Page 100 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº1
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RINOSINUSITE  FÚNGICA INVASIVA:  A  PROPÓSITO DE  UM CASO ClÍNICO





                 Situações em  que também  coexiste  acidose        Alguns  dos organismos em  questão,  podem
              metabólica  (ex:  lnsuficência  Renal  Crónica,    ainda  dar origem  a  lesões  da  pele  do  nariz,
              Diarreia),  também  predispõem  ao crescimento     regiões  malares ou  lábio superior.
              destas espécies.                                      Pode  também  existir  invasão  de  estruturas
                 Além disso, certos  indivíduos,  nomeadamen-    adjacentes,  nomeadamente  órbita,  palato,  ba-
              te  diabéticos,  têm  uma  actividade  fagocítica   se  do crâneo,  podendo,  assim,  levar  a  altera-
              diminuída  por  parte  dos  leucócitos  polimorfo-  ções visuais  e oftalmoplegia,  trombose do seio
              nucleares,  o  que  permite  uma  taxa  de  cresci-  cavernoso ou alterções meningoencefálicas  15  •
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              mento fúngico aumentada .                             São considerados sinais clínicos  indicativos
                 Clinicamente,  é de suspeitar de RF  invasiva   de  mau  prognóstico a  hemiplegia,  necrose  fa-
                                                                                           5
              no caso  de doentes  imunocomprometidos com        cial e deformidades nasais .
              febre  (44%)7 e sintomas da área dos seios  pe-       No que diz respeito  ao estudo  radiológico,
              rinasais  (edema  periorbitário(34%),  dor facial,   ele  assenta,  fundamentalmente,  na  TC  e  na
              obstrução  nasal,  epistáxis,  entre  outros)  ou   Ressonância  Magnética Nuclear (RMN).
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              cefaleias •  •   •                                    Assim,  sempre que o  diagnóstico de rinossi-
                 Os  sinais  clínicos  mais  frequentemente  as-  nusite fúngica é considerado,  deve ser realiza-
              sociados  são  o  défice  de  nervos  craneanos    do um exame de TC com o objectivo de avaliar
              (especialmente  diminuição da  acuidade visual     a  extensão da doença.
              (30%),  oftalmoplegia(39%)  e  paralisia  facial),    Na  fase  inicial  podem  ser  apenas  visíveis
              proptose,  quemose,  edema  facial,  ulcera  do    sinais inflamatórios inespecíficos da mucosa.
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              palato,  coma,  estupor •  .7,   •                    Numa fase mais avançada, podem ser visua-
                 No caso de sintomas  neurológicos é de sus-     lizados sinais  de necrose,  erosão óssea  ou  de
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              peitar de invasão endocraneana  15  .              inflamação de estruturas vizinhas •  •
                 A  anestesia/hipostesia  da mucosa  nasal ou       A  TC  é  também  importante  para  avaliar a
              da região  malar é  também  um  sintoma  impor-    resposta ao tratamento.
              tante que pode levantar a suspeita de mucormi-        A  RMN,  nos  casos  de doença  invasiva  pa-
              cose,  nomeadamente  em  doentes  diabéticos       rece  ser mais sensível  do que a  TC  para detec-
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              com  mau  controlo glicémico ·   •   •             tar a  extensão  a  estruturas vizinhas,  nomeada-
                 Apesar  de  toda  esta  aparente  exuberância   mente  à  região  intracraneana  e  às  estruturas
              clínica que pode apresentar  uma  evolução em      vasculares  (ex:  artéria  carótida  ou  seio  caver-
              horas  ou  dias,  é  importante  estar  atento  aos   noso).
              sintomas  iniciais,  já que podem ser  subtis  11 16  •   A  infiltração dos  planos de gordura  perian-
                                                       •
                 O  exame  objectivo  permite  a  observação     trais,  parece  representar  a  evidência  imagio-
              de alterações  características  da  mucosa  (ulce-  lógica mais precoce de doença  invasiva  18 •
              rações,  granulações,  descolorações,  presença       Relativamente ao estudo analítico, as restan-
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              de crostas ou áreas  necróticasj3·  •  •   •   •   tes  alterações  parecem  ser  apenas  devido  à
                 Qualquer alteração justifica a realização de    patologia subjacente.
              exame histo-patológico e/ou cultura micológica 15  •   Nos casos de sinusite fúngica, os exames de
                 As alterações patológicas tendem a prevale-     aspirados  nasais,  com  coloração  específica  e
              cer na zona dos cornetas inferior e médio, com     cultura, podem aumentar o grau de suspeição se
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              compromisso dos seios maxilares e etmoidais ·  •   forem  positivos, mas a biópsia das lesões torna-
                Além  da  mucosa  nasal,  o  exame  deve         -se  mandatária para confirmar o  diagnóstico.
              incluir uma visualização da  mucosa  do palato        Histologicamente  há  abundante  tecido  ne-
              e faringe, dado ser  possível  a  invasão desta a   crosado, infiltração de PMN's e hifas, atingindo
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              partir dos seios perinasais • •                    a  mucosa,  submucosa e vasos  sanguíneos.

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