Page 18 - Revista SPORL - Vol 58. Nº2

“otolaryngology” ou “otorhinolaryngology”, em que
foram extraídos os trabalhos acerca do mecanismo de
ação e aspetos moleculares com relevância para a prática
clínica em ORL, com base no título e resumo dos mesmos.
Posteriormente, a pesquisa foi dirigida às patologias de
ORL consideradas mais frequentes e relevantes, segundo
os autores deste trabalho. Nesta segunda pesquisa,
além dos termos Mesh já referidos, foram utilizados os
seguintes termos: “idiopathic facial nerve palsy”, “Bell´s
palsy”, “idiopathic sudden neurosensorial hearing loss”,
“vestibular neuronitis”, ”eustachian tube dysfunction”,
“otitis media with effusion”, “sinusitis”, “endoscopic
sinus surgery”, “peritonsillar abscess” e “laryngeal
edema”. Foram extraídos os trabalhos considerados mais
relevantes pelos autores, de acordo com o título e resumo
dos mesmos. Os artigos acerca de corticoterapia tópica e
escritos noutras línguas que não o Inglês, o Português ou o desprovidos de efeitos mineralocorticóides em doentes
Espanhol foram excluídos.
Seleção e análise dos artigos
Após a leitura integral dos artigos extraídos, foram
selecionados aqueles considerados de maior relevância,
dando ênfase aos artigos mais recentes, mais citados e
com maior nível de evidência científica, nomeadamente
ensaios clínicos, revisões sistemáticas/metanálises e
estudos de coorte prospetivos e retrospetivos. A análise
dos artigos selecionados foi concluída em abril/2020.
Elaboração do texto
O presente texto foi elaborado a partir da literatura
selecionada e analisada, de forma a descrever e discutir o
estado da arte no que respeita à utilização de CCT por via
sistémica em ORL.
RESULTADOS
CCT – breve contextualização biológica e farmacológica
Mecanismo de ação e aspetos moleculares
Os CCT sintéticos mimetizam os efeitos do cortisol, uma
hormona endógena produzida pelo córtex da glândula
suprarrenal em resposta ao stress. A secreção de cortisol
é regulada pelo eixo hipotálamo-hipofisário (EHH) através
de um mecanismo de feedback negativo. Este mecanismo
de feedback negativo perde-se em resposta a estímulos
de stress, como por exemplo a dor, o trauma, a anestesia,
entre outros. A principais propriedades dos CCT, que
justificam a sua utilização na prática clínica, são o seu
potente efeito anti-inflamatório, imunossupressor e anti-
proliferativo1.
Os CCT, atuando diretamente no DNA das células, regulam
diretamente a expressão génica e consequente síntese
proteica. Esta ação intracelular é o motivo pelo qual o
início de ação da corticoterapia pode durar horas a dias2.
Efeitos adversos
Os efeitos secundários provocados pela corticoterapia são
dependentes da dose e tempo de tratamento. Alguns dos
efeitos adversos mais importantes relacionam-se com o
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efeito que os CCT exercem a nível hormonal. Por exemplo,
os CCT interferem com o metabolismo da glicose, razão pela
qual é necessária prudência na prescrição de corticoterapia
em doentes diabéticos. Por outro lado, os CCT interferem
com o metabolismo dos lípidos favorecendo a obesidade
de tipo central e a síndrome de Cushing. Outros efeitos
adversos são a osteoporose e a necrose avascular do fémur
devidos a interferência no metabolismo fosfo-cálcico. Um
aspeto a ter em conta é o de que os CCT aumentam o risco
de hemorragia gastrointestinal, motivo pelo qual estão
relativamente contraindicados em doentes com úlcera
péptica. Existem relatos de distúrbios psiquiátricos, como
a depressão, induzidos pela corticoterapia com reversão
após supressão dos CCT. Alguns CCT têm um importante
efeito mineralocorticóide, interferindo com o balanço da
água. Assim, é de extrema importância a prescrição de CCT
com insuficiência cardíaca, renal e hepática3.
Do ponto de vista analítico, é importante salientar que
a corticoterapia pode alterar a contagem de glóbulos
brancos, o que pode mascarar estados inflamatórios. Mais
especificamente, os CCT induzem a desmarginalização
dos neutrófilos, o que leva a leucocitose com neutrofilia1.
A suspensão brusca da corticoterapia pode levar a
insuficiência suprarrenal por supressão do EHH, motivo
pela qual é realizado um desmame progressivo da
corticoterapia1,3. Apesar de não existirem recomendações
baseadas na evidência acerca do desmame da
corticoterapia, este é realizado de forma empírica, sendo
tanto mais necessário quanto maior for a dosagem e
duração do tratamento3.
Considerações farmacológicas
Os CCT disponíveis no mercado diferem em termos
de intensidade anti-inflamatória e atividade
mineralocorticóide (Tabela 1). A dexametasona e a
betametasona não possuem atividade mineralocorticóide.
A prednisona, a prednisolona e a metilprednisolona
têm pouca atividade mineralocorticóide, contudo
apresentam menor intensidade anti-inflamatória do que
a dexametasona e a betametasona. O deflazacorte não
apresenta atividade mineralocorticóide e pouco interfere
com o metabolismo da glicose e do fósforo-cálcio,
provavelmente devido ao seu efeito anti-inflamatório mais
reduzido comparativamente aos outros fármacos3,4.
Os CCT também diferem na sua duração de ação. A
hidrocortisona é o equivalente exógeno do cortisol. Tem
uma curta duração de ação (tempo de semivida de 8 a
12 horas) e é utilizada sobretudo por via endovenosa
em situações agudas/emergentes4. A prednisona e a
prednisolona são CCT de duração de ação intermédia
(semivida de 18 a 36h) e são os glucocorticóides mais
utilizados em ensaios clínicos. Ambos são ideais para
tratamento em regime de ambulatório. A prednisona
é metabolizada pelo fígado no seu metabolito ativo – a
prednisolona. Por este motivo, a prednisona não deve ser
utilizada em doentes com disfunção hepática3,4.