Page 70 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
P. 70
DISCUSSÃO casos de CAC, existe aumento da expressão do EGFR
Na laringe, apesar de extremamente raro, o CAC surge (receptor do factor de crescimento epidérmico) e do
com maior frequência na região subglótica. Segundo VEGF (factor de crescimento vascular endotelial). 1,2
Zvrko et al., 64% dos CAC da laringe são sub-glóticos, Apesar da recorrência local ser rara, a metastização
25% são supraglóticos, 5% glóticos e 6% transglóticos, à distância ocorre em cerca de 16-35% dos casos. 5,7
reflectindo a disposição das glândulas salivares minor Infelizmente a sobrevida é baixa com um prognóstico
nesta região anatómica. 4,6,7 É muitas vezes indolente até aos 15-20 anos inferior a 20%. A causa de morte mais
1,8
que atinja um tamanho considerável, como foi o caso frequente, nestes doentes, é a disseminação à distância
da doente referenciada, podendo ser confundido com que poderá ocorrer mesmo decorridos 10 anos após
2
asma. 1,8 o tratamento. Os parâmetros predicativos de recidiva
As PFR são exames que podem ser úteis para o serão o estadiamento tumoral avançado à data do
diagnóstico, uma vez que vão revelar um padrão tratamento, as margens cirúrgicas positivas e invasão
ventilatório obstrutivo. Existe uma relação FEV1/FVC perineural. 2,3,5
diminuída e o fluxo inspiratório forçado a 50% (FIF50%) Em resumo, o estadiamento avançado, o tipo sólido,
2,8
encontra-se reduzido. Muitas vezes só através a localização fora da cavidade oral, a expressão
de outros exames complementares de diagnóstico, aumentada de p53 e da oncoproteína EGFR são factores
1,5
nomeadamente de TC e RMN, é possível identificar o de mau prognóstico independentes para o desfecho.
2,8
local de obstrução. Nestes casos, deve-se considerar, Factores clinicopatológicos com mau prognóstico são
como diagnóstico diferencial, obstruções da via aérea, também idade avançada, atingimento de nervo major
2,6
tais como neoformaçoes traqueais, estenose subglótica e ressecção cirúrgica incompleta. O tabaco não foi
2
e imobilidade das cordas vocais. Outros possíveis determinado como sendo factor de risco para este tipo
diagnósticos diferenciais são: neoplasias benignas de neoplasia. 2,6
das glândulas salivares, neoplasias malignas como o
carcinoma linfoepitelial, carcinomas neuroendócrinos, CONCLUSÃO
neoplasia tiroideia, neoplasia esofágica, alterações Os CAC na região subglótica são raros e difíceis de
benignas endolaríngeas como artrite reumatóide e diagnosticar numa fase inicial, sendo necessário um
granulomatose de Wegener. 2 elevado grau de suspeição. Deve portanto ser ponderada
8
Vários estudos demonstraram que a cirurgia é a melhor a existência de um tumor laríngeo ou traqueal, como
opção de tratamento, embora a decisão de ser ou não por exemplo um CAC, caso a sintomatologia respiratória
complementada com RT se mantenha controversa, dada obstrutiva (ex: dispneia, estridor) não melhore apesar
a pouca frequência de casos 2,5-8 . Os maiores estudos da medicação instituída. 8
referentes ao tratamento do CAC da cabeça de pescoço, São necessários mais estudos prospectivos multicêntricos,
elaborados por Silverman et al. (2004) e Chen A.M. para determinar qual a melhor opção de tratamento
et al. (2006) vieram revelar que não existe diferença para os CAC, mas dado o comportamento tumoral
estatisticamente significativa entre os doentes tratados e a possibilidade de disseminação perineural e de
com cirurgia isoladamente e cirurgia combinada com RT. metástases à distância, parece-nos importante recorrer
Devemos no entanto fazer aqui uma ressalva, dado que a todas os meios ao nosso dispor para tratar esta
apenas 1-3% dos casos referenciados nestes estudos neoplasia, nomeadamente cirurgia electiva alargada
estão localizados na via aérea superior. 5 e posterior RT. O seguimento a longo prazo destes
Segundo Zald et al., no caso de se optar por RT será doentes é obrigatório. 6,7
benéfico utilizar feixe de neutrões, em vez de fotões
ou electrões. O feixe de neutrões tem um factor de
“Oxygen Enhancement” baixo, ou seja, a dose a ser
utilizada para produzir efeito terapêutico está pouco
dependente da presença de oxigénio o que origina uma
radiossensibilidade constante ao longo do ciclo celular.
2
Este tipo de radiação está indicada para tumores
hipóxicos e com crescimento lento, como é o caso do
CAC.
2
A quimioterapia neste tipo de tumor não tem indicação.
2
Vários alvos moleculares têm sido testados para tentar
optimizar o tratamento, tendo-se verificado que, nos
68 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL

