Page 60 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 53 Nº1
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Embora na maioria dos casos a etiologia das epistáxis   posterior.  A endoscopia nasal demonstrou as mesmas
         seja  desconhecida,  múltiplos  fatores  devem  ser  tidos   alterações, e ausência de neoformações ou outras.
         em consideração: fatores locais (alterações anatómicas,   Caso clínico 3
         trauma, complicação cirúrgica, malformações vasculares,   Doente sexo masculino, 58 anos com antecedentes de
         neoplasias) ou fatores sistémicos (hipertensão arterial,   hipertensão arterial e dislipidemia recorre ao serviço de
         antinflamatórios não esteróides, telangiectasia hereditária   urgência por epistáxis da fossa nasal direita.
         hemorrágica, álcool) ou uma combinação de ambos .  Ao  exame  objectivo:  hemorragia  em  toalha  do  tecto
                                                    6,7
         A vascularização arterial da cavidade nasal é feita pela   da fossa nasal direita, sem ponto de emergência
         artéria carótida interna através das artérias etmoidais   identificável. A endoscopia nasal foi sobreponível.
         anterior e posterior- ramos da artéria oftálmica, e pela
         artéria  carótida  externa  via  artéria  facial  e  via  ramo   Caso clínico 4
         terminal da artéria maxilar – a artéria esfenopalatina 1,6,7 .   Doente do sexo masculino, 51 anos, sem antecedentes
         O  plexo  de  Kiesselbach  é  constituído  pelos  ramos   patológicos relevantes, com hábitos alcoólicos
         terminais da artéria esfenopalatina e etmoidal anterior e   moderados, recorre ao serviço de urgência por
                                 3
         ramo labial superior da facial . A epistáxis causada pelas   epistáxis de ambas as fossas nasais. À rinoscopia
         etmoidais anteriores é relativamente rara e geralmente   anterior apresenta desvio do septo de convexidade
         ocorre secundariamente a trauma facial com fractura   direita não obstrutivo; hemorragia de ambas as fossas
                                 3
         da base do crânio associada .                      nasais  sem  local  de  hemorragia  identificável.  Neste
         Apresentamos 4 casos clínicos de epistáxis grave em   caso, a endoscopia nasal foi realizada sob anestesia
         que foi necessário recorrer à embolização arterial para   geral,    verificando-se  hemorragia  intensa  sem  local
         controlar a hemorragia.                            identificável.

          CASOS CLÍNICOS                                    A abordagem nos quatro casos incluiu o tamponamento
         Caso clínico 1                                     anterior e posterior. Em todos os casos houve
         Doente do sexo masculino, 57 anos recorre ao serviço de   repercussão hemodinâmica com necessidade de
         urgência por epistáxis da fossa nasal direita. O doente   tratamento adjuvante: caso 1: complexo de protrombina
         apresentava antecedentes de dislipidemia, depressão   humano, ácido tranexâmico; caso 2: 1U de concentrado
         e hábitos tabágicos; sem história de consumo de    eritrocitário; caso 3: ácido tranexâmico, 2U de
         AINES recente. À rinoscopia anterior apresenta desvio   concentrado eritrocitário; caso 4: 7U de concentrado
         do septo para a esquerda com obstrução da fossa    eritrocitário, 4U de plasma, ácido tranexámico,
         nasal; hemorragia abundante direita e posterior, sem   complexo de protrombina humano e vitamina K. O
         visualização do ponto de emergência, confirmado por   destamponamento anterior final foi realizado ao 13ºdia
         endoscopia.
                                                            no caso 1, no caso 2 ao 6ºdia , no caso 3 ao 8ºdia e no caso
                                                            4 no 15ºdia.  Em todos os casos o destamponamento
         Caso clínico 2                                     posterior foi realizado em 48h mas no caso 4 houve
         Doente do sexo feminino, 54 anos, com antecedentes   necessidade de repetir o procedimento.
         de  hipertensão  arterial,  hipotiroidismo  e  depressão,   O  estudo  hematológico  e  imagiológico  (tomografia
         recorre ao serviço de urgência por epistáxis abundante   computorizada nariz) não apresentou alterações nos 4
         da fossa  nasal  esquerda. À  rinoscopia  anterior:   casos.
         hemorragia da parede septal da fossa nasal esquerda

          FIGURA 1
          Caso clínico 1: angiografia pré (A) e pós-embolização (B).






















       58  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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