Page 15 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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uma  cavidade  timpânica  com  dimensões  diminutas,   FIGURA 7
          e uma tuba auditiva funcionante), onde deveriam ser   Mecanismos de transmissão do aumento de pressão ambiente
          colocados sensores que não perturbassem a dinâmica   à tuba auditiva. Directamente por via aérea pelo canal auditivo
          dos seus fluidos, e acoplado um mecanismo de escape   externo, tubo transtimpânico e cavidade timpânica; directamente
          de ar com as características da tuba auditiva. Construir   pela fossa nasal e nasofaringe; e indirectamente pelo aumento de
                                                            pressão intersticial em todo o organismo, até às paredes da tuba.
          este modelo é na nossa realidade uma tarefa intangível,
          pelo  que  considerámos  aceitável  recorrer  ao  modelo
          multifásico de CFD.
          Estes modelos de CFD têm sido sobejamente utilizados
          em  diversos  estudos  anteriormente  publicados,  em
          particular sobre fluxos nas vias aéreas (15,16,17) . No entanto,
          não temos conhecimento de nenhum estudo que tenha
          recorrido  a  CFD  para  o  estudo  dos  ouvidos  externo
          ou  médio.  Nesse  sentido,  este  trabalho  é  inovador  e
          conseguiu construir um modelo que fica disponível para                                                   ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE     ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
          futuros estudos já planeados.
          Quando  comparado  com  os  modelos  descritos  em
          estudos anteriores (11,12,13,14) ,  o  modelo  apresentado
          revela-se  mais  adequado  ao  estudo  da  submersão
          porque  considera  o  aumento  de  pressão  ao  nível  da
          nasofaringe, condição que influencia significativamente
          a facilidade de passagem de água através de um tubo   que conduza à abertura espontânea da tuba. Torna-se
          transtimpânico.  Quando  uma  criança  mergulha,  a   assim lícito pensar que, em situações em que persista
          pressão ambiente aumenta e transmite-se igualmente   a  disfunção  tubária  (que  serão  muitas  das  crianças
          tanto  ao  canal  auditivo  externo  (e  daqui,  através  do   com  tubo  transtimpânico)  o  aumento  de  pressão  no
          tubo  transtimpânico,  à  cavidade  timpânica)  como  à   canal auditivo externo não será suficiente para levar à
          nasofaringe (através das fossas nasais) por princípio de   passagem de água.
          vasos comunicantes. Além deste mecanismo, a pressão   O modelo desenvolvido apresenta várias limitações em
          aumenta igualmente em todos os tecidos do organismo   relação ao ouvido real.
          e  transmite-se  indirectamente  às  paredes  da  tuba   Por  um  lado,  o  nosso  modelo  foi  construído  a  partir
          (Figura 7). É este aumento de pressão nasofaríngeo que   de  imagens  de  um  único  ouvido.  Sabendo-se  que  a
          limita a abertura da tuba e o escape de ar da cavidade   anatomia do ouvido é variável, sobretudo na população
          timpânica, o que o que por sua vez impede a passagem   pediátrica,  poderá  ser  questionada  a  pertinência  da
          da agua para a região medial do canal auditivo externo.  generalização  dos  resultados  obtidos.  No  entanto,  e
          Nenhum  dos  modelos  anteriormente  utilizados,  entre   sem  prejuízo  de  posteriormente  virmos  a  modelar
          os  quais  os  mais  citados  publicados  por  Pashley   (12)  e   outras  dimensões  ou  anatomias  possíveis,  o  que
          Herbert   (11) ,  contempla  este  mecanismo  de  aumento   concluímos  com  este  modelo  leva-nos  a  crer  que  o
          da  pressão  nasofaríngea.  O  mais  completo,  o  modelo   factor determinante na passagem da água não será a
          de Herbert  (11) , recorre a um molde de cabeça adulta,   dimensão do canal, mas antes a inclusão do mecanismo
          no interior do qual é instalado um canal auditivo (um   de escape tubário.
          cilindro regular) no fundo do qual é perpendicularmente   Por  outro  lado,  não  inclui  o  cerúmen,  nem  o  filme
          colocada  uma  membrana  com  um  tubo,  para  dentro   hidrofóbico que cobre a pele do canal e a superfície do
          da  qual  é  colocado  um  sensor.  Neste  modelo  não   tubo. Estas limitações do modelo favorecem a passagem
          existe nenhum mecanismo de transmissão da pressão   de água, e isso deve ser tido em consideração quando
          ambiente,  nem  tampouco  um  mecanismo  de  escape   interpretamos os resultados.
          semelhante  à  tuba  auditiva.  Assim,  é  uma  simulação   Uma  abstracção  do  modelo  que  majora  a  passagem
          incompleta do que se passa na realidade, limitação que   de água em relação ao modelo de Herbert é o facto de
          é ultrapassada no nosso modelo.                   utilizarmos como limiar a simples presença de água na
          Os  modelos  anteriores  podem  ser  adequados  para   cavidade timpânica, e não a presença de água suficiente
          estudar a situação do aumento localizado de pressão no   para activar um sensor. Isto poderá em parte justificar
          ouvido externo enquanto não há submersão, mas não   a  diferença  que  encontramos  em  comparação  com
          servem para simular uma situação de submersão.    aquele  estudo,  em  que  Herbert  detectou  passagem
          A consideração da pressão ao nível da nasofaringe no   relevante  de  água  apenas  em  pressões  equivalentes
          nosso  modelo  foi  determinante  para  os  resultados   a  profundidades  superiores  a  50  cm,  enquanto  nós
          obtidos. Foi esta variável que nos permitiu concluir que   encontramos  uma  passagem  franca  muito  precoce  e
          a  submersão  a  menos  de  um  metro  de  profundidade   logo aos 30 cm de profundidade equivalente.
          não é suficiente para atingir um gradiente de pressão

                                                                                       VOL 55 . Nº2 . JUNHO 2017 77
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