Page 20 - Revista SPORL - Vol 58. Nº2
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SNSI. Inclusive, e de acordo com as recomendações mais       Rinossinusite aguda
recentes da AAO-HNS, a prescrição de CCT nas primeiras       Nos casos de rinossinusite aguda bacteriana severa, os
duas semanas após o início da sintomatologia é opcional.     CCT associados a antibioterapia poderão ter benefício
Em associação à corticoterapia sistémica, a oxigenioterapia  no alívio sintomático, ainda que por um curto período
hiperbárica é opcional e poderá ser implementada nas         de tempo18,19. A qualidade da evidência na literatura é
seguintes circunstâncias: nas primeiras 2 semanas após       considerada baixa20. Os efeitos adversos reportados são
o início da sintomatologia; ou como terapêutica de           ligeiros e incluem náuseas, vómitos e epigastralgias19.
resgate durante o primeiro mês após o início da SNSI9.       No que respeita ao tratamento da rinossinusite aguda
A corticoterapia intra-timpânica está recomendada em         viral, devido ao baixo nível de evidência, as guidelines
doentes com recuperação parcial, 2 a 6 semanas após o        mais recentes da EPOS não recomendam a corticoterapia
início da sintomatologia, ou como terapêutica inicial em     sistémica isolada20. Pelo contrário, a Academia Americana
doentes que não toleram corticoterapia sistémica9.           de ORL refere que a corticoterapia oral pode ser
Apesar da fraca evidência atual na literatura, a SNSI tem    administrada, em monoterapia ou associada a outros
um impacto negativo muito significativo na qualidade de      fármacos, para alívio sintomático19.
vida do doente. Além disso, os efeitos adversos associados
ao uso de CCT nesta patologia são raros. Segundo o           Rinossinusite crónica com polipose nasal
consenso da Sociedade Espanhola de Otorrinolaringologia,     Existe evidência de que, após 2 a 3 semanas de tratamento
a utilização de CCT orais e/ou intra-timpânicos deverá ser   com corticoterapia oral, os doentes com rinossinusite
implementada em todos os doentes com o diagnóstico de        crónica com polipose têm melhor qualidade de vida e
SNSI10.                                                      melhoria sintomática significativa comparativamente
                                                             aos doentes tratados com placebo, apesar de terem
Disfunção vestibular aguda unilateral idiopática (DVAI)      sido reportados efeitos adversos da corticoterapia,
O benefício da corticoterapia no tratamento de doentes       sobretudo alterações gastrointestinais e insónia21.
com disfunção vestibular aguda unilateral idiopática,        No grupo de doentes com rinossinusite crónica com
também denominada neuronite vestibular, ainda não foi        polipose, demonstrou-se que a administração conjunta
totalmente esclarecido. Até à data, o nível de evidência     de CCT por via oral e intranasal conduziam a uma
atual ainda não é o suficiente para recomendar o uso         franca diminuição dos pólipos ao final de 3 semanas de
sistemático de CCT nesta patologia11. Contudo, foi           tratamento. Na faixa etária pediátrica, comprovou-se que
demonstrado que o tratamento da DVAI com CCT em alta         a administração de metilprednisolona oral (1mg/kg/dia)
dose reduz o tempo de recuperação da função vestibular12.    com desmame progressivo perfazendo um total de 15
Assim, e apesar de ainda serem necessários estudos de        dias de tratamento, em associação a antibioterapia levou
maior qualidade, a corticoterapia sistémica é a única arma   a uma melhoria sintomática significativa em comparação
terapêutica com benefício demonstrado na DVAI.               com as crianças apenas sob antibióticos22. Globalmente, as
                                                             recomendações atuais são a favor do uso de CCT sistémicos
Disfunção da trompa auditiva e otite média com efusão        na rinossinusite crónica com polipose19,20. Uma vez que
(OME)                                                        o efeito da corticoterapia sistémica é inferior a 3 meses
A OME é a causa mais frequente de hipoacusia na              recomenda-se a associação a corticosteroides tópicos23.
população pediátrica. O prognóstico é bom, dado              O grupo EPOS2020 menciona um potencial benefício no
que mais de metade dos episódios de OME resolvem             tratamento com ciclos curtos de CCT sistémicos, uma ou
espontaneamente ao final de 3 meses e 95% resolvem ao        duas vezes por ano, nos casos em que a doença não está
final de um ano13. O papel dos CCT na OME é controverso.     controlada20. Em relação aos CCT sistémicos não existem
Estudos in vitro e em modelos animais demonstraram           dados suficientes para suportar a sua recomendação no
que os CCT reduzem a efusão e a pressão no ouvido            tratamento da RSC sem polipose nasal.
médio14. O estudo OSTRICH, o ensaio clínico mais recente
e que incluiu mais de 1000 crianças com OME, concluiu        Complicações da rinossinusite na criança
que a administração de um ciclo curto de prednisolona        Alguns estudos apontam para o benefício dos CCT
oral, apesar de bem tolerada, não é eficaz na maioria        sistémicos em crianças com complicações orbitárias
das crianças com idade compreendida entre os 2 e os 8        secundárias a rinossinusite aguda24,25. Foi demonstrado
anos15. A evidência científica aponta contra o uso de CCT    que a corticoterapia endovenosa é segura24,25 e diminui a
no tratamento de crianças com OME16.                         necessidade de antibioterapia após a alta24. Além disso,
Na população adulta, o uso de CCT na disfunção da trompa     Chen et al. demonstraram que a duração do internamento
auditiva e/ou OME é generalizado. Contudo, mais uma vez,     hospitalar diminuiu significativamente com a associação
a literatura acerca do uso de CCT nesta patologia é muito    de dexametasona endovenosa e antibioterapia25. Não
escassa, não havendo estudos com evidência científica        obstante, a prescrição de CCT por via endovenosa nos
suficiente que suporte o uso de CCT na OME no adulto17.      casos de rinossinusite aguda com complicações orbitárias
                                                             permanece controversa26.

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