Page 77 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
P. 77
FIGURA 7 dirigida quer ao osso temporal quer ao compartimento
intracraniano. No caso do nosso doente, optou-se
pela via da fosse infratemporal do tipo A. Esta técnica
cirúrgica extensa e complexa inclui a realização de um
petrosectomia subtotal.
A petrosectomia subtotal consiste numa remoção
completa de todas as porções pneumatizadas do osso
temporal, ou seja, de todas as células mastoideias mas
ainda das células localizadas nas regiões retrosigmóideia,
infralabirintica, peritubária e pericarotídea. Os passos da
técnica cirúrgica incluem: 1) Uma incisão retroauricular,
que pode ter um prolongamento superior temporal e
outro inferior cervical; 2) O encerramento em fundo
de saco do canal auditivo externo; 3) A remoção do
martelo, bigorna e cruras estapedicas, bem como de CASO CLÍNICO CASE REPORT
FIGURA 8 pele do canal auditivo externo; 4) A eliminação de
todas as células do osso temporal, já mencionadas,
assim como da parede superior e posterior do canal
auditivo externo; 5) A obliteração da trompa de
Eustáquio; e 6) A obliteração da cavidade com gordura
abdominal. Em casos muito seleccionados (infecção),
em vez da obliteração da cavidade do osso temporal
e do encerramento do canal auditivo externo, pode
constituir-se uma larga cavidade que é aberta para o
exterior através de uma meatoplastia larga.
Na petrosectomia subtotal o objectivo final é a
preservação da cápsula ótica e de uma fina camada de
cortical óssea a cobrir a dura. Contudo, se for necessário,
a cápsula ótica e o canal auditivo interno podem ser
incluídos na ressecção, preservando-se apenas o osso
No controlo imagiológico pós-operatório imediato e em torno do porus acústico .
22
tardio não se verificou recidiva tumoral. Apesar da petrosectomia subtotal ter sido realizada,
Actualmente, o doente encontra-se clinicamente no nosso doente, como um procedimento associado
recuperado e sem défice na função do nervo facial. a outros tempos cirúrgicos complementares, existem
algumas indicações para que a petrosectomia subtotal
DISCUSSÃO seja realizada como um procedimento cirúrgico
O paraganglioma é o tumor benigno mais frequente no isolado: fístulas de liquor com origem no osso temporal
ouvido médio e no osso temporal. As opções terapêuticas (exemplo: fractura transversal do rochedo interessando
nestes tumores dependem das características do o labirinto), pós-traumáticas ou iatrogénicas;
mesmo, bem como das particularidades ou da vontade colesteatomas supra e infralabirinticos; e lesões
do doente em questão. Alguns casos necessitam apenas tumorais, o caso do nosso doente.
de vigilância imagiológica periódica, eventualmente
associada à supressão dos efeitos vasoactivos dos CONCLUSõES
tumores secretores com α-bloqueantes e β-bloqueantes. Muitas das técnicas cirúrgicas que se dirigem ou que
As outras opções terapêuticas são a radioterapia e passam através do osso temporal obrigam à eliminação
a cirurgia. A terapêutica cirúrgica é considerada o definitiva de todas as suas células. Esta obriga à
tratamento de eleição para os paragangliomas do osso obliteração da cavidade cirúrgica que, por sua vez tem
temporal e única modalidade terapêutica curativa. que ser associada ao encerramento do canal auditivo
A abordagem cirúrgica escolhida varia consoante a externo e à obliteração da trompa de Eustáquio, para
localização e a extensão dos tumores. Por exemplo, o evitar a infecção.
glomus timpânico (Classe A) pode ser removido por Este trabalho pretendeu demonstrar a utilidade da
uma timpanotomia exploradora clássica enquanto petrosectomia subtotal a propósito de uma abordagem
que um tumor da Classe D já implica uma abordagem
VOL 50 . Nº1 . MARÇO 2012 75

