Page 75 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
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Ao  exame  objectivo  otorrinolaringológico  realizado   FIGURA 2
         neste hospital, o doente apresentava membrana      Ressonância magnética: presença de uma lesão ocupando
                                                            e expandindo a fossa jugular direita, estendendo-se ao
         timpânica  direita  abaulada,  intacta  e  móvel,   hipotimpano adjacente, com hipersinal em T2, iso/hipersinal
         visualizando-se nos quadrantes inferiores imagem   em T1 relativamente ao parênquima encefálico e intenso
                                                            realce nas imagens obtidas após contraste com gadolínio.
         em meia-lua, de coloração avermelhada e pulsátil. Na   Diâmetros crânio-caudal, transversal e antero-posterior
         acumetria, o teste de Weber era indiferente e o Rinne   máximos de 22 x 26 x 13 mm. A lesão condiciona erosão/
         era positivo bilateralmente. O restante exame objectivo   moldagem das paredes ósseas da fossa jugular e envolve
                                                            parcialmente a extremidade cervical distal e a porção intra-
         não apresentava outras alterações a não ser o aumento   petrosa inicial do canal carotídeo que, contudo, mantém
         difuso do volume da glândula tiroideia.            lúmen permeável e calibre normal. Sem extensão ao espaço
                                                            cisternal adjacente. Sem alterações do labirinto membranoso
         O audiograma evidenciava hipoacusia sensorineural de   e canal auditivo interno à direita. Normal configuração dos
         grau moderado a severo bilateral, exclusivamente nas   VII e VIII pares craneanos. Provável glómus jugulo-timpânico,
                                                            embora não se observe o sinal típico destas lesões em “sal e
         frequências agudas, simétrica e de perfil descendente.   pimenta” pela presença de vasos no seu interior.
         O timpanograma era normal.
         A tomografia computorizada (TC) dos ouvidos revelou
         uma lesão de características tumorais no ouvido direito,                                                  CASO CLÍNICO CASE REPORT
         compatível  com  glomus  jugulo-timpânico  (Figura  1),
         pelo que o doente foi referenciado para o Hospital de
         Egas Moniz para tratamento cirúrgico.

         FIGURA 1
         TC: lesão compatível com paraganglioma jugulo-timpânico,
         centrada no foramen jugular, com expressão sobre o
         hipotímpano e adjacente ao canal carotídeo.







                                                            QUADRO 1
                                                            Classificação de Glasscock-Jackson e Fisch para Tumores
                                                            Glômicos

                                                             Classe A: tumor do ouvido médio (glómus timpânico)
                                                             Classe B: tumor limitado à área timpanomastoideia sem
                                                             envolvimento infralabirintico
                                                             Classe C: tumor com extensão e destruição óssea
                                                             infralabirintica e compartimentos apicais do osso temporal
                                                              •C1: erosão óssea do foramen jugular e bulbo jugular com
         Neste  hospital  a  hipótese  diagnóstica  colocada  foi   envolvimento limitado do segmento vertical do canal
                                                                 carotídeo
         igualmente a de glomus jugulo-timpânico. A ressonância   •C2: erosão infralabirintica do osso temporal, com invasão
         magnética revelou uma lesão de cerca de 22 X 26 X 13    do segmento vertical do canal carotídeo
         mm, que realçava intensamente o gadolínio (Figura 2).   •C3: envolvimento dos compartimentos infralabirintico
         Esta lesão localizava-se na fossa jugular direita com   e apical do osso temporal com invasão do segmento
         expansão da mesma e com extensão ao hipotímpano         horizontal do canal carotídeo
         adjacente, não condicionando outras alterações,     Classe D: tumores com extensão intracraniana intradural
         nomeadamente alterações do labirinto membranoso e    •D1: Extensão ≤ 2cm
         canal auditivo interno à direita.                    •D2: Extensão > 2cm
         Após a avaliação imagiológica, foi atribuído ao tumor   •D3: Extensão intracraniana intradural inoperável
         um estadio da Classe C (C1) de Fisch (Quadro 1) .
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         O  caso  clínico  foi  discutido  na  Consulta  de
         Otoneurocirurgia  do Hospital  de Egas  Moniz
         (Otorrinolaringologia e Neurocirurgia) e foi decidido
         o tratamento cirúrgico, após discussão e obtenção de
         consentimento informado, que incluiu uma explicitação




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