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por compressão e lesão do nervo laríngeo recorrente.
Os diagnósticos diferenciais possíveis dizem respeito
a patologias que possam levar à hiperprodução óssea
a nível cervical como, por exemplo, espondilose
degenerativa, espondiloartrite seronegativa, espondilite
anquilosante, acromegalia, neuroatropatias, etc.
Em relação ao tratamento, para a maioria dos
pacientes, está indicado o tratamento conservador, que
inclui modificação da dieta, terapêutica anti-refluxo,
analgésicos e anti-inflamatórios.
O tratamento cirúrgico para resolução da disfagia
deve ser bem ponderado pois a disfagia resulta não
só da obstrução mecânica e do edema da mucosa mas
também da lesão das estruturas nervosas. Por isso,
o tratamento cirúrgico deve ser reservado para as CASO CLÍNICO CASE REPORT
situações mais severas.
A doença de DISH apesar de ter uma elevada
prevalência na população sénior, raramente se torna
sintomática. No entanto, as suas manifestações clínicas
são muitas vezes da área de Otorrinolaringologia, como
Figura 3 - TC cervical. Calcificação do ligamento longitudinal comum disfagia, disfonia, estridor e dificuldade respiratória.
anterior C2-C6. Bloco vertebral C4-C5.
Por isso esta patologia deve ser do conhecimento do
Otorrinolaringologista para que a possa colocar como
dislipidemia, hipeuricemia e gota. O seu pico de
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incidência ocorre entre os 65 e os 70 anos com eventual diagnóstico diferencial nestas situações
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predominância no sexo masculino. clínicas.
A sua prevalência (variando com os autores e a REFERÊNCIAS
população estudada) é cerca de 2,4 - 5,4% na população 1. Mader R. Clinical Manifestations of Diffuse Idiopathic Skeletal Hyperostosis
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geral com mais de 40 anos de idade mas pode atingir of the Cervical Spine. Semin Arthritis Rheum, 2002;32(2):130-135,.
2. Boachie-Adjei O, Bullough P. Incidence of ankylosing hyperostosis of the
valores de 10% em indivíduos com mais de 70 anos de spine (Forestier’s disease) at autopsy. Spine, 1987;12:739-43.
idade. 8 3. Rotes-Querol J. Clinical manifestations of diffuse idiopathic skeletal hyperos-
Apesar desta condição clínica ser habitualmente tosis (DISH). Br J Rheumatol, 1996;35:1193-6.
4. Foshang TH, Mestan MA, Riggs LG. Diffuse Idiopathic Skeletal Hyperostosis: A
assintomática, a disfagia é o sintoma mais comum da Case of Dysphagia. J Manipulative Physiol Ther, 2005;25: 71-76.
DISH e espera-se que 0,1-6% dos doentes com esta 5. Cammisa M, De Serio A, Guglielmi G. Diffuse idiopathic skeletal hyperostosis.
patologia venham a desenvolver disfagia em alguma Eur J Radiol (Suppl) 1998;27: S7-S11.
6. Kmucha ST, Cravens RB. DISH syndrome and its role in dysphagia. Otolaryngol
fase da sua vida. 6 Head Neck Surg, 1994;110:431-6.
O seu diagnóstico é radiológico, habitualmente por 7. Akhtar S, O’Flynn PE, Kelly A, Valentine PM. The management of dysphagia in
TAC, e segundo Resnick deve cumprir três critérios: skeletal hyperostosis. J Laryngol Otol,/2000;114:154-7.
8. Mata S, Chhem RK, Fortin PR, et al. Comprehensive radiographic evaluation
(1) presença de osteófitos na margem anterolateral de of diffuse idiopathic skeletal hyperostosis: Development and interrater reliabi-
quatro corpos vertebrais consecutivos; (2) preservação lity of a scoring system. Semin Arthritis Rheum, 1998;28:88-96.
da altura dos discos intervertebrais; (3) ausência de 9. Resnick D. Diagnosis of bone and joint disorders, 3rd ed. Philadelphia: WB
Saunders; 1995:pp.1463-95.
alterações associadas a espondiloartropatia ou artrite
degenerativa.
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A disfagia devido à presença dos osteófitos resulta de
dois mecanismos: a obstrução da faringe ou do esófago
por desvio das estruturas ou compressão extrínseca; e
inflamação e edema dos tecidos subjacentes à massa
óssea como resultado dos movimentos repetitivos
do esófago ou da faringe sobre os osteófitos que se
protrudem. Com base nestes mesmos mecanismos
podemos perceber que a DISH também pode causar
disfonia, embora mais rara, que resulta da distorção da
laringe, edema e ulceração mucosa da laringe e mesmo
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