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uma cavidade timpânica com dimensões diminutas, FIGURA 7
e uma tuba auditiva funcionante), onde deveriam ser Mecanismos de transmissão do aumento de pressão ambiente
colocados sensores que não perturbassem a dinâmica à tuba auditiva. Directamente por via aérea pelo canal auditivo
dos seus fluidos, e acoplado um mecanismo de escape externo, tubo transtimpânico e cavidade timpânica; directamente
de ar com as características da tuba auditiva. Construir pela fossa nasal e nasofaringe; e indirectamente pelo aumento de
pressão intersticial em todo o organismo, até às paredes da tuba.
este modelo é na nossa realidade uma tarefa intangível,
pelo que considerámos aceitável recorrer ao modelo
multifásico de CFD.
Estes modelos de CFD têm sido sobejamente utilizados
em diversos estudos anteriormente publicados, em
particular sobre fluxos nas vias aéreas (15,16,17) . No entanto,
não temos conhecimento de nenhum estudo que tenha
recorrido a CFD para o estudo dos ouvidos externo
ou médio. Nesse sentido, este trabalho é inovador e
conseguiu construir um modelo que fica disponível para ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
futuros estudos já planeados.
Quando comparado com os modelos descritos em
estudos anteriores (11,12,13,14) , o modelo apresentado
revela-se mais adequado ao estudo da submersão
porque considera o aumento de pressão ao nível da
nasofaringe, condição que influencia significativamente
a facilidade de passagem de água através de um tubo que conduza à abertura espontânea da tuba. Torna-se
transtimpânico. Quando uma criança mergulha, a assim lícito pensar que, em situações em que persista
pressão ambiente aumenta e transmite-se igualmente a disfunção tubária (que serão muitas das crianças
tanto ao canal auditivo externo (e daqui, através do com tubo transtimpânico) o aumento de pressão no
tubo transtimpânico, à cavidade timpânica) como à canal auditivo externo não será suficiente para levar à
nasofaringe (através das fossas nasais) por princípio de passagem de água.
vasos comunicantes. Além deste mecanismo, a pressão O modelo desenvolvido apresenta várias limitações em
aumenta igualmente em todos os tecidos do organismo relação ao ouvido real.
e transmite-se indirectamente às paredes da tuba Por um lado, o nosso modelo foi construído a partir
(Figura 7). É este aumento de pressão nasofaríngeo que de imagens de um único ouvido. Sabendo-se que a
limita a abertura da tuba e o escape de ar da cavidade anatomia do ouvido é variável, sobretudo na população
timpânica, o que o que por sua vez impede a passagem pediátrica, poderá ser questionada a pertinência da
da agua para a região medial do canal auditivo externo. generalização dos resultados obtidos. No entanto, e
Nenhum dos modelos anteriormente utilizados, entre sem prejuízo de posteriormente virmos a modelar
os quais os mais citados publicados por Pashley (12) e outras dimensões ou anatomias possíveis, o que
Herbert (11) , contempla este mecanismo de aumento concluímos com este modelo leva-nos a crer que o
da pressão nasofaríngea. O mais completo, o modelo factor determinante na passagem da água não será a
de Herbert (11) , recorre a um molde de cabeça adulta, dimensão do canal, mas antes a inclusão do mecanismo
no interior do qual é instalado um canal auditivo (um de escape tubário.
cilindro regular) no fundo do qual é perpendicularmente Por outro lado, não inclui o cerúmen, nem o filme
colocada uma membrana com um tubo, para dentro hidrofóbico que cobre a pele do canal e a superfície do
da qual é colocado um sensor. Neste modelo não tubo. Estas limitações do modelo favorecem a passagem
existe nenhum mecanismo de transmissão da pressão de água, e isso deve ser tido em consideração quando
ambiente, nem tampouco um mecanismo de escape interpretamos os resultados.
semelhante à tuba auditiva. Assim, é uma simulação Uma abstracção do modelo que majora a passagem
incompleta do que se passa na realidade, limitação que de água em relação ao modelo de Herbert é o facto de
é ultrapassada no nosso modelo. utilizarmos como limiar a simples presença de água na
Os modelos anteriores podem ser adequados para cavidade timpânica, e não a presença de água suficiente
estudar a situação do aumento localizado de pressão no para activar um sensor. Isto poderá em parte justificar
ouvido externo enquanto não há submersão, mas não a diferença que encontramos em comparação com
servem para simular uma situação de submersão. aquele estudo, em que Herbert detectou passagem
A consideração da pressão ao nível da nasofaringe no relevante de água apenas em pressões equivalentes
nosso modelo foi determinante para os resultados a profundidades superiores a 50 cm, enquanto nós
obtidos. Foi esta variável que nos permitiu concluir que encontramos uma passagem franca muito precoce e
a submersão a menos de um metro de profundidade logo aos 30 cm de profundidade equivalente.
não é suficiente para atingir um gradiente de pressão
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