Page 44 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 49. Nº3
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CASO CLÍNICO continuidade tanto da parede anterior do seio frontal
Os autores apresentam caso clínico de um doente do esquerdo como do tecto da órbita, o que condicionou
sexo masculino, 26 anos, que apresentava tumefacção desvio ínfero-lateral do globo ocular, sem invasão
do canto superior do olho esquerdo com 2 meses de orbitária ou intracraniana. Confirmou-se ainda desvio
evolução e de crescimento progressivo, associada naso-septal sinistro-convexo. O doente foi medicado
a cefaleia frontal. Como antecedente relevante com antibiótico de largo espectro e corticoterapia
apresentava história de traumatismo da face há 5 endovenosa. Foi realizada septoplastia e microcirurgia
meses. Ao exame objectivo a tumefacção condicionava endonasal esquerda para marsupialização de mucocelo,
limitação do movimento de supradução do olho localizado na parede lateral do seio frontal esquerdo.
esquerdo, sem diminuição da acuidade visual. Na
rinoscopia anterior observava-se desvio do septo DISCUSSÃO
acentuado para a esquerda. A TC e a RM (Figura 1 e 2) O mucocelo dos seios perinasais origina principalmente
revelaram mucocelo frontal esquerdo de 3,1 X 3,3 cm sintomas oculares, assim como cefaleias. A complicação
no plano coronal, com expressão orbitária e solução de major do mucocelo frontal envolve a cegueira por
compressão do globo ocular com lesão do nervo óptico.
FIGURA 1 É comum achados como desvio ocular, principalmente
TC cerebral em aquisição axial
ínfero-lateral, proptose e tumefacção do canto supero-
-medial do olho, sinais presentes no caso apresentado.
A sua formação envolve uma obstrução do óstio
sinusal e a sua inflamação. Esta obstrução produz, na
maioria dos casos, uma acumulação de muco, mas
só em alguns casos forma um mucocelo. Pensa-se
que existem condições prévias que contribuem para
a sua progressão, tais como uma história prévia de
traumatismo ou cirurgia. O doente apresentava como
factor predisponente antecedente de traumatismo
facial prévio.
A TC é o exame de eleição, que nos permite confirmar o
diagnóstico e nos mostra a relação do mucocelo com as
estruturas ósseas adjacentes . A RM é útil para avaliar
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as relações do mucocelo com as estruturas cerebrais,
orbitárias e vasculares, diferenciando o mucocelo de
lesões neoplásicas .
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O tratamento convencional para o mucocelo faz-
FIGURA 2 se por via externa, sendo que na actualidade os
RM seios perinasais em aquisição coronal
avanços da cirurgia endoscópica mostram esta técnica
como igualmente válida. Em ambas pode-se realizar
marsupialização do mucocelo, preservando a mucosa,
ou proceder à remoção completa deste.
Vários estudos foram publicados demonstrando os
benefícios da cirurgia endoscópica, e num grande
número deles verificou-se uma taxa de recidiva entre
0,9 e 2,2% . De facto, tem-se concluído que a remoção
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completa, com perda de suporte ósseo realizada por
via externa facilita o desenvolvimento de mucocelo
secundário. A recidiva parece ser mais frequente nos
doentes com alterações anatómicas relacionadas com
história prévia de polipose nasossinusal, trauma e
cirurgia.
É de salientar que nestes doentes o follow-up deve ser
feito a longo prazo, tendo em conta o viés associado ao
início recente da cirurgia endoscópica.
170 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

