Page 69 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 49. Nº3
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FIGURA 3                                           lingual da epiglote e as cordas vocais 5,10,12 .
         Remoção da última porção de quisto na face lingual da   Na população pediátrica dado o menor calibre da via
         epiglote (imagem peroperatória)
                                                            aérea,  os  sintomas  relacionados  com  a  obstrução  da
                                                            mesma, são mais frequentes do que no adulto, sendo
                                                            que  num  recém-nascido  a  presença  de  um  quisto
                                                            laríngeo congénito deverá sempre ser uma hipótese a
                                                            considerar 15,16 .
                                                            O  tempo  de  evolução  dos  sintomas  é  muito  variável,
                                                            havendo  pelo  menos  um  em  que  o  diagnóstico  foi
                                                            realizado  durante  a  autópsia,  onde  se  verificou  a
                                                            presença de um mucopiocelo supraglótico obstruindo
                                                            totalmente a via aérea superior, até casos em que os
                                                            sintomas  estiveram  presentes  durante  cerca  de  uma
                                                            década 1,2,3,12 . No entanto o tempo médio descrito entre
                                                            o início da sintomatologia e o diagnóstico, é cerca de       CASO CLÍNICO CASE REPORT
                                                            um ano 5,12 .
                                                            O caso apresentado, para além da sua evolução rara e
                                                            galopante, torna-se um caso singular dado ter havido
         FIGURA 4                                           paragem  cardio-respiratória  que  apenas  foi  possível
         Laringoscopia rígida 30 meses após a cirurgia      reverter, uma vez que o paciente se encontrava na sala
                                                            de espera do serviço de urgência.
                                                            Embora  o  exame  objectivo  e  os  dados  analíticos
                                                            apontassem  para  um  quadro  infeccioso  agudo,  só  foi
                                                            possível  uma  avaliação  laríngea  adequada,  três  dias
                                                            após  tratamento  com  corticoterapia  endovenosa  e
                                                            antibioterapia empírica de largo espectro. Não obstante
                                                            a  evolução  fulminante  levasse  a  pôr  como  primeira
                                                            hipótese de diagnóstico, um quisto laríngeo infectado,
                                                            o  diagnóstico  diferencial  com  abcesso  da  epiglote
                                                            só  foi  confirmado  através  do  resultado  anatomo-
                                                            -patológico 3,6,10 . A cultura do exsudado proveniente do
                                                            quisto laríngeo foi positiva para Escherichia coli, o que
                                                            está de acordo com outros casos relatos .
                                                                                             6
                                                            A  abordagem  destas  lesões  varia  de  acordo  com  a
         DISCUSSÃO                                          apresentação  clínica.  Nos  casos  em  que  a  obstrução
         Os quistos da laringe são incomuns, correspondendo a   da via aérea é a apresentação inicial, a manutenção da
         cerca de 5% das lesões benignas da laringe 13,14 .  mesma é a prioridade, podendo passar por entubação
         Após a classificação dos quistos da laringe de DeSanto et   oro ou nasotraqueal ou traqueostomia.
         al  em 1970 10,11 , surgiram outras classificações baseadas   Várias  modalidades  de  tratamento  têm  sido  descritas
         em  diferentes  critérios  (Newman  et al,  1984   ;Arens   para a exérese de quistos da laringe de acordo com a sua
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         et al  ,1997 ),  no  entanto  a  classificação  de  DeSanto   localização, tais como aspiração por agulha fina, incisão
         permanece a mais utilizada na caracterização de quistos   e  drenagem,  vaporização  com  laser  CO   e  excisão  via
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         da  laringe .  DeSanto  distinguiu  os  quistos  laríngeos   externa  ou  microlaringoscópica.  No  entanto  a  melhor
         em  saculares  e  ductais,  em  que  os  quistos  ductais   abordagem  é  aquela  que  permita  uma  ressecção  da
         foram descritos como lesões superficiais mucosas que   totalidade  da  parede  do  quisto,  minimizando  assim  o
         podem  ocorrer  em  qualquer  parte  da  laringe,  como   risco  de  recidiva.  No  caso  dos  quistos  ductais  supra-
         resultado da retenção de fluido nos ductos colectores   glóticos  a  microlaringoscopia  em  suspensão  com
         ou  glândulas  mucosas,  e  os  quistos  saculares  como   exérese  por  dissecção  ou  através  de  laser  CO , é o
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         dilatações submucosas, do sáculo como consequência   método de escolha para o tratamento 5,12,17 .
         da obstrução do orifício sacular, no ventrículo laríngeo.
         Cerca de três quartos dos quistos laríngeos são do tipo
         ductal  e  têm  como  localização  mais  frequente  a  face



                                                                                      VOL 49 . Nº3 . SETEMBRO 2011     195
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