Page 20 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 54 Nº2
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No que diz respeito às complicações pós operatórias, cirurgia da cabeça e pescoço. O seu tratamento é por isso
ocorreram em 16,5% de todas as cirurgias realizadas. desafiante e requer uma abordagem multidisciplinar.
Na maioria dos casos foram infecciosas e sucederam- Apesar das várias modalidades de tratamento descritas
se a cirurgias por via externa. Num estudo de Rubikas na literatura, não existe uma abordagem standard nesta
R. et al, que incluiu 75 doentes com ELT benignas patologia e múltiplos procedimentos são habitualmente
submetidos a ressecção e anastomose topo a topo, necessários. A escolha do tratamento deve ser por isso
houve complicações perioperatorias (< 30 dias) em individualizada e baseada nas características de cada
46,3% dos doentes. 17 doente. Alguns factores podem condicionar o sucesso
À data da ultima consulta 31,7% dos doentes estavam do tratamento cirúrgico das ELT, como foi o caso da
dependentes de traqueotomia. A traqueomalácia traqueomalácia neste estudo.
associou-se sigificativamente (p = 0,01) à dependência
de traqueotomia à data da última consulta, tendo Protecção de pessoas e animais
sido única variável estudada a condicionar o sucesso Os autores declaram que os procedimentos seguidos
destas cirurgias. Num estudo de Gelbard A et al, 97% estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos
dos doentes com ELT iatrogénicas com traqueomalácia pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica
necessitaram de traqueotomia a longo prazo (p < e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da
0,001). A traqueomalacia é uma condição caracterizada Associação Médica Mundial.
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por flacidez da cartilagem de suporte da traqueia e que
leva a um colapso traqueal com consequente obstrução. Confidencialidade dos dados
È consequência de múltiplos processos, alguns Os autores declaram ter seguido os protocolos do seu centro
clinicamente bem definidos, mas ainda com etiologia de trabalho acerca da publicação dos dados de doentes.
pouco esclarecida. Neste estudo, o desenvolvimento
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de tarqueomalácia parece ter resultado ou da condição Conflito de interesses
inicial que causou a ELT ou como consequência de Os autores declaram não ter nenhum confito de
procedimentos cirúrgicos realizados. interesses relativamente ao presente artigo.
Num estudo de Gallo A et al, realizado em 70 doentes
com ELT submetidos a tratamento cirúrgico, 22,9% Fontes de financiamento
dos doentes estavam dependentes de traqueotomia, Não existiram fontes externas de financiamento para a
percentagem inferior à do presente estudo. Neste realização deste artigo.
mesmo estudo, factores como idade superior ou igual
a 60 anos, realização de 3 ou mais cirurgias e grau da Referências bibliográficas:
estenose, associaram-se significativamente a uma baixa 1.Gallo A, Pagliuca G, Greco A, Martellucci S et al. Laryngotracheal
stenosis treated with multiple surgeries: experience, results and
taxa de sucesso de descanulação. prognostic factors in 70 patients. Acta Otorhinolayngol Ital. 2012;
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Num outro estudo, Gelbard A. et al verificaram uma 32:182-188.
associação significativa entre a causa, o grau, a extensão 2. Herrington HC, Weber SM, Andersen PE. Modern management of
laryngotracheal stenosis. Laryngoscope. 2006; 116:1553-1557.
e a localização da estenose com a dependência de 3.Coursey MS, Airway obstruction, the problem and its causes.
traqueotomia a longo prazo. Num subgrupo de doentes Otolaryngol Clin North Am. 1995; 28(4): 673-684.
com estenoses iatrogénicas, houve uma associação 4.Thawley SE, Ogura JH. Panel discussion: the management of
advanced laryngotracheal stenosis. Use of the hyoid graft for
singificativa entre a presença de traqueomalácia e treatment of laryngotracheal stenosis. Laryngoscope. 1991;226-232.
a dependência de traqueotomia. Outros autores 5.Menard M, Laccourreye O, Brasnu D. Chirurgie des sténoses
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obtiveram melhores resultados a longo prazo com taxas laryngotrachéales de l’adulte in Encycl Méd Chir, Techniques
chirurgicales – Tête et cou. 2002; 46-390.
de insucesso cirúrgico (depedência de traqueotomia) 6.Nouraei SA, Ghufoor K, Patel A, Ferguson T et al. Outcome of
de 2,5% e de 8,2%. 15 endoscopic treatment of adult postintubation tracheal stenosis.
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Este estudo apresenta algumas limitações. O facto Laryngoscope 2007; 117:1073-1079.
7.Clément P, Hans S, de Mones E, Sigston E et al. Dilatation for assited
de ser um estudo retrospectivo, não permitiu que ventilation-induced laryngotracheal stenosis. Laryngoscope 2005;
dados como o grau de estenose e comorbilidades 115:1595-1598.
fossem abordados, por falta de dados na maioria dos 8.Halmos GB, van der Laan BFAM, Dikkers FG. Groningen dilatation
tracheoscope in treatment of moderate subglottic and tracheal
processos clínicos. Também o reduzido número de stenosis. Ann Otol Rhinol Laryngol 2009; 118:329-335.
doentes, provavelmente não permitiu que se tirassem 9.Backer CL, Mavroudis C, Dunham ME, Holinger LD. Repair of
conclusões mais significativas. No entanto, apesar congenital tracheal stenosis with a free tracheal autograft. J Thorac
Cardiovas Surg 1985; 115(4):869-74.
destas limitações, este estudo consegue demonstrar 10.Dayan SH, Dunham ME, Backer CL, Mavroudis C et al. Slide
demonstrar a complexidade e variedade de abordagens tracheoplasty in the management of congenital tracheal stenosis. Ann
terapêuticas cirúrgicas das ELT. Otol Rhinol Laryngol 1997; 106(11):914-919.
11.Delaere P, Liu Z, Feenstra L. Experimental tracheal revascularization
and transplantation. Acta Otorhinolaryngol Belg 1995; 49(4):707-413.
CONCLUSÃO 12.Eliachar I, Stein J, Strome M. Augmentation techniques in laryngol
A estenose laringotraqueal (ELT) é uma patologia Belg 1995; 49(4):397-406.
13.Takahiro M, Shimizu N, Aoe N, Andou A et al. Experimental study
heterogénea e uma das mais complexas no campo da
90 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

