Page 32 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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a  ventriculocordectomia ,  onde  removia  totalmente  a   das Cordas Vocais” para recolha dos dados. Construiu-se
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          corda vocal e o ventrículo. Em 1939, King descreveu a   uma  base  de  dados  que  foi  trabalhada  nos  programas
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          aritenoidectomia  extra-laríngea,  e  em  1948  Thornell    Microsoft Excel 2013 e IBM SPSS Statistics 22.
          realizou a primeira aritenoidectomia endoscópica. Estes
          procedimentos  foram  sucessivamente  melhorados  até   RESULTADOS
          que, em 1984, Ossoff usou pela primeira vez o laser CO    Foram  diagnosticadas  47  PBCV  (41,6%)  e  66  PUCV  (40
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          para  realizar  a  aritenoidectomia .  Em  1989,  Dennis  e   à esquerda (35,4%) e 26 à direita (23,0%)), sendo que
          Kashima  descreveram a cordectomia posterior transversa   90 (79,6%) eram do sexo feminino e 23 (20,4%) do sexo
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          com  laser  CO ,  com  bons  resultados  ventilatórios.  A   masculino.  A  média  de  idades  à  data  do  diagnóstico
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          aritenoidectomia medial com laser CO  foi pela primeira   era de 53,04 anos +- 15,99 (mínima 13 e máxima 82). A
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          vez descrita por Crumley em 1993 , sendo uma técnica   etiologia foi variada, sendo que a iatrogenia foi a mais
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          que  preserva  os  dois  terços  anteriores  da  glote  (a   frequente  (66,4%).  A  cirurgia  tiroideia  foi  responsável
          porção membranosa), permitindo uma qualidade vocal   por 68 destes casos (90,7%); outra cirurgia cervical, como
          razoável.  Em  1983,  Lichtenberger  propôs  uma  opção   endarterectomia, cirurgia à coluna cervical ou correcção
          terapêutica  temporária,  a  sutura  endo-extralaríngea   de  divertículo  esofágico  (6,7%)  e  em  2  casos  pós-
          reversível (SEELR) , que permite uma melhoria da função   entubação, sendo que uma das doentes foi prematura
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          ventilatória  quando  ainda  pode  haver  potencial  de   de 24 semanas e necessitou de entubação oro-traqueal
          recuperação funcional.                            durante  1,5  anos.  Na  patologia  sistémica  inclui-se  um
          A  PUCV  tem  uma  manifestação  clínica  mais  insidiosa,   doente  com  lúpus  eritematoso  sistémico,  um  doente
          com  a  disfonia  como  sintoma  predominante.  O   com  esclerose  lateral  amiotrófica  e  um  doente  com
          tratamento  começa  invariavelmente  com  terapia  da   polineuropatia  alcoólica;  na  patologia  central  incluem-
          fala, de preferência com início precoce, e a sua evolução   se 2 doentes pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um
          pode  seguir  três  direcções:  recuperação  espontânea,   doente que esteve em anóxia prolongada. O trauma foi
          compensação  glótica  contralateral  que  permite   decorrente  de  acidentes  de  viação.  Nos  doentes  cuja
          uma  qualidade  vocal  aceitável,  ou  manutenção  da   etiologia foi uma infecção vírica, 5 deveram-se a infecções
          sintomatologia, com impacto significativo na qualidade   respiratórias superiores e 1 a encefalite vírica. A tabela 1
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          de vida  do  doente .  Nesta  última  situação,  o  doente   caracteriza a população e abordagem diagnóstica.
          pode ser submetido a um procedimento de medialização   A tabela 2 mostra a abordagem terapêutica inicial dos
          da  corda  vocal  paralisada,  de  modo  a  permitir  o   doentes  com  PBCV.  Num  dos  doentes  submetido  a
          encerramento  da  fenda  glótica,  com  consequente   miectomia tiroaritenoideia associada a cordopexia surgiu
          melhoria da função esfincteriana laríngea. Desde 1911,   uma  complicação  no  pós-operatório,  a  formação  de
          após a primeira laringoplastia por injecção realizada por   granuloma vocal, pelo que este doente foi submetido a
          Bruening , vários materiais para injecção laríngea foram   nova intervenção, com exérese da lesão e injecção local
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          usados,  autólogos  ou  heterólogos,  reabsorvíveis  ou   com prednisolona, com óptima resposta.
          permanentes, dependendo da situação clínica do doente.   Uma doente foi submetida a reinervação laríngea bilateral
          Outra técnica de medialização descrita inicialmente em   em  Paris,  em  2012,  conseguindo  uma  recuperação
          1915 por Payr, sistematizada e difundida  em 1974 por   completa  da  mobilidade  da  corda  vocal  esquerda  e
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          Isshiki   é  a  tiroplastia  tipo  I,  que  consiste  na  abertura   parcial  da  corda  vocal  direita,  com  melhoria  franca  da
          de uma janela na cartilagem tiroideia e na colocação de   dispneia e do engasgamento.
          uma prótese que permite a medialização da corda vocal.   Relativamente  à  PUCV,  a  maioria  dos  doentes  iniciou
          Posteriormente  (1978),  o  mesmo  autor  descreveu  a   terapia da fala, com bons resultados: 5 doentes tiveram
          adução da aritenóide como técnica complementar.   recuperação completa da mobilidade (8,5%), enquanto
          Este trabalho retrospectivo visa avaliar a experiência de   29  doentes  (49,1%)  conseguiram  uma  recuperação
          10 anos do nosso serviço na abordagem à PUCV/PBCV,   da  qualidade  vocal,  quer  à  custa  de  uma  recuperação
          sua terapêutica e resultados.                     parcial  da  mobilidade  quer  de  um  adequado  treino
                                                            de  compensação.  A  tabela  3  mostra  a  sua  abordagem
          MATERIAL E MÉTODOS                                terapêutica inicial.
          Foi feita uma pesquisa no programa informático “SClínico   Apenas  25  doentes  com  PUCV  (37,9%)  tiveram
          Hospitalar”  do  Centro  Hospitalar  Vila  Nova  de  Gaia/  necessidade de tratamento cirúrgico. De referir apenas
          Espinho  dos  doentes  com  o  diagnóstico  “Paralisia  das   que  num  doente  em  que  foi  realizada  lipoinjecção,  se
          Cordas Vocais” submetidos a intervenção cirúrgica entre   associou excisão de sulco GIII e vaporização de edema
          1 de Julho de 2004 e 30 de Junho de 2014, recolhendo-  de Reinke e que, um doente a quem foi diagnosticada
          se os dados relativos à etiologia, abordagem diagnóstica   lesão  expansiva  intracraniana,  foi  submetido  a  exérese
          e terapêutica e outcome. Também se pesquisou o livro   da mesma por Neurocirurgia, mantendo os défices.
          de  registos  de  nasofibrolaringoscopias  realizadas  em   A  maioria  dos  doentes  apresentou  uma  melhoria
          contexto de consulta no mesmo período, consultando-  subjectiva das suas queixas após a primeira intervenção.
          se os processos dos doentes com o diagnóstico “Paralisia   No entanto, dos doentes com PBCV, 9 referiram pouca

       94  REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL
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