Page 39 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48 Nº4
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outro  RN  permanece  em  vigilância.  A  avaliação  no   Vários  RANU  têm  sentido  dificuldades  em  avaliar  a
          berçário,  associada  a  avaliação  otorrinolaringológica,   quase totalidade da população-alvo. 1
          complementadas  por  OEA  e  no  último  nível  por   Na  nossa  instituição  o  rastreio  auditivo  em  RN  sem
          PEA,  englobou  96%  da  população  inicial,  tendo  sido   factores de risco englobou 96% do total de RN, o que de
          perdidos 108 casos (4%). Neste trabalho verificou-se,   acordo com o JCIH traduz um indicador de qualidade.
          respectivamente, uma referenciação de 10% e 0,92%.   A avaliação no berçário, complementada por avaliação
          O índice de falsos positivos encontrado foi de 0,42%.  otorrinolaringológica, OEA e no último nível por PEA,
          Dos  RN  internados  na  UCIN,  com  ou  sem  outros   englobou 96% da população inicial, tendo sido perdidos
          factores de risco, foram avaliados 175 (83%) por OEA   108 casos (4%). Nos anos iniciais da implementação dos
          numa primeira fase. A avaliação subsequente dos RN   RANU em diversos países a perda de follow-up tem-se
          que falharam esta primeira avaliação permitiu detectar   tornado um desafio significativo. 20
          cinco  com  patologia  bilateral  e  um  com  hipoacusia   Alguns autores não encontraram nenhuma associação
          unilateral. O RN com patologia unilateral corresponde   entre  os  factores  socioeconómicos  maternos  e  perda
          a  uma  criança  com  um  síndrome  polimalformativo,   de crianças no follow-up. Referem contudo, que talvez      ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE
          caracterizado  por  displasia  dos  pavilhões  auriculares,   possa ser atribuído ao sistema de rastreio, métodos de
          atrésia  do  canal  auditivo  externo  e  ouvido  médio   localização ineficazes em ambulatório ou dificuldades
          associada  a  dilatação  bilateral  dos  aquedutos   no reconhecimento do diagnóstico pelos pais. 20-21
          vestibulares diagnosticado por TC dos ouvidos.    De acordo com o JCIH, os objectivos para a população
          Dos  doentes  com  patologia  bilateral,  quatro  são   sem  factores  de  risco  consistem  na  referenciação  de
          prematuros, dois com muito baixo peso ao nascimento.   menos  de  10%  das  crianças  para  o  2º  nível  (OEA)  e
          Um  RN  diagnosticado  com  síndrome  CHARGE,  outro   apenas 4% para o 3º nível (PEA).
          apresenta fenda palatina completa com lábio leporino   Apesar  da  referenciação  para  repetição  de  OEA  e
          associada a microcefalia e malformação cardiovascular   avaliação  otorrinolarigológica  neste  ano  inicial  de
          (canal  arterial  e  buraco  oval).  Dos  nove  doentes   arranque ser de 10%, o nosso estudo permitiu também
          referenciados  para  PEA  de  diagnóstico,  cinco  tiveram   verificar  uma  tendência  estatística  para  menor
          exposição a aminoglicosídeos e três a diuréticos da ansa.  referenciação  ao  longo  dos  meses  o  que  traduz  o
          Uma  criança  encontra-se  aparelhada  com  prótese   esforço das Enfermeiras do Berçário numa optimização
          auditiva  retro-auricular  digital.  Uma  criança  faleceu   do rastreio.
          (fenótipo  compatível  com  Síndroma  de  Goldenhar)   No nosso rastreio foram identificadas quatro (0,16 %)
          e  três  crianças  com  patologia  identificada  foram   crianças sem factores de risco com perda unilateral, o
          perdidas por abandono da consulta, não obstante os   que é inferior a outros estudos, nomeadamente o de
                                                                          20
          respectivos  Pais  terem  sido  devidamente  informados   Olusanya, 0,22%,  e 6,58% no trabalho de Jakubikova. 19
          do diagnóstico.                                   Vários  factores  de  risco  para  surdez  congénita  foram
                                                            definidos pelo Joint Committee on Infant Hearing (JCIH)
          DISCUSSÃO                                         em 2007 (Tabela 1).  A taxa de surdez neurossensorial
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          O RN depende dos seus sentidos para o contacto com   entre as crianças com um ou mais factores de risco é
          o  mundo  que  a  circunda  promovendo  experiências   de cerca de 2-5%, o que corresponde a um risco dez
          essenciais  ao  seu  desenvolvimento  psico-social.   vezes superior relativamente à população infantil sem
          A  surdez  pode  conduzir  a  alterações  estruturais  e   factores de risco. 22
          funcionais  desde  os  núcleos  cocleares  até  ao  córtex   Na nossa instituição a realização do RANU nas crianças
          auditivo.   As  crianças  com  surdez  têm  maiores   com  factores  de  risco,  que  já  se  faz  desde  o  ano
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          dificuldades  no  desenvolvimento  da  comunicação   de  2000,   devido  a  questões  logísticas/financeiras
          verbal e não-verbal, mais problemas comportamentais,   ainda  não  cumpre  na  totalidade  as  recomendações
          menor  bem-estar  psico-social  e  pior  desempenho   do  GRISI.  Este  é  um  dos  aspectos  que  a  equipa
          académico comparativamente às crianças com audição   actualmente  responsável  pelo  rastreio  se  preocupa
          normal. 18                                        em corrigir. Outros aspectos que poderão ser alvo de
          O RANU é a melhor forma de detecção precoce de surdez   melhoria  prendem-se  com  o  seguimento  dos  casos
          infantil.  Através  de  dois  métodos  electrofisiológicos   diagnosticados.
          (OEA e PEA) de fácil aplicação o RANU propõe-se avaliar   A perda de seguimento destes RN, mesmo com diversas
          a surdez infantil nas crianças com ou sem factores de   convocatórias  via  telefónica  ou  correio,  poderá  ser
          risco. Se o rastreio não for universal cerca de 30% das   atribuída  a  uma  eventual  dificuldade  parental  na
          hipoacúsias permanecem por detectar até aos 3 anos.    aceitação  do  diagnóstico  associada  a  menor  estatuto
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