Page 50 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 53 Nº1
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associado a hemorragia ativa/profusa, não controlada com   mediante retalho osteomiocutâneo de crista ilíaca esquerda
          compressão local. Os procedimentos diagnósticos dependerão   (Fig. 2) anastomosado à artéria lingual direita e retalho
          da apresentação clínica.                          pediculado miocutâneo de músculo grande peitoral direito
                           2
          Nos dois primeiros casos a rutura da carótida é praticamente   para encerramento de defeito cutâneo cervical. (Fig. 3)
          inevitável se não forem iniciadas medidas de prevenção. 1  No 10º dia pós-operatório observou-se hemorragia da artéria
          Em caso de rutura súbita prevê-se a deterioração rápida do   lingual direita com necessidade de controlo e estabilização
          estado clínico do doente devendo ser iniciadas manobras de   hemodinâmica sob anestesia geral e da qual resultou necrose
          reanimação e de estabilização hemodinâmica, previamente   parcial do retalho de grande peitoral e da fração cutânea do
          ao início do tratamento. 1                        retalho de crista ilíaca.
          Como fatores predisponentes encontram-se: existência de   FIGURA 2
          fístula faringocutânea, radionecrose, infeção local, exposição   Desenho esquemático do levantamento do retalho
          a saliva, dissecção radical com remoção da fascia carotídea,   microanastomosado de crista ilíaca
          necrose dos retalhos com exposição carotídea, persistência ou
          recorrência tumoral. 1,2,4
          A exposição a radioterapia implica uma probabilidade
          aumentada de rutura da carótida em 7.6 vezes nestes
          doentes. 2,4


          DESCRIÇÃO DO CASO
          Doente do sexo masculino de 60 anos de idade, com o
          diagnóstico de carcinoma pavimento celular do trígono
          retromolar – T4N2bM0.
          Foi efetuada excisão tumoral em bloco com margens livres,
          associada a celulectomia cervical radical modificada tipo III,
          e reconstrução com retalho microanastomosado antebraquial
          esquerdo.
          A anatomia patológica confirmou o diagnóstico de carcinoma
          pavimento celular bem diferenciado – pT4N2b.
          Em reunião multidisciplinar foi decido iniciar radioterapia
          convencional associada a quimioterapia adjuvante.
          Como complicação da exposição rádica verificou-se
          osteoradionecrose extensa da mandíbula com subsequente
          fistula orocervical (Fig. 1) e perda do retalho microvascularizado
          antebraquial.
          FIGURA 1
          Fístula orocervical
                                                            FIGURA 3
                                                            Aspeto final da reconstrução da mandíbula e fístula orocervical
                                                            com retalho microanastomosado de crista ilíaca e de retalho
                                                            pediculado miocutâneo de músculo grande peitoral

















          Após excluída a hipótese de recidiva local e metastização
          à distância, foi efetuada, limpeza cirúrgica cervical com
          reconstrução de defeito ósseo mandibular e fistula orocervical


       48  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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