Page 96 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº4
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Tabela 3                                          lesões isoladas do seio esfenoidal (57.9%), em
          Estirpes isoladas nos exames culturais realizados.   concordância com a literatura que mostra uma
                                                            prevalência de 61% a 80%. 1,2,4  Nas mais recentes
                                           Número (%)
          Estirpe isolada                                   séries publicadas, a rinossinusite crónica sem
                                           de doentes
                                                            pólipos nasais representa 28.3% dos casos,
          Staphylococcus aureus              1 (12.5%)
                                                            seguida  do mucocelo  (20.3%),  da sinusite
          Pseudomonas aeruginosa             1 (12.5%)      fúngica (12.5%) e da rinossinusite crónica
                                                                                      7
          Klebsiella pneumoniae              1 (12,5%)      com pólipos nasais (3.4%).  Na nossa amostra,
          Aspergillus sp.                     2 (25%)       no  grupo  das  patologias  inflamatórias,  a
                                                            sinusite fúngica representou a entidade
          Mucor                              1 (12,5%)
                                                            mais frequentemente diagnosticada, com
          Schizophyllum sp.                  1 (12,5%)
                                                            o mucocelo a constituir apenas 5.3% da
          Exame cultural negativo            4 (50%)        amostra. A discrepância apresentada poderá
          Note-se que em determinadas amostras foi isolada mais do que   ser imputada a uma amostra com um número
          uma estirpe. As percentagens foram calculadas com base no total
          de doentes submetidos a exame cultural (n=8).     reduzido de participantes.
                                                            No grupo da patologia neoplásica, as
         Durante o período de  follow-up, foram             neoplasias  malignas  foram  identificadas
         registadas 3 mortes (15.8%): doente com            numa prevalência superior à das neoplasias
         rinossinusite fúngica invasiva, 10 dias após a     benignas (27% e 18%, respetivamente), em
         cirurgia, por epistáxis maciça; doente com         concordância com a literatura.    4,7,8  Lawson
         metástase  de  carcinoma  urotelial,  16  dias     et al, em 1987, e posteriormente Cackmak
         após a cirurgia, por progressão da doença de       et al, em 2000, mostraram uma prevalência
         base;  doente  com  metástase  de  carcinoma       superior das neoplasias malignas primárias
         folicular da tiróide, 30 meses após a cirurgia,    comparativamente à doença secundária
         por progressão da doença de base.                  metastática.
                                                                        4,9
                                                            Contudo, analisando a amostra apresentada,
         Discussão                                          as neoplasias malignas esfenoidais ocorreram
         As lesões  isoladas  do seio  esfenoidal  são      exclusivamente por doença metastática.
         raras, representando <3% das lesões sinusais       As  fístulas  de  líquido  cefalorraquidiano
         e <0.05% das neoplasias malignas dos seios         representam  4.1   a 8%3 das  lesões  isoladas
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         perinasais. 2,10  Historicamente, o seio esfenoidal   do seio esfenoidal. No presente estudo,
         era amplamente negligenciado, por constituir       foi  incluído  apenas  um  caso  de  fistula  de
         uma área anatómica de difícil acesso e por         líquido cefalorraquidiano numa doente sem
         cursar com semiologia frustre e de instalação      história prévia de cirurgia nasossinusal ou
         insidiosa  que  atrasava  o  diagnóstico.   Wyllie   traumatismo cranioencefálico.
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         et al. publicaram, em 1973, uma das primeiras      A cefaleia foi o sintoma de apresentação
         grandes séries de lesões isoladas do seio          clínica mais frequente, estando presente em
         esfenoidal  com  apenas  63  casos  recolhidos     38.9% dos doentes. Num trabalho apresentado
         no decurso de 37 anos.  Em consonância com         por  Moss  et  al,  e que  constitui  até à  data
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         a crescente disponibilidade de modalidades         uma das revisões mais representativas com
         de  imagem  como  a  TC  e  a  RM,  tem  vindo  a   1133 doentes, os  autores demostraram uma
         verificar-se  um  número  crescente  de  casos     prevalência de cefaleia de 71.4%, não sendo
         reportados. Cakmak et al, em 2000, completou       possível estabelecer uma associação entre o
         a série anteriormente publicada por Wyllie         diagnóstico e a localização da cefaleia. 7
         et al, para formar a maior série disponível na     A maioria das séries reportadas revela uma
         literatura inglesa até à data, com 182 doentes.    prevalência superior de neuropatias cranianas
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         Na amostra estudada, a patologia inflamatória      nas lesões neoplásicas.
         representou a causa mais frequente de              Friedman et al demonstraram o compromisso



     368  Revista Portuguesa de Otorrinolaringologia - Cirurgia de Cabeça e Pescoço
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