Page 15 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48. Nº3
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aumento destes valores ou, então, tem que ser tomado   nacionais  efectuados.4,33  Este  dado  talvez  se  deva  às
          em linha de conta os ambientes hospitalares.      actuais  tendências  das  novas  regras  da  lei  do  tabaco,
          Têm sido relatados diversos estudos sobre a estimativa de   aprovado pela lei nº37/2007, de 14 de Agosto.
          custos da rinite alérgica. A sua alta prevalência tem tido   Diversos  estudos  apontam  para  a  associação  entre  os
          um impacto económico e social enorme, quer devido aos   sintomas  nasais  e  alterações  hormonais,  como  por
          custos médicos directos associados ao tratamento médico   exemplo,  a  variação  no  ciclo  menstrual,  a  gravidez  e  o
          e aos custos indirectos, devido à redução da produtividade   uso  de  anticonceptivos  orais.  No  presente  estudo  não
          dos  trabalhadores  e  à  diminuição  da  qualidade  de   detectamos  diferenças  significativas,  relativamente  ao
          vida 29,30 . Neste estudo, 2,3% dos trabalhadores referiram   índice de congestão nasal e o sexo 34,35 .
          dificuldades  de  concentração  nas  suas  actividades  por
          causa dos sintomas nasais descritos. No entanto, quando   CONCLUSÕES
          comparada a relação entre o índice de congestão nasal e   O impacto da obstrução nasal na saúde dos indivíduos é
          as dificuldades de concentração nas actividades, os que   importante, com implicações na qualidade de vida, prejuízo
          referem essas dificuldades têm um índice médio de 12,53   no sono com consequente fadiga diurna, interferência na      ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
          (IC95%  (11-14),  diferença  estatisticamente  significativa   concentração das actividades desenvolvidas e diminuição
          (p<0.0001); 12,1(IC95% 11-13,3) para os que responderam   da  produtividade  laboral.  A  prevalência  do  índice  de
          “a maior parte do tempo” e 14,9 (IC95% 12,2-17,6) para os   congestão nasal na amostra estudada foi significativa.
          que afirmaram “sempre”. Já os que não referiram qualquer   Salienta-se  a  necessidade  do  reconhecimento  por  parte
          dificuldade  têm  um  índice  de  congestão  médio  de  7,   do  doente  e  do  médico  desta  entidade  nosológica.  O
          pelo que se depreende que a congestão nasal interfere   tratamento  deve  ser  individualizado  de  acordo  com  a
          com os processos cognitivos associados à diminuição de   causa  do  problema  e  as  condições  específicas  de  cada
          concentração e de produtividade dos trabalhadores.  doente.
          O  efeito  da  obstrução  nasal  na  redução  e  na  qualidade
          do  sono  é  um  aspecto  particularmente  importante  na   AGRADECIMENTOS
          qualidade  de  vida  do  doente.  Estima-se  que  57%  dos   À Drª Ana Feijão da UAC do IDT, IP
                                                            Ao Dr. João Curto da UD do IDT, IP
          pacientes  adultos  e  88%  dos  pacientes  pediátricos  com   Às Enfermeiras Margarida Garcia e Paula Arsénio do SSST do CHC, EPE
          rinite  alérgica  têm  problemas  com  o  sono,  sonolência   Ao Enfermeiro Severino Oliveira da UAC do IDT, IP
          diurna, aumento de transtornos psiquiátricos, nomeada-  À Schering-Plough Farma, Lda.
                                                  30
          mente,  depressão,  ansiedade  e  abuso  de  álcool .  No   Aos trabalhadores envolvidos no estudo pela disponibilidade prestada
          nosso  estudo,  concluímos  que  18,7%  dos  trabalhadores   REFERÊNCIAS
          referiram  que  quando  têm  o  nariz  entupido,  obstruído   1. Cadar A. Fisiologia nasal. Boletim dos Centros de Estudos do INAMPS, MG, 2(7):
          ou  congestionado,  têm  problemas  no  sono.  Quanto  ao   M-34: Jan/Mar 1980.
          relacionamento  dos  problemas  do  sono  com  o  índice   2. Carmo M, Bárbara C, Ferreira S, Branco J, et al... Avaliação da função dos músculos
                                                            respiratórios em doentes com falência ventricular esquerda. Rev Port Pneumologia
          de  congestão  nasal,  o  índice  médio  dos  que  referiram   2001, VII(6):455-462.
          “a maior parte do tempo” foi de 9,8 (IC95% 8.2 – 9.5) (p   3. Roithmann R, Chapnik J. Obstrução nasal: Aspectos Gerais.  www.scribd.com/
                                                            doc/6539298/Obstrucao-Nasal-Livro-Art-Med  Acedido em Agosto 2010.
          <0.0001) e os que referiram “sempre” foi de 10,5 (IC95%   4. Ferreira MB, Almeida MM, Cardoso SM et al.. Congestão Nasal em Portugal –
          9.7 – 11.2) (p <0.0001).                          Epidemiologia e Implicações. Rev Port de Otorrinolaringologia e Cirúrgia Cérvico-
          Relativamente aos sintomas nasais relacionados com o   Facial 2008;46:151-60.
                                                            5. Bousquet J, Van Cauwenberge P, Khaltaev N, Aria Workshop Group; World Health
          envolvimento de outros órgãos, verificamos que 11%   Organization.  Allergic  rhinitis  and  its  impact  on  asthma.  J  Allergy  Clin  Immunol
          referiram  queixas  de  compromisso  sinusal  e  6%  de   2001;108(Suppl):S147-334.
          disfunção tubária.                                6. Dykewicz MS, Fineman S, Skoner DP, et al.. Diagnosis and managment of rhinitis:
                                                            complete guidelines of the Joint Task Force on Practice Parameters in Allergy, Asthma
          O  tabaco  é  frequentemente  responsável  por  um   and Immunology. Ann Allergy Asthma Immunol 1998;81:478-518
          desequilíbrio  neurovegetativo  com  repercussões  vaso-  7. Togias A. Unique mechanistic features of allergic rhinitis. J Allergy Clin Immunol
                                                            2000;105:S599-604.
          motoras  a  nível  das  fossas  nasais.  É  conhecida  uma   8. Immunology and Allergy Clinics of North America 20: Number 2, May 2000.
          morbilidade e mortalidade associadas ao consumo regular   9.  Teles  de  Araújo  T.  ONDR  –  Relatório  do  Observatório  Nacional  das  Doenças
          de tabaco, no entanto, não existem muitos estudos que   Respiratórias 2007. www.ondr.org/relatorios_ondr.html  Acedido em Agosto 2010.
          documentem a relação causa efeito entre o seu consumo   10. Strachan D, Sibbald B, Weiland S, et al.. Worldwide variations in prevalence of
                                                            symptons of allergic rhinoconjuntivitis in children: the International Study of Asthma
          e a congestão nasal. Apenas um estudo japonês  e um   and Allergy in Childhood (ISAAC). Pediatr Allergy Immunol 1997;8:161-76
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          estudo sueco  documentam uma correlação positiva entre   11.  Cruz  AA,  Popov  T,  Pawankar  R,  et  al..  ARIA  Initiative  Scientific  Committee.
                                                            Common characteristics of upper and lower airways in rhinitis and asthma: ARIA
          a obstrução nasal e o tabagismo, só no sexo feminino. No   update, in collaboration with GA(2)LEN. Allergy 2007;62(Suppl.84):1-41.
          entanto, neste estudo a prevalência de fumadores activos   12. Shedden A. Impact of nasal congestion on quality of life and work productivity in
          foi de apenas 16,5%, valor inferior ao de outros estudos   allergic rhinitis: findings from a large online survey. Treat Respir Med 2005;4:439-46.
                                                            13. Teles de Araújo A. Ambiente Urbano e Saúde – A Cidade, o Clima e os Cidadãos.


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