Page 35 - Portuguese Journal - SPORL - Vol 55 Nº2
P. 35

cordopexia.  Após  a  segunda  intervenção,  4  doentes   uma correcta compensação glótica (em 49,1%). Em 8,5%
          mantiveram queixas de dispneia no pós-operatório e 4   dos casos houve recuperação completa da mobilidade,
          doentes  referiram  inicialmente  melhoria  da  qualidade   enquanto que 42,4% dos doentes não tiveram melhoria
          ventilatória,  com  posterior  agravamento.  Deste  modo,   significativa.  Segundo  Mattioli  et  al.,  quanto  mais
          8 doentes foram novamente submetidos a intervenção   precoce a intervenção, melhores os resultados, pelo que
          cirúrgica  sendo  que,  na  avaliação  pós-operatória,  5   os doentes deverão ser orientados preferencialmente no
          doentes  apresentavam  melhoria  clínica  significativa,   primeiro mês de instalação, o que raramente é possível.
          enquanto  2  mantiveram  as  queixas  e  1  doente  referiu   Quando  houve  estabilização  da  sintomatologia  apenas
          melhoria  inicial,  com  posterior  agravamento.  Assim,  2   com terapia da fala, os doentes tiveram alta da consulta.
          doentes  foram  submetidos  a  terceira  revisão  cirúrgica:   Quando  é  necessário  recorrer  a  cirurgia,  o
          um  doente  realizou  injecção  de  toxina  botulínica,  com   acompanhamento  pós-operatório  do  doente  é  sempre
          melhoria  ventilatória  durante  3  meses  e  posterior   feito  com  avaliação  por  NFL  no  primeiro  dia  pós-
          agravamento, pelo que aguarda nova revisão; o segundo   operatório, ao fim de uma semana, um mês, 3 meses, 6
          doente  realizou  miectomia  tiroaritenoideia  associada   meses e a vigilância passa a ser anual quando o doente se
          a  cordopexia  contralateral,  com  estabilização  do  seu   encontra estável. Em todos os casos é feito repouso vocal      ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE
          quadro clínico. A tabela 5 mostra as reintervenções.  no pós-operatório durante pelo menos 10 dias e até ao
          Relativamente  ao  seu  destino,  6  doentes  aguardam   início de vocalização sem esforço.
          revisão  cirúrgica  por  sintomatologia  que  perturba  a   A principal opção cirúrgica foi a laringoplastia de injecção.
          vida  diária,  enquanto  8  tiveram  alta.  Vinte  e  quatro   Usou-se  preferencialmente  gordura  autóloga  peri-
          mantêm-se  em  vigilância  na  consulta,  com  quadro   umbilical, que é estabilizada com insulina e fragmentada,
          clínico estabilizado e 2 doentes submetidos inicialmente   com  posterior  injecção  bilateral.  É  sempre  feita  uma
          a  traqueostomia  faleceram.  Seis  doentes  faltaram  às   sobreinjecção, para compensar a reabsorção que ocorre
          consultas de seguimento e 1 doente foi reenviado ao seu   durante  o  período  pós-operatório.  Inicialmente  este
          hospital de origem.                               material era descrito como tendo uma duração limitada,
                                                                          7
          Dos  doentes  com  PUCV,  apenas  6  necessitaram  de   entre 3 a 6 meses . No entanto, outros estudos mostram
          revisão  cirúrgica,  e  um  dos  doentes  submetidos  a   que esta se mantém estável após o período de reabsorção
                                                                                                        12
          injecção  com  hidroxiapatite  de  cálcio  já  realizou   parcial inicial, com um efeito que se prolonga no tempo .
          laringoplastia de medialização; como manteve qualidade   A nossa experiência vai ao encontro destes últimos dados,
          vocal  insatisfatória,  em  2013  realizou  injecção  com   uma  vez  que  temos  doentes  que  se  mantêm  estáveis
          polidimetilsilossano  (vox  implant®),  noutra  instituição,   após 10 anos de follow-up. A hidroxiapatite de cálcio, na
          tendo  passado  a  ser  vigiada  na  mesma.  Vinte  e  oito   sua forma injectável, consiste em microesferas suspensas
          doentes tiveram alta da consulta, enquanto 25 se mantêm   num  gel  de  carboximetilcelulose,  e  é  muito  bem
                                                                   15
          em  vigilância.  Sete  doentes  faltaram  às  consultas  de   tolerada . Sofre uma reabsorção previsível, pelo que tem
          seguimento.                                       um período limitado de benefício (entre 12 a 36 meses).
                                                            Yung et al. teorizam que a melhoria clínica durante um
          DISCUSSÃO                                         período  mais  prolongado  poderá  ser  explicada  porque
          A  paralisia  das  cordas  vocais  implica  um  distúrbio   esta  técnica  vai  permitir  um  melhor  posicionamento
                                                    7
          da  mobilidade  decorrente  de  lesão  neurogénica .  A   da  corda  vocal  imobilizada  no  período  inicial  após  a
          etiologia é variada, mas a lesão iatrogénica é o principal   lesão,  que  se  mantém  por  reinervação  sincinética.  Na
          factor 10-11 . Se não tiver havido secção do nervo durante   nossa  experiência,  é  uma  técnica  segura,  não  tendo
                                                12
          a  intervenção  cirúrgica,  Sapundzhiev  et  al.   dizem   sido  registadas  complicações  e  com  bons  resultados,
          haver  um  potencial  de  recuperação  que  pode  chegar   permitindo  uma  melhoria  efectiva  da  qualidade  vocal
          aos  86%.  A  sintomatologia  mais  frequente  na  PUCV  é   sem compromisso respiratório.
          a disfonia, enquanto na PBCV é a dispneia. O objectivo   Na  PBCV  a  cirurgia  é  a  melhor  arma  terapêutica,  uma
          do  tratamento  é  sempre  a  resolução/melhoria  dos   vez  que  a  terapia  da  fala  tem  poucos  resultados  e  o
          sintomas, o que implica um equilíbrio difícil e precário   compromisso respiratório tem um efeito mais deletério
          entre a ventilação, a fonação e a deglutição. Na PUCV há   na qualidade de vida dos doentes. Nos casos extremos,
          uma incompetência glótica, pelo que o tratamento passa   a traqueostomia é necessária para assegurar a via aérea;
          pela medialização da corda vocal afectada, melhorando a   no entanto, assim que possível é tentada uma técnica de
                     13
          função glótica . Já na PBCV, quando a queixa principal é   lateralização  que  permita  o  encerramento  da  mesma,
          dispneia, ou até mesmo estridor, com repercussão grave   uma  vez  que  é  um  procedimento  que  compromete
          na vida diária do doente, o objectivo é aumentar a fenda   grandemente a qualidade de vida do doente. A SEELR é
          glótica,  melhorando  a  função  ventilatória,  mas  muitas   uma técnica temporária e que permite um compromisso
          vezes  à  custa  de  um  comprometimento  da  qualidade   entre  fonação  e  ventilação,  uma  vez  que  se  lateraliza
                                      14
                                                                                           16
          vocal e eventual risco de aspiração .             apenas  a  porção  posterior  da  glote .  Em  3  doentes
          Nos doentes com PUCV, muitas vezes a terapia da fala   foi  possível  remover  a  sutura,  uma  vez  que  esta  não
          é suficiente para um resultado satisfatório, promovendo   impede uma possível recuperação funcional, mantendo-
                                                                                       VOL 55 . Nº2 . JUNHO 2017 97
   30   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40