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induz endarterite que resulta em hipoxia, hipocelularidade   elevada resultando num diagnóstico precoce, antecedendo
          e hipovascularização que por seu lado causa rutura tecidual   a hemorragia aguda extensa. O tratamento vai depender em
          com soluções de continuidade crónicas que não curam. Uma   grande escala do estadio de lesão carotídea. Tendo evoluído
          outra teoria propõe a depleção da população de fibroblastos   muito nas últimas décadas com o advento das técnicas
          associada à redução da produção de colagénio em resposta à   endovasculares não invasivas, o tratamento visa melhorar o
          exposição rádica. 6                               prognóstico final do doente que historicamente é mau.
          As complicações graves ocorrem nos primeiros dois anos e
          estão relacionadas com doses de radiação superiores a 70Gy
          ou com trauma cirúrgico. A longo prazo ocorrem por trauma   Referências bibliográficas
          ou por manutenção de um ambiente cronicamente hipóxico. 6  1-Chang FC, Lirng JF, Luo CB, Guo WY et al.. Carotid Blowout Syndrome in
                                                            patients with Head-and-Neck Cancers: Reconstructive Management by Self-
          Os avanços no campo da radioterapia, como o advento da   Expandable Stent-Grafs. AJNR 2007 Jan;28: 181-188
          Radioterapia de intensidade modulada, retêm a promessa   2-Kasthoori JJ, Nawawi O. Endoluminal Stent Placement in the Management
          de redução das complicações locais pelo aumento da   of Recurrent Carotid Blowout Syndrome. J HK Coll Radiol. 2007;10:62-65
          conformação da dose prescrita, permitindo a entrega da dose   3-Powitzky R, Vasan N, Krempl G, Medina J. Carotid  Blowout in Patients
                                                            With  Head  and  Neck  Cancer.  Annals  of  Otology,  Rhinology  &  Laryngology
          no local pretendido de uma forma mais homogénea. 6,7,8  119(7):476-484
          A Radioterapia de intensidade modulada consegue uma dose   4-Kim HS, Lee DH, Kim HJ, Kim SJ et al. Life-threatning common carotid artery       CASO CLÍNICO CASE REPORT
          tumoricida mais elevada que as técnicas convencionais , mas   blowout: rescue treatment with a newly designed self-expanding covered
                                                  8,9
                                                            nitinol stent. The British Journal of Radiology 2006; 79: 226-231
          resulta no aumento da dose infligida na carótida. No entanto,   5-Janjua N, Alkawi A, Georgiadis AL et al. Covered stent graft for treatment
          com um planeamento cuidado, é possível controlar este fator   of a pseudoaneurysm and carotid blowout syndrome. J Vasc Interv Neurol
          e diminuir a dose entregue no vaso num conjunto de doentes   2008; 1(1):5-8
          com risco diminuído de doença ganglionar. 7,9     6-Jacobson AS, Buchbinder D, Hu K, Urken ML. Paradigm shifts in the
                                                            management of osteoradionecrosis of the mandible. Oral Oncology 2010; 46:
          Serão necessários mais estudos para chegar a dados mais   795–801
          conclusivos.                                      7-Bahl A, Basu KS, Sharma DN, Rath GK et al. Integral dose to the carotid
                                                            artery in intensity modulated radiotherapy of carcinoma nasopharynx:
                                                            Extended field IMRT versus split-field IMRT. JCRT 2010; 6(4):585-587
          Osteoradionecrose                                 8-Huang WE, Jen YM, Chen CM, Sue YF et al. Intensity modulated radiotherapy
          Dependendo dos estudos, é possível reduzir a incidência de   with concurrent chemotherapy for larynx preservation of advanced resectable
                                                            hypopharyngeal câncer. Radiation Oncology 2010, 5:37
          osteoradionecrose da mandíbula de 5-15% com as técnicas   9-Vitolo V, Millender LE., Quivey Jeanne M., Yom Sue S.et al. Assessment of
          convencionais  para  1.3-6%  utilizando  Radioterapia  de   carotid artery dose in the treatment of nasopharyngeal cancer with IMRT
          intensidade modelada.  Em casos avançados a resolução dos   versus conventional radiotherapy. Radiotherapy & Oncology 2009 Feb 90(2):
                           6
          fatores agressores já instalados, como a osteoradionecrose   213-220
          e infeção local inerente, deve ser gerida atempadamente.
          A utilização de oxigenioterapia em casos iniciais de
          osteoradionecrose da mandíbula pode revelar-se benéfica
          no controlo da evolução da doença.  Nos estadios avançados
                                     6
          será necessária ressecção com reconstrução vascularizada
          preferencial, associada ou não à oxigenioterapia. 6


          Infeção
          As infeções que têm papel preponderante no Síndrome
          de rutura da carótida são muitas vezes subclínicas e
          subvalorizadas. 3
          A necrose tecidual e a formação de fístula, associadas a
          um ambiente hipóxico, contribuem para a contaminação
          e exposição de tecidos profundos, predispondo ao trauma
          e à infeção carotídea.  A invasão bacteriana é uma causa
                           3,6
          reconhecida de trombose dos vasa vasorum e subsequente
          lesão da parede arterial. 3
          A utilização de antibioterapia sistémica é essencial, se possível
          orientada pela cultura de exsudado com antibiograma,
          associada ao tratamento cuidado da ferida cutânea. 3,6


          CONCLUSÃO
          A rutura carotídea é uma entidade rara mas com elevada taxa
          de mortalidade e morbilidade neurológica. A gestão desta
          entidade desenvolve-se em torno de uma suspeição clínica


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