Page 56 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 50 Nº1
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parcial do corneto médio quando limita a visibilidade Apresentamos dois casos clínicos de abcesso
ao cirurgião, em determinadas variantes anatómicas subperiosteal da órbita secundário a sinusite aguda em
e degenerescência polipóide, e se se prevê a sua adolescentes. Em ambos os casos procedeu-se a cirurgia
lateralização . endoscópica nasosinusal com necessidade de ressecção
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À medida que aumenta a incidência de sinusite em parcial do corneto médio por variante anatómica, por
idade pediátrica, não só surge a questão da importância um lado cofactor etiológico do quadro clínico e por
das variantes anatómicas como factor etiológico, outro um obstáculo à visão do cirurgião.
como a cirurgia endoscópica nasosinusal, ainda que
controversa, assume uma importância crescente Caso Clínico 1
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nesta faixa etária . É globalmente aceite pela maioria Adolescente, sexo masculino, 12 anos de idade,
dos autores que devido às alterações anatómicas com quadro de dor e edema da pálpebra superior
nasosinusais que acompanham o crescimento do maciço esquerda, com proptose, limitação da supra-ducção e
facial na criança e adolescente, assim como a eventual diplopia horizontal (Figura 1A). A TC mostrava abcesso
necessidade de cirurgia endonasal ao longo da vida, subperiosteal do tecto da órbita esquerda associado
a preservação do corneto médio deve ser a regra na a preenchimento fronto-etmoido-maxilar ipsilateral
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população pediátrica . Nas situações em que é inevitável (Figura 1C, 1D, 1E). Foi efectuada drenagem cirúrgica
a manipulação do corneto médio, nomeadamente em do abcesso via externa transpalpebral transeptal
determinadas variantes anatómicas, a sua ressecção pela Oftalmologia ao 6º dia de terapêutica médica
deve ser a mais conservadora possível . (ceftriaxone, metronidazol e prednisolona e.v.). Após
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melhoria inicial, ao 4º dia pós-operatório verificou-
Quando surgem complicações de sinusite na criança, -se novo agravamento clínico confirmando-se em TC
o envolvimento orbitário ocorre na maioria dos casos presença de abcesso subperiosteal do tecto da órbita de
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(cerca de 91%) . Nos anos 70 foi proposta por Chandler características semelhantes ao inicial com melhoria do
uma classificação das complicações orbitárias de preenchimento dos SPN (Figura 2). Iniciou gentamicina
sinusite (Tabela 1). A celulite periorbitária pré-septal e optou-se por segunda abordagem cirúrgica conjunta
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(grupo 1 da classificação de Chandler) é a situação mais entre ORL e Oftalmologia que novamente procedeu a
frequente causada pela obstrução da drenagem venosa, drenagem de abcesso subperiosteal do tecto da órbita
via externa transeptal aproveitando a incisão cutânea
TABELA 1 transpalpebral previamente utilizada. A abordagem
Classificação das complicações orbitarias da Sinusite segundo
Chandler ORL foi endoscópica. Ao constatar-se corneto médio
paradoxal condicionando obstrução do complexo
Grupo I Edema Inflamatório (Pré-Septal) osteomeatal (Figura 1B), optou-se pela sua ressecção
Grupo II Celulite Orbitaria (Pós-Septal) parcial com abertura de janela sobre o meato médio
Grupo III Abcesso Subperiosteal (Extracónico) que permitiu efectuar meatotomia média, libertando
Grupo IV Abcesso Orbitário (Intracónico) assim a drenagem do etmóide anterior, seio maxilar e
recesso frontal.
Grupo V Trombose Seio Cavernoso
Foi removido dreno externo da órbita ao 5º dia pós-
e geralmente tem óptimos resultados com tratamento operatório e verificou-se melhoria progressiva do
médico . As infecções pós-septais como o abcesso quadro, tendo tido alta hospitalar ao 9º dia pós-
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subperiosteal (grupo 3), são complicações raras mas operatório (Figura 3). Em ambulatório foi observado
que colocam o doente em risco de amaurose, meningite semanalmente durante um mês com desbridamento via
e abcesso cerebral . A cirurgia nestas situações está endoscópica. Foi reavaliado 6 e 12 meses depois e não
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indicada quando há envolvimento intracraniano, quando apresentava alterações do olfacto ou crostas.
se prevê ou se verifica sofrimento do nervo óptico ou
quando não há resposta após pelo menos 48 horas
de antibioterapia sistémica . A cirurgia endoscópica
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é uma técnica minimamente invasiva e segura que
permite evitar a etmoidectomia externa, a consequente
cicatriz facial, e possibilita a drenagem eficaz dos seios
perinasais afectados e do abcesso subperiosteal da
órbita ao mesmo tempo que pode resolver a doença do
complexo osteomeatal .
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