a contagem do número de eosinófilos        predominantemente do tipo Th2, mediada por eosinófilos, e a
por grande campo de ampliação, em 10 campos diferentes,         RSCsPN mediada por células Th1, e portanto sem predomínio
por dois investigadores, de forma randomizada e duplamente      eosinofílico1,6,7, os autores esperavam encontrar diferenças
cega3. Após discussão com a equipa de Anatomia Patológica       entre os valores de eosinofilia sanguínea e tecidular entre as
da nossa unidade, concordou-se que esta abordagem não           duas formas de doença.
se coaduna com a prática clínica dada a sua morosidade e
ausência de padronização. Como tal, este score não pode ser     No entanto não se encontraram diferenças nos valores médios
aplicado neste estudo.                                          de eosinofilia sanguínea entre as duas formas de RSC. Mais, a
                                                                associação com sLM na TC pré-operatória apenas se verificou
Relativamente ao segundo score proposto, trata-se de um         na RSCcPN, e mesmo neste grupo a associação foi fraca e não
modelo clínico dependente da eosinofilia sanguínea e dos        estatisticamente significativa (p=0,082, r=0,21). O valor de
achados na TC pré-operatória. Os autores aplicaram esse         eosinofilia sanguínea não se revelou preditor de controlo pós-
modelo à população em estudo, obtendo os seguintes              operatório precoce ou tardio, em nenhuma das duas formas
resultados (tabela 3).                                          de RSC. A associação expectável com os valores de eosinofilia
                                                                tecidular, apenas se demonstrou nos doentes com RSCcPN.
TABELA 3
Eosinofilia tecidular em função do tipo de RSC                  Os achados deste estudo não corroboram o papel da eosinofilia
                                                                sanguínea como marcador de severidade na RSC. Além disto,
Score Tao  RSCcPN  RSCsPN                       Total           os valores de eosinofilia sanguínea não permitiram distinguir
  Ligeiro     29      17                         46             as duas formas de RSC, apesar das diferenças assumidas no
              29      10                         39             padrão de resposta inflamatória (Th1/Th2) nas duas formas
Moderado      18      1                          19             de doença. Mais, nos doentes com RSCsPN, a eosinofilia
 Elevado      76      28                        104             sanguínea não se relacionou com o marcador imagiológico
   Total                                                        de doença local (sLM no TC SPN pré-operatório) nem com
                                                                o controlo pós-operatório; por tudo isto, os autores não
Encontrou-se uma diferença estatisticamente significativa no    recomendam a utilização do valor de eosinofilia sanguínea
score Tao entre as duas formas de RSC (p=0,031, teste ANOVA),   como fator preditor isolado de severidade na RSC.
embora a análise post-hoc tenha demonstrado que esta
diferença se verificou apenas entre os dois grupos extremos:    Relativamente à eosinofilia tecidular, este estudo demonstra
“ligeiro” e “elevado” (p=0,026, teste de Bonferroni). Não se    que esta é claramente superior na população com doença
verificaram diferenças no controlo pós-operatório precoce ou    polipoide em relação à não polipoide (ver gráfico 2), como
tardio entre os grupos definidos pelo score de Tao. Os autores  esperado tendo em conta o predomínio de resposta Th2 nesta
repetiram esta análise reconfigurando os valores de cut-off     população. Além disto, a eosinofilia tecidular relacionou-se
propostos por Tao, substituindo-os pelos valores da mediana     com o sLM pré-operatório independentemente do tipo de
da eosinofilia sanguínea da nossa população. Neste modelo       RSC analisado. Esta facto constitui um elo importante entre
adaptado, os resultados repetiram-se, não se encontrando        a carga inflamatória “imagiológica”, sugerida pelo sLM, e a
diferenças entre os grupos (p=0,492, teste ANOVA).              carga inflamatória “histológica”, inferida a partir da eosinofilia
                                                                tecidular. Por último, este estudo demonstrou também uma
                                                                associação entre a eosinofilia tecidular e o controlo pós-

                                                                                                         VOL 57 . Nº4 . DEZEMBRO 2019 149
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