Page 56 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 53 Nº1
P. 56

a trauma laríngeo nos Estados Unidos da América   baixa (a nível do 4º anel traqueal) e laringoscopia sob
          incluem:  lesões  intra-cranianas  (13%),  ferimentos   suspensão que revelou laceração a nível da mucosa do
          cervicais abertos (9%), fraturas coluna cervical (8%) e   seio piriforme direito. Colocou-se sonda nasogástrica.
          lesões esofágicas (3%). 2                         Na exploração da ferida cirúrgica, encontrou-se um
          A lesão pode surgir em contexto de inalação ou ingestão   ferimento que seccionava na totalidade a laringe
          de tóxicos, acidente de viação, desportos de contacto    (cartilagem tiróide) cerca de 3 mm acima do plano glótico,
                                                       1
          e quadros de violência (tentativas de estrangulamento,   assim como, a mucosa de ambos os seios piriformes,
          facada, tiro de arma de fogo e contusão direccionada à   deixando intacta a parede posterior da hipofaringe.
          zona cervical anterior por objecto rígido).       Além disso,  o  músculo  esternocleidomastoideu à
          Nos casos de trauma direto a lesão laríngea surge quer   direita apresentava secção parcial. O rolo vasculo-
          pelo trauma propriamente dito, quer compressão    nervoso cervical (carótida, jugulares interna e vago) não
          contra as vértebras cervicais. 4                  apresentava qualquer dano. (Figura 1.)
          O número de casos reduziu-se francamente desde
          o  início  da  obrigatoriedade  da  utilização  do  cinto  de   FIGURA 1
          segurança e “airbags” nos automóveis. 2           Simulação de lesão em modelo suíno
          O trauma laríngeo pode ser subdividido em trauma
          aberto e fechado e trauma minor ou major.
          O trauma laríngeo pode ser reconhecido pela tríade de
          sinais que engloba: 1. Disfonia; 2. Enfisema subcutâneo;
          3. Fratura pálpavel. 5
          A  tomografia  computorizada  é  útil  na  caracterização,
          principalmente nos traumatismos fechados. 2
          O trauma laríngeo  aberto é uma situação menos
          frequente do que o fechado, sendo escassos os casos
          relatados a nível mundial.
          Nestas situações a prioridade é assegurar via aérea
          conveniente. 1
          O  tratamento  dificilmente  pode  ser  alvo  de
          protocolização dada a pouco frequência dos casos e a
          grande variabilidade da extensão das lesões.
          A  título  muito  generalista  poder-se-á  dizer  que  o
          tratamento nos ferimentos fechados é tendencialmente
          conservador e  no caso de ferimentos abertos
          tendencialmente cirúrgico.
          O tratamento almeja assegurar a via aérea e em segunda
          linha permitir uma fonação e deglutição eficientes.
          O  objectivo  deste  trabalho  é  a  apresentação  de  um   A reconstrução cirúrgica foi efectuada do seguinte
          caso clínico de um paciente sujeito a facada na região   modo (tendo por base a técnica cirúrgica da
          cervical, do qual resultou traumatismo aberto da laringe   cricohioepiglotopexia): (Figuras 2 e 3)
          e revisão da literatura respectiva.               1.Isolamento do corpo do osso hióide para obtenção de
                                                            local de ancoragem do esqueleto laríngeo.
          DESCRIÇÃO DO CASO                                 2.Foram passados 5 fios de sutura Vicryl ® 0, tangentes
          O caso clínico em causa corresponde a paciente do sexo   superiormente  ao  plano  glótico  e  superiormente  ao
          feminino, 25 anos internada há 24 horas em Serviço de   corpo do osso hióide
          Medicina Intensiva.                               3.Encerramento  directo  dos  fios  de  sutura  Vicryl®  0,
          A  paciente  apresentava  traumatismo  cervical  aberto,   dois a dois no caso dos fios laterais (fio medial a fixar o
          efectuado por provável facada, encerrada inicialmente   pé da epiglote).
          no bloco operatório do serviço de urgência do hospital   4.Encerramento da mucosa de ambos os seios piriformes
          distrital, pela equipa de Cirurgia Geral.         com pontos isolados Vicryl® 3.0.
          No bloco operatório de Otorrinolaringologia a     5.Sutura dos bordos livres do músculo esternocleimastoideu
          doente apresentava ferida incisa cervical horizontal,   direito com pontos de sutura isolados Vicryl® 3.0.
          ligeiramente descentrada à direita, a nível do plano   6.Colocado dreno não aspirativo inferior à sutura à direita.
          infrahiodeu, com cerca de 12 cm de largura.       7.O restante encerramento foi efectuado em dois planos
          A paciente encontrava-se entubada e ventilada através   (plano muscular e subcutâneo com Vicryl® 3.0 e agrafos
          de cânula de traqueotomia inserida a nível medial da   no plano cutâneo).
          ferida cervical.
          Inicialmente, foi realizada traqueotomia infraístmica

       54  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
   51   52   53   54   55   56   57   58   59   60   61