Page 88 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
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cadeias leves presentes na urina de 24h e a biopsia da 3 meses, com achados imagiológicos compatíveis com
medula óssea também estão indicadas. Geralmente, recidiva/lesão residual na fossa nasal esquerda. Foi
os doentes com plasmocitomas extramedulares não submetida a nova cirurgia endoscópica nasossinusal,
têm anemia, hipercalcémia ou insuficiência renal, com exerese da mucosa residual circundante, cujo
atribuíveis ao distúrbio dos plasmócitos. O estudo deve resultado anatomopatológico foi negativo para
ser orientado para excluir lesão óssea metastática ou neoplasia. A doente encontra-se em acompanhamento
doença plasmocitária multifocal, realizando-se exames em consulta de ORL e de Hematologia, sem evidência
de imagem (tomografia por emissão de positrões, de recorrência da doença.
tomografia computorizada ou ressonância magnética). O Foi revista a casuística do nosso serviço e identificados
tratamento dos plasmocitomas extramedulares isolados mais 2 casos, tratados no nosso serviço há cerca de uma
contempla ressecção cirúrgica e/ou radioterapia. 7,8 década.
O primeiro caso é o de uma mulher de 75 anos,
Descrição de caso internada por epistaxis recorrentes, com história de
Doente do sexo feminino, 56 anos de idade, previamente obstrução nasal à esquerda com 10 anos de evolução. A
saudável, sem medicação habitual, com queixas de observação e a TC dos seios perinasais (SPN), revelaram
sensação de corpo estranho, obstrução nasal progressiva massa de limites mal definidos ocupando a fossa nasal
à esquerda e episódios ocasionais, auto-limitados, de esquerda (FNE) com preenchimento do seio maxilar e
epistáxis. Com base no exame objectivo e na imagiologia células etmoidais esquerdas (figuras 2 e 3).
dos seios perinasais, em que se documentava massa Procedeu-se a biopsia da massa, cujo resultado
da fossa nasal esquerda, implantada ao nível do terço histológico foi plasmocitoma pouco diferenciado. As
anterior do corneto inferior interpretada como pólipo análises laboratoriais de sangue, a biopsia da medula
nasal, instituiu-se corticoterapia. óssea e os exames de imagem não mostraram evidência
FIGURA 1
Tomografia computorizada evidenciando massa na fossa nasal esquerda.
Assistiu-se a uma melhoria parcial dos sintomas com a de distúrbio dos plasmócitos em outra localização. A
terapêutica instituída, seguida de novo agravamento. doente foi operada por via Caldwell-Luc com ressecção
Devido às suas características morfológicas da massa. Aos 2 meses de pós-operatório, houve
macroscópicas atípicas e à sua localização pouco recidiva das queixas e objectivou-se massa na fossa nasal
comum, numa fossa nasal sem patologia inflamatória esquerda, correspondendo a recidiva de plasmocitoma.
significativa, optou-se por exerese por via endoscópica. Foi instituída radioterapia, com remissão completa da
O exame anatomopatológico da peça operatória foi lesão.
compatível com plasmocitoma extramedular nasal,
com expressão de cadeias leves K. A avaliação clínica O segundo caso é o de um homem de 50 anos de idade,
subsequente, imagiológica e laboratorial, não mostrou com roncopatia e massa ao nível da choana direita/
evidência de outros focos neoplásicos ou doença rinofaringe que se estendia até ao palato mole. O
sistémica (mieloma múltiplo), com níveis séricos de doente foi operado e lesão foi totalmente ressecada e
cadeias leves normais e tomografia computorizada o diagnóstico histológico foi plasmocitoma. Os estudos
(TC) toracoabdominopelvica sem evidência de outras de analíticos e de imagem não evidenciaram doença
lesões. No acompanhamento pós-operatório, houve sistémica ou localizada em outro território. Até à data
recorrência de queixas de obstrução nasal ao fim de não há evidência de recidiva da doença.
86 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

