Page 40 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 49. Nº3
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quadro de parésia facial periférica direita presente FIGURA 2
desde o nascimento, com agravamento progressivo. RM cerebral e ouvidos com Gadolíneo, ponderada em T1 em
corte axial
Sem episódios de otites de repetição ou otorreia. Sem
outras queixas do foro de ORL. A gestação e parto
decorreram sem intercorrências e a criança teve um
bom desenvolvimento estato-ponderal e psicomotor.
Apresenta exame objectivo sem alterações, com
excepção de paralisia facial periférica direita grau III/VI
de House Brackmann. Restante exame de ORL normal.
O audiograma não realizado por falta de colaboração
da criança. O timpanograma com reflexos mostrou uma
curva tipo B com ausência de reflexos à direita, e uma
curva tipo A com reflexos presentes à esquerda.
A tomografia computorizada (TC) de ouvidos efectuada
revelou à direita uma expansão do aqueduto de
Falópio por uma massa de densidade de tecidos moles,
com atingimento da 2ª e 3ª porção do nervo facial,
até ao buraco estilo-mastoideu (Figura 1). Realizou
posteriormente ressonância magnética (RM) cerebral
com avaliação dos canais auditivos internos contrastada
com gadolíneo que confirmou uma expansão do canal
facial com hipercaptação do nervo facial, sugestiva de direita durante o sono, lágrimas artificiais e em vigilância
tumor do nervo facial (schwannoma?), com alargamento clínica e imagiológica (RM e TC das mastóides 1 ano
da 2ª e 3ª porção do nervo facial, até ao buraco estilo- após o diagnóstico). Actualmente o doente mantém o
mastoideu e expansão do nervo facial para diante da mesmo quadro clínico.
fosseta do gânglio geniculado (no trajecto dos nervos
petrosos superficiais) (Figura 2). DISCUSSÃO
FIGURA 1 A paralisia facial periférica é uma patologia frequente,
TC de ouvidos em corte sagital devendo sempre ser investigada a existência de uma
causa secundária pois influencia significativamente a
terapêutica e o prognóstico. Apesar do schwannoma do
nervo facial ser incomum precisa sempre de ser incluído
no diagnóstico diferencial dos pacientes com paralisia
facial periférica.
O diagnóstico de paralisia facial periférica assenta num
quadro clínico típico, complementado pela investigação
laboratorial, imagiológica e estudos de condução
nervosa.
O schwannoma do nervo facial é uma neoplasia benigna
e rara, que pode ter origem nas células de Schwann dos
axónios do nervo facial desde o tronco cerebral até à
parótida, de crescimento lento, e que pode causar
paralisia facial periférica. Correspondem a cerca de 5%
das paralisias faciais e deve ser incluído no diagnóstico
diferencial, mesmo nos casos infantis.
A idade de apresentação varia entre 7 e 81 anos, sem
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Portanto, os exames complementares realizados preponderância de sexo ou de lado atingido . Embora
revelaram um provável schwannoma das porções mais de 300 casos tenham sido reportados na literatura
labiríntica, timpânica e mastoideia do nervo facial. mundial, os tumores do nervo facial em crianças são
Realizou sessões de fisioterapia sem melhoria clínica. muito raros, devendo ser incluídos no diagnóstico
O doente ficou então com medidas de protecção ocular diferencial de paralisia facial mesmo no período
neonatal .
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166 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

