Page 10 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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was then used in the study the inflow of water, and the escape   a submersão a profundidades menos profundas que 60
         of air through the auditory tube.                  cm só raramente leva a passagem de água .
                                                                                               (11)
         Results:  the  multiphase  cFD  model  effectively  describes  the   No  entanto,  estes  modelos  da  mecânica  dos  fluidos
         progression of the fluid front in the external auditory canal, the   apresentam várias limitações na análise, em particular
         behaviour of the retained air and the air release through the   o modelo de cabeça completa (o mais próximo do real),
         auditory tube. the model also predicts under which conditions
         water crosses the tube to the middle ear.          por se tratar de um modelo de cabeça de adulto, em
         conclusions: the model confirms previously published results   que  o  canal  auditivo  é  representado  por  um  cilindro
         and can be considered adequate to study the behaviour of air   perpendicular à superfície (muito distinto de um canal
         and water retained in the external and middle ear.  natural) e em que não existe tuba auditiva. Esta última
         Keywords:  myringotomy,  tympanostomy  tubes,  water,   é  particularmente  importante,  dado  que  assim  não
         postoperative care                                 é  considerada  a  oposição  ao  escape  do  ar  timpânico
                                                            gerada  pelo  aumento  na  pressão  faríngea.  Para  que
          INTRODUÇÃO                                        a  água  no  canal  auditivo  externo  atravesse  o  tubo
         A miringotomia com implantação de tubo transtimpânico   transtimpânico é necessário que o ar comprimido pela
                                          (1)
         é  a  cirurgia  otológica  mais  frequente ,  indicada  por   entrada de água no canal auditivo externo escape pela
         diagnósticos como a otite média crónica com derrame,   tuba. Este escape só ocorre se o gradiente de pressão
         ou a otite média aguda recorrente. Esta cirurgia diminui   entre  a  caixa  timpânica  e  a  nasofaringe  aumentar  a
         em  32%  o  tempo  com  derrame  no  ano  seguinte  à   ponto  de  causar  a  abertura  passiva  da  tuba.  Sucede
         cirurgia e melhora a audição, especialmente durante os   que,  durante  a  submersão,  a  pressão  que  é  exercida
         6 primeiros meses, segundo uma revisão sistemática da   através do canal auditivo externo (e se transmite pelo
         Cochrane Library . Parece ainda minorar a incidência   tubo  transtimpânico  até  à  extremidade  timpânica  da
                        (2)
         de  otite  média  aguda  recorrente,  e  providencia  uma   tuba  auditiva)  é  a  mesma  que  se  exerce  pela  fossa
         via  de  drenagem  e  de  administração  de  terapêutica   nasal  até  à  nasofaringe  (e,  assim,  à  extremidade
         ototópica,  promovendo  uma  melhoria  significativa  da   faríngea da tuba). Nestas condições, parece-nos difícil
         qualidade de vida do paciente intervencionado (3,4) .  que  a  mera  submersão  seja  suficiente  para  obter  o
         Estes  tubos  geralmente  permanecem  no  tímpano  por   gradiente  de  pressão  necessário  para  levar  a  uma
                                                    (1)
         alguns  meses,  muitas  vezes  entre  6  a  12  meses ,  e   abertura espontânea da tuba. Assim, entendemos que
         durante este período a otorreia é a complicação mais   os  modelos  publicados  anteriormente  omitem  uma
         frequente,  com  uma  incidência  de  26  a  83% (1,5,6,7) .   variável importante, dado que consideram em todos os
         As  infecções  do  tracto  respiratório  superior  são  o   casos que a pressão no lado faríngeo permanece igual
         factor  de  risco  mais  comum  para  a  otorreia  nestas   à da superfície.
         crianças (6,7,8) .  Por  outro  lado,  a  exposição  a  água  tem   Para  ultrapassar  estas  limitações  e  analisar  estes
         sido  apontada  como  desencadeante,  e,  embora  esta   fenómenos  recorrendo  a  um  modelo  o  mais  próximo
         associação  não  seja  suportada  pela  literatura,  muitos   possível da realidade, com um canal auditivo inclinado
         otorrinolaringologistas  mantêm  a  recomendação  de   para cima e para dentro, e com dimensões pediátricas
         protecção  da  exposição  a  água  no  banho,  na  piscina   e,  sobretudo,  considerando  o  papel  da  pressão
         e na praia (5,9,10) , com utilização de tampões ou mesmo   variável  na  nasofaringe  no  escape  pela  tuba  auditiva,
         evitando as actividades aquáticas.                 desenvolvemos  uma  nova  análise  recorrendo  ao
         A  mecânica  dos  fluidos  no  interior  do  canal  auditivo   modelo  numérico  multifásico  de  dinâmica  de  fluidos
         externo, sobretudo quando o tubo transtimpânico está   computacional  (CFD).  Estes  modelos  numéricos  são
         inserido,  não  está  suficientemente  documentada  na   largamente  utilizados  e  validados  no  estudo  das  vias
         bibliografia. Quando submergimos a cabeça ou quando   aéreas  superiores (15,16,17) ,  embora  ainda  não  exista
         molhamos a cabeça no duche, por exemplo, a água só   nenhum modelo do ouvido médio ou externo publicado.
         entra no canal auditivo externo (e mais medialmente)   O  modelo  de  CFD  baseia-se  na  resolução  numérica
         se  houver  pressão  para  essa  entrada,  e  se  o  ar  que   das  equações  de  Navier-Stokes  da  continuidade  e  da
         ocupa o canal se deslocar para lhe dar lugar. A presença   conservação do momento (quantidade de movimento)
         de  um  tubo  transtimpânico  põe  em  comunicação  o   para cada fase do fluido, em relação à pressão, volume
         canal auditivo externo com a cavidade timpânica, o que   e  temperatura .  Nestes  modelos,  a  variação  de
                                                                         (20)
         permitirá o escape do ar se a tuba auditiva for aberta   pressão e volume nos líquidos é descrita pelo módulo
         por gradiente de pressão.                          volumétrico. Para os gases, e de acordo com a teoria
         Vários modelos procuraram avaliar a entrada de água   cinética dos gases, em que as partículas não apresentam
         no canal auditivo externo, e mais medialmente através   atracção  intermolecular,  o  comportamento  é  descrito
         do  tubo  transtimpânico.  Estudos  publicados  desde   pela lei dos gases perfeitos .
                                                                                  (20)
         1984 usaram modelos in vitro (12,13,14) , concluindo que é   Os  principais  objectivos  desta  análise  são:  i)  avaliar  a
         necessária pressão aumentada para atravessar o tubo.   possibilidade  de  elaborar  um  modelo  numérico  que
         Um trabalho avaliou um modelo de cabeça completa,   descreva  a  progressão  da  frente  liquida  dentro  do
         com canal auditivo externo e tímpano, e concluiu que   canal  auditivo  externo  após  submersão  da  cabeça;  ii)


       72  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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