Page 16 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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Outra simplificação que igualmente majora a passagem trabalhos anteriores com modelos (11,12,13,14) .
de água no nosso modelo foi considerar um ouvido Todavia, quando estudámos condições de submersão,
saudável, sem disfunção tubária e sem edema mucoso com aumento de pressão em ambos os lados da
ou derrame mucóide a ocupar a cavidade timpânica. tuba auditiva, não encontrámos passagem de água
Assim, no nosso modelo a entrada de água é favorecida através do tubo transtimpânico. Estes achados são
nas simulações à superfície, mas não em profundidade, concordantes com os estudos de exposição a água em
já que nesta situação a tuba não abre de qualquer crianças, mas não em modelos (7,21,22,23) , incluindo um
forma, por não se atingir gradiente de pressão. estudo retrospectivo nosso aceite para publicação ,
(24)
Não contemplámos situações pouco frequentes, em que sistematicamente não se encontrou diferença
situações limite ou situações não fisiológicas. Não importante na incidência de episódios de otorreia em
estudámos submersão superior a um metro, por crianças operadas que tenham tubos transtimpânicos,
ser excepcional na infância, mas o mecanismo com vs. sem cuidados de protecção.
determinante para a passagem de água através do
tubo transtimpânico que encontrámos (i.e., a abertura CONCLUSÃO
espontânea da tuba auditiva por gradiente de pressão Este modelo permite estudar a exposição à água de
superior aos 3550 Pa) e o facto de termos constatado forma mais próxima da realidade e mais completa que
que em submersão a pressão se estabelece igualmente os modelos até agora publicados.
em ambas as extremidades da tuba, levam a pensar Simulando a submersão, não documentámos passagem
que serão precisas profundidades prolongadas muito de água no tubo transtimpânico para a cavidade
superiores a um metro para aumentar de tal forma a timpânica, concordando com resultados de estudos
pressão que, comprimindo o ar nas cavidades, o leve a anteriores, que apontam para não ser necessária
diminuir de volume e a permitir que a água atravesse protecção do ouvido.
o tubo. Este trabalho contribui para o esclarecimento de um
Não estudámos igualmente situações em que a tuba abre tema controverso em tempos recentes, e disponibiliza
activamente, como durante a deglutição. No entanto, um modelo inovador, para estudo de fluidos no ouvido
empiricamente, consideramos que as crianças (ou os externo e médio. É um trabalho translacional, só possível
adultos) não deglutem nem bocejam nem vocalizam por uma franca cooperação entre os investigadores
durante a apneia, o que nos permite considerar que a médicos e engenheiros, que todos desejamos que
abertura activa da tuba durante a apneia em submersão venha a ser mais comum num futuro próximo.
é uma situação muito excepcional. Ainda assim, mesmo
que tal suceda, a pressão no lado faríngeo será igual ao Observações
lado timpânico, pelo que não deverá haver passagem Parte do trabalho foi apresentado em formato de
de ar relevante. Situação diferente será o caso de ser comunicação livre, no 64º Congresso da Sociedade
efectuada manobra de Valsalva (sem importância no Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-
nosso caso, por ser favorável por empurrar a água para Facial, no dia 7 de Maio de 2017, em Viana do Castelo.
fora), ou de Toynbee (que favoreceria a entrada de
água); qualquer uma destas manobras são excepcionais Protecção de pessoas e animais
nestas idades. Os autores declaram que os procedimentos seguidos
No entanto, apesar estas limitações, o modelo CFD estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos
que desenvolvemos é mais completo e próximo da pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica
realidade e consequentemente clinicamente mais e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da
pertinente do que todos os modelos apresentados por Associação Médica Mundial.
outros autores (11,12,13,14) , por considerar uma anatomia
do canal extraída da real, com as suas irregularidades Confidencialidade dos dados
de superfície, as suas curvas e estreitamentos, Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro
que dificultam a progressão da onda líquida e por de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes.
considerar um ouvido pediátrico, com uma membrana
com a sua obliquidade natural. Finalmente, a Conflito de interesses
inclusão do mecanismo de escape da tuba, com a sua Os autores declaram não ter nenhum confito de
abertura espontânea, é uma inovação importante (e interesses relativamente ao presente artigo.
determinante, na nossa opinião) na construção de
modelos para estes estudos. Fontes de financiamento
Assim, quando estudámos o aumento de pressão Não existiram fontes externas de financiamento para a
no canal auditivo sem aumento correspondente na realização deste artigo.
nasofaringe (simulando pressão aumentada sem
submersão), observámos passagem de água através do
tubo transtimpânico com pressões menores do que nos
78 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

