Page 28 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
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Segundo a literatura internacional, os nódulos das cordas consultada. A indicação cirúrgica, segundo alguns autores,
vocais, são responsáveis por 38% a 78% das disfonias crónicas está reservada apenas para doentes com disfonia persistente
em crianças, sendo mais frequentes no sexo masculino, entre e significativa, após falha do tratamento conservador (terapia
os 6 e os 10 anos de idade. A apresentação dos nódulos da fala), representado segundo a literatura menos de 5% dos
9,10
das cordas vocais é a de uma lesão de massa, bilateral, casos. 10,12
simétrica em posição, mas variável em tamanho, localizada O quisto da corda vocal foi a segunda lesão mais frequente na
na transição do terço médio para o terço anterior das cordas nossa casuística, presente em 6 crianças (10%). No entanto, na
vocais, especialmente no meio da área vibratória, ou seja, literatura consultada estão descritas incidências ligeiramente
no ponto de maior amplitude de vibração das cordas vocais, superiores que variam entre 20% e 29%. O quisto da corda
8,14
onde ocorre maior contacto mecânico de superfície (fig. 1). vocal corresponde a uma lesão de origem epitelial, localizada
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Os nódulos das cordas vocais histologicamente representam na lâmina própria, revestida por epitélio estratificado (fig. 2).
uma hiperplasia do epitélio com inflamação e reação fibrótica O quisto pode ser de tipo epidermoide, quando proveniente
associada. 12 de ectopia do epitélio apresentando aparência de pérola, ou
de tipo de retenção mucoso, quando ocorre por obstrução de
FIGURA 1 um ducto glandular excretor. 15
Nódulos das cordas vocais (setas)
FIGURA 2
Quisto da corda vocal (seta)
O desenvolvimento de nódulos vocais é multifatorial sendo as
principais etiologias: o abuso vocal, os fatores psico-emocionais
e fatores predisponentes. O uso inadequado e exagerado da Na criança com quisto da corda vocal e disfonia importante
voz é um descrição frequente dos pais destas crianças, bem o tratamento cirúrgico é a melhor opção. No nosso
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como um perfil emocional de uma criança ansiosa, agitada departamento, no entanto, optou-se por tratamento primário
e por vezes agressiva. 12,13 Entre os fatores predisponentes, conservador através de terapia da fala pelas seguintes razões: a
alguns autores têm destacado as queixas de obstrução nasal limitação funcional era apenas ligeira a moderada, tratavam-se
e a atopia, fatores que também foram verificados no presente de lesões pequenas que não afetavam o encerramento glótico
estudo. Nestas situações, as condições que podem contribuir e que estavam em fases inicias do tratamento. Nestas lesões
para o desenvolvimento de nódulos das cordas vocais são: a terapia da fala permite uma melhoria da qualidade vocal,
inspiração de ar mal condicionado provocado obstrução contudo a presença permanente da lesão orgânica impede o
nasal recorrente, predispondo à desidratação da mucosa e completo sucesso da terapia da fala. Como se pode confirmar
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facilitando as infeções recorrentes ao nível das vias aéreas no estudo apresentado a evolução clínica foi desfavorável
superiores, assim como a resposta inflamatória da mucosa em 50% (n=3) das crianças com quisto da corda vocal que
laríngea aos alergénios, em pacientes atópicos. realizaram terapia da fala.
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O tratamento de eleição para os nódulos das cordas vocais A terapia da fala teve resultados positivos em 3 casos de
é a reeducação vocal através da terapia da fala. No entanto, parésia unilateral das cordas vocais: 2 casos após intubação
para que a terapia seja eficaz é essencial a consciencialização oro-traqueal prolongada e 1 caso de natureza idiopática.
da criança, familiares e educadores, para o não abuso A terapia da fala foi também eficaz em 1 caso de disfonia
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vocal nas atividades quotidianas. No nosso estudo, todos funcional, 1 caso de hipertrofia de bandas ventriculares e 1
os doentes com nódulos vocais que cumpriram de forma caso de pólipo da corda vocal. Esta última patologia é rara
regular as sessões de terapia da fala tiveram uma evolução em crianças e o tratamento cirúrgico está indicado em casos
clínica favorável, dado que está em linha com a bibliografia refratários à terapia da fala.
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90 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

