Page 99 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº1
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PEDRO MARQUES, MARGARIDA SANTOS, FERNANDO VALES, LAUDELINA PAIS CLEMENTE, M. PAIS CLEMENTE





             Outros  doentes  de  alto  risco,  parecem  ser    Uma vez dentro dos tecidos,  o  fungo torna-
          aqueles  com  Síndrome  de  lmunodeficiência       -se  angioinvasivo,  com  uma  predilecção  para
          Adquirida  (SIDA)  e  diabéticos  insulinodepen-   a  lâmina elástica  interna das artérias  12  •
          dentes.                                               Posteriormente  invade  o  sistema  venoso  e
             A  condição imunológica do indivíduo cons-      linfático.  Esta  invasão  leva  a  trombose  dos
          titui um factor determinante, mas não é o único,   vasos o que, por sua vez, conduz a fenómenos
          pois qualquer diminuição da barreira  de defe-     isquêmicos  e  necrose  hemorrágica,  de  evolu-
                                                                           13
          sas  do organismo,  pode  permitir a  ocorrência   ção centrífuga  •
          de um  quadro infeccioso.  (Tabela  2)                Este  facto  leva  à  formação  de  um  meio
             A  mucormicose  encontra-se  assim  funda-      ácido,  que vai  possibilitar  um  crescimento fún-
          mentalmente em  indivíduos debilitados, poden-     gico ainda mais exuberante e, assim, o aumen-
          do ocorrer não apenas  na  sua  forma  localiza-   to  dos  fenómenos  isquémicos,  com  necrose,
                                                                                        3 5 14
          da,  mas  também  na  forma  disseminada,  prin-   originando um  ciclo vicioso • ·  .  (Figura  8)
          cipalmente pulmonar.
             Nos  casos  de  doentes  diabéticos,  a  afini-
          dade  do  Rhizopus  Oryzae  para  com  estes  é
          devido à  sua  mais  fácil  proliferação em  ambi-
                                     5
          ente ácido e rico em  glicose .
             Doentes  diabéticos  com  mau  controlo  glicé-
          mico,  nomeadamente com acetoacidose, apre-
          sentam  uma  taxa  de  crescimento  de  mucormi-
          cose  mais rápida  11  •
             Histopatologicamente, o quadro característi-
                                                                     FIGURA 8: PROCESSO  FISIOPATOLÓGICO
          co é o  de invasão vascular.                             DO DESENVOLVIMENTO DE MUCORMICOSE.



                Defesas do Hospedeiro        M ecanismos de falência das defesas

               Barreiras mucocutâneas        Feridas,  Queimaduras,  cateteres EV,  ulcerações,
                                             outras infecções 1 O

                  Imunidade celular          Doenças crónicas  (ex:  diabetes,  neoplasias,
                                             nomeadamente as  que envolvem o  sistema  imune
                                             e Discrasias  sanguíneas),  Desnutrição, Corticoterapia,
                                             HIV, Q uimioterapia

                      Fagocitose             Granulocitopen ia

                  Poli morfon ucleares       Doenças granulomatosas crõnicas

                      M onócitos             Deficiência de Mieloperoxidase

                lmmunidade  humoral:         Deficiências congênitas
           Complemento e lmunoglobulinas

              Flora  bacteriana comensal     Antibióticos
                     TABELA  2: DEFESAS  DO HOSPEDEIRO CONTRA FUNGOS E MECANISMOS DE  FALÊNCIA  DAS MESMAS
                                          (ADAPTADO DE  THRASHER E KINGDOM').

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