Page 12 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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FIGURA 3
          Vários aspectos do modelo numérico do canal auditivo externo (incluindo fossa conchal) e cavidade timpânica, após processamento em
          Blender®.
















         Recorremos  a  simplificações  necessárias  para  a   peso  molecular  de  18,0152  kg/kgmol,  viscosidade  de
         computação,  mas  sempre  no  sentido  de  majorar  a   0,001003 kg/m.s e condutividade térmica de 0,6w/m.k,
         eventual passagem de água para o ouvido médio:     e  a  densidade  calculada  pela  equação  de  módulo
         1.A  exposição  à  profundidade  teste  foi  simulada   volumétrico  (variável  conforme  a  pressão);  para  o
         como  ocorrendo  instantaneamente  e  durante  todo   ar  considerou-se  peso  molecular  de  28,966kg/kmol,
         o  teste,  sabendo  que  na  realidade  a  submersão  se   viscosidade  de  1,7894x10-5kg/m.s  e  condutividade
         inicia naturalmente à superfície e gradualmente, num   térmica  de  0.0242w/m.k,  a  temperatura  de  310k  e
         movimento parabólico, atinge a profundidade máxima,   1atm,  e  a  densidade  foi  calculada  pela  equação  dos
         para depois retornar à superfície.                 gases perfeitos. A aceleração da gravidade considerada
         2.Por  congruência  com  a  exposição  à  profundidade   foi de 9,8071 m / s2 (constante universal) .
                                                                                              20)
         teste  que  considerámos  instantânea,  considerámos   Neste modelo foi utilizado o método de volumes finitos
         também  a  abertura  instantânea  da  tuba,  imediata  ao   (FVM-Finite  volume  method)  para  fluidos,  em  que  o
         estabelecimento  do  gradiente  de  pressão,  apesar  de   volume global em estudo é discretizado em poliedros
         na  realidade  existir  um  tempo  de  latência,  que  será   de  muito  pequenas  dimensões,  sendo  as  variações
         variável  de  acordo  com  as  condições  fisiopatológicas   das  propriedades  de  massa,  energia  e  quantidade  de
         e  anatómicas  da  tuba  e  que  provavelmente  será   movimento  avaliadas  em  cada  um  destes  elementos.
         determinante  para  o  início  da  passagem  de  água  no   Deste  estudo  em  cada  elemento  emana  o  estudo  do
         tubo.                                              seu conjunto, de onde podemos compreender o volume
         3.Considerámos a ausência de elementos hidrofóbicos   global e as transferências de energia ou o movimento
         na superfície do modelo, o que dispensou a simulação   em cada parte. É um modelo robusto e preferido para
         com água saponácea.                                este  tipo  de  simulações  de  fluidos,  dado  que  impõe
         4.Optámos  por  utilizar  como  valor  de  gradiente  de   que,  em  cada  elemento,  as  propriedades  estudadas
         pressão necessário para a abertura passiva da tuba (no   obedeçam à lei da conservação. Neste programa, após
         sentido do escape faríngeo) já encontrado por outros   o cálculo de cada elemento, é produzida uma simulação
         autores,  mas  em  casos  de  função  tubária  normal,   cinemática do canal com água, em que se observa em
         ainda  que  muitas  das  crianças  que  colocam  tubos   filme o movimento sucessivo do conjunto.
         transtimpânicos tenham disfunção tubária. Adoptámos   Submetemos  então  o  modelo  a  profundidades
         assim  o  valor  daqueles  autores  de  cerca  de  3550Pa   crescentes em intervalos de 10 cm, desde os 30 cm e
         obtido por duas metodologias distintas (18,19) .   até  aos  90  cm,  e  procurámos  identificar  os  picos  em
         Neste trabalho apresentamos as medidas de pressão de   que a pressão na cavidade timpânica (e a profundidade
         acordo com o Sistema Internacional, ou seja, em pascal.   correspondente) é suficiente para provocar a abertura
         No  entanto,  para  facilitar  a  compreensão,  a  pressão   espontânea da tuba auditiva, e o tempo necessário para
         simulada  de  submersão  e  o  aumento  da  pressão  no   a água no canal alcançar a cavidade timpânica.
         canal sem submersão são indicada em cm de água, em   Simulámos também a situação de aumento de pressão
         que a pressão equivalente a 30 cm de profundidade é   de  um  canal  auditivo  externo  com  água,  mas  sem
         cerca de 2 942Pa (pascal).                         aumento  de  pressão  na  nasofaringe,  mimetizando  o
         Para  modelar  a  interacção  ar-água  no  sistema   que  acontece  se  o  canal  for  pressionado  à  superfície
         pressurizado, adoptámos o módulo de elasticidade da   da água, sem submersão, ou o que acontece com gotas
         água, e considerámos o comportamento do ar de acordo   tópicas auriculares.
         com a lei dos gases perfeitos (fase compressível) . As
                                                   20)
         propriedades dos fluidos consideradas foram igualmente   RESULTADOS
         retiradas da bibliografia : para a água correspondem   Nos testes com imersão simulada no modelo por CFD
                             (20)
         às  da  água  doce  vulgar  à  temperatura  de  20ºC,  com   nunca  se  atingiu  diferencial  de  pressão  suficiente

       74  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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