Page 58 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 53 Nº1
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controvérsia  neste  item,  uma  vez  que  há  artigos  que   da fala, utilização de espessante alimentar e evicção de
         defendem que em contexto de emergência antes da    líquidos, manutenção da traqueotomia,  realização de
         traqueotomia se deve tentar entubação orotraqueal/   gastrostomia e eventuais revisões cirúrgicas.
         cricotiroidotomia.  Os autores discordam desta última   A paciente em causa apresentou sequelas a curto prazo
                        2,5
         abordagem.                                         que se resolveram a médio/longo prazo.
         2.Colocação de sonda nasogástrica para evitar
         problemas associados à alimentação oral (conspurcação   Agradecimentos
         adicional do campo cirúrgico) e parenteral.        Agradece-se a colaboração do Serviço de Medicina
         3.Exploração da ferida com reconstrução meticulosa de   Intensiva dos HUC CHUC.
         todas as estruturas afectadas, nomeadamente: laringe,
         faringe, esofágo, vasos e nervos cervicais (atenção   Referências bibliográficas
         especial no que toca aos nervos recorrentes). O timing   1. Noorizan Y, Chew Y, Khir A, Brito-Mutunayagam. A complete
                                                            transection of the Larynx. Med J Malaysia. 2009; 64:179-180.
         desta exploração não é consensual uma vez que há   2.  Akhtar  S, Awan  S.  Laryngotracheal  trauma: its  management  and
         artigos  que  defendem  intervenção  imediata  e  outros   sequelae. J Pak Med Assoc. 2008 May;58 (5):241-3.
         que recomendam que se aguardem entre 4 a 5 dias. 2  3, Valerio P, Ivan M, Francisco R, Ureña A et al. Survival after traumatic
                                                            complete laryngotracheal transection. Am J Emerg Med. 2008 Sep;26
         Durante  a reconstrução  laríngea deve  considerar-  (7):837.e3-4
         se a necessidade de colocação de “stent” laríngeo,   4. Briassoulis G, Fitrolaki MD, Mihailidou E, Spanaki AM. Unexpected
                                      2
         principalmente no trauma major.  No caso em análise   supraglottic injury following a frontal impact motor-vehicle accident.
                                                            Arch Dis Child April 2008 Vol 93 No 4, 345.
         não  foi  utilizado,  pela  destruição  de  tecido  em  causa   5,  American  college  of  surgeons  committee  on  trauma.  Airway
         não o justificar.                                  and  ventilator  management.In:  Advanced  trauma  life  support  for
         Relativamente ao acompanhamento pós-cirúrgico, este   doctors.8th ed.Chicago:2008; p 27
         deve ser particularmente atento no que toca a:
         1.Prestar   repetidamente   informação   adequada
         a pessoal de enfermagem, familiares e paciente,
         sobre o procedimento cirúrgico realizado, eventuais
         complicações (obstrução da via aérea, disfonia
         e  problemas  de  deglutição)  e  a  necessidade  da
         total colaboração  no  período pós-operatório para
         minimização de sequelas.
         2.Manutenção  da  flexão  cervical  pelo  máximo  tempo
         possível (decúbito dorsal com uso de várias almofadas).
         3.Relaxamento muscular adequado (incluindo o uso de
         benzodiazepinas).
         4.Evicção de movimentos cervicais abruptos.
         5.Inicio tardio de alimentação oral, com treino de
         deglutição prévio com terapeuta da fala.
         Todas estas medidas têm o intuito de manter
         as estruturas reconstruídas sem tensão e sem
         contaminação  optimizando  o  período  de  cicatrização,
         reduzindo o impacto das complicações.
         As complicações associadas ao trauma laríngeo (aberto
         e fechados) são a obstrução da via aérea, disfonia e
         problemas de deglutição.
         A obstrução da via aérea prende-se com quadros
         de estenose laringo-traqueal, que se podem tentar
         contornar com a colocação de “stents” laríngeos ou
         traqueais ou mesmo através da manutenção a longo
         prazo de traqueotomia.
         A disfonia está associada a lesões dos nervos recorrentes
         ou lesão directa das cordas vocais, dos músculos vocais
         e/ou  da  articulação  cricoaritenoideia.  Qualquer  das
         lesões deve ser reconstruída com o máximo de precisão.
         Os  problemas  de  deglutição  podem  englobar  quadro
         de  disfagia  ligeira,  aspiração  de  alimentos  e  fístulas
         (faringocutâneas, esofagocutâneas, faringolaríngeas,
         traqueoesofágicas). Mediante a gravidade estes
         quadros podem ser tratados com sessões de terapia

       56  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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