Page 42 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48. Nº3
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Resnick et al, em 1970, utilizando os dados das suas
próprias observações e analisando o material publicado
por outros, notou que havia alterações radiológicas
suficientemente consistentes para estabelecer critérios
de diagnóstico. Foi através do trabalho deste autor que
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se descobriu que a coluna cervical não era o único local
onde se poderia verificar a ossificação ligamentosa,
e propôs-se assim o termo Hiperostose Esquelética
Idiopática Difusa (DISH). Trata-se, portanto, de um
síndrome ossificante mais global do que aquele que
foi inicialmente proposto por Forestier e Rotes-Querol.
Desde aí que denominação Doença de Forestier tem
sido sobretudo usada para designar as manifestações
cervicais de DISH.
É importante que o Otorrinolaringologista conheça esta
patologia, para que a possa considerar nos diagnósticos
diferenciais de possíveis causas de disfagia alta.
Neste artigo relatamos um caso clínico ilustrativo desta
patologia.
Figura 1 – Protusão parade posterior da hipofaringe
CASO CLÍNICO
Doente, sexo masculino, 58 anos de idade, enviado
ao Serviço de Urgência de ORL por disfagia alta para
sólidos. Como antecedentes pessoais de relevo, devemos
referir: obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus
tipo II e dislipidemia. Cerca de 2 semanas antes, recorre
ao seu médico assistente por disfagia progressiva para
sólidos, com cerca de 4 meses de evolução, associada
a sensação de corpo estranho na orofaringe. Negava
disfagia para líquidos, perda ponderal, anorexia ou
astenia.O médico assistente requisita uma endoscopia
digestiva alta para estudo. No entanto, na tentativa
de realização deste exame, o Gastroenterologista
não conseguiu progredir com o endoscópio a nível da
hipofaringe uma vez que se verificava um abaulamento
da parede posterior (fig-1). Nessa altura, decide enviar
o doente ao Serviço de Urgência de ORL.
Ao exame físico de ORL verificou-se um abaulamento
da parede postero-lateral esquerda da faringe com Figura 2 - Abaulamento da parede postero-lateral esquerda da
apagamento do seio piriforme ipsilateral (fig-2). O hipofaringe com apagamento do seio piriforme.
restante exame físico de ORL não apresentava alterações,
notando-se nomeadamente normal mobilidade laríngea O doente foi encaminhado para a Consulta Externa
ausência de adenopatias cervicais. de Neurocirurgia, encontra-se em vigilância, a realizar
Foi então realizada uma TAC que mostrou calcificação terapêutica médica e encontra-se proposto para
do ligamento longitudinal comum anterior desde tratamento cirúrgico.
C2 até C6 e espondilose antero-marginal, mais
exuberante em C3-C4, deformando a parede posterior DISCUSSÃO
da hipofaringe. Os discos intervetrebrais encontravam- A DISH é uma doença degenerativa de causa
se relativamente poupados, verificando-se evidência desconhecida. Não é conhecido nenhum marcador
de bloco vertebral em C4-C5. Obteve-se portanto, o genético mas sabe-se que ocorre agregação familiar
diagnóstico imagiológico de hiperostose esquelética e que está associada à diabetes mellitus tipo II,
idiopática difusa (DISH) (fig-3). hipertensão arterial, doença vascular ateromatosa,
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