Page 35 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 48 Nº4
P. 35

porque  as  bactérias  existem  no  estado  planctónico/livre.  Na   Referências bibliográficas
          rinossinusite  crónica,  a  organização  dos  biofilmes  confere  às   1- Fokkens W, Lund V, Mullol J. European Position Paper on Rhinosinusitis and
          bactérias constituintes uma maior resistência aos antibióticos.   Nasal Polyps. Rhinology. 2007; 45 (20): 1-139.
          A  concentração  inibitória  mínima  (CIM)  para  uma  bactéria   2- Sanderson A, Leid J, Hunsaker D. Bacterial Biofilms on the Sinus Mucosa of
          planctónica é ineficaz para a mesma estirpe bacteriana se esta   Human Subjects with Chronic Rhinosinusitis. Laryngoscope. 2006 Jul; 116 (7):
                                4,14
          estiver  presente  num  biofilme .  As  bactérias  dos  biofilmes   1121-6.
          conseguem  resistir  a  doses  de  antibióticos  cerca  de  1000   3-  Psaltis  A,  Ha  K,  Beule  A,  Wai  Tan  L,  Wormald  P.  Confocal  Scanning  Laser
                                                      6
          vezes  mais  altas  do  que  se  existirem  na  forma  planctónica .   Microscopy  Evidence  of  Biofilms  in  Patients  with  Chronic  Rhinosinusitis.
          Aumentando a concentração do antibiótico pode-se ultrapassar   Laryngoscope. 2007 Jul; 117 (7): 1302-6.
          a  resistência,  contudo  as  elevadas  concentrações  séricas  de   4-  Bendouah  Z,  Barbeau  J,  Hamad  W,  Desrosiers  M.  Biofilm  Formation  by
          antibiótico aumentam o risco de toxicidade. A aplicação tópica   Staphylococcus  aureus  and  Pseudomonas  aeruginosa  is  Associated  with  an
          de antibióticos parece permitir alcançar elevadas concentrações   Unfavorable Evolution After Surgery for Chronic Sinusitis and Nasal Polyposis.
          na mucosa nasossinusal, sem o risco de complicações sistémicas.   Otolaryngol Head Neck Surg. 2006 Jun; 134 (6): 991-6.
          Existem alguns estudos publicados sobre este tema, mas ainda                                             ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE
                                                     14
          são escassos e não permitem a generalização das conclusões .   5- Ha K, Psaltis A, Butcher A, Wormald P, et al. In Vitro Activity of Mupirocin on
                                                            Clinical Isolates of Staphylococcus aureus and its Potential Implications in Chronic
          Jacopo Galli constatou que os doentes com rinossinusite, sem   Rhinosinusitis. Laryngoscope. 2008 Mar; 118 (3): 535-40.
          evidência  de  biofilmes,  apresentam  um  epitélio  normal  ou
          parcialmente preservado, em que pode haver uma diminuição   6-  Galli  J,  Calò  L,  Ardito  F,  et  al.  Damage  to  Ciliated  Epithelium  in  Chronic
          das  células  ciliadas  e  um  aumento  de  células  goblet  e  de   Rhinosinusitis: What is the Role of Bacterial Biofilms? Ann Otol Rhinol Laryngol.
          células inflamatórias. Nesta fase, o recurso a cirurgia funcional   2008 Dec;117 (12): 902-8.
          endoscópica  nasossinusal  permite  a  regeneração  do  epitélio   7- Hassan H, Ramadan M, Sanclement J, Thomas J. Chronic Rhinosinusitis and
          e  restauração  da  clearance  mucociliar,  constituindo  uma   Biofilms. Otolaryngol Head Neck Surg. 2004 Jun; 132 (3): 414-7.
          abordagem  muito  eficaz  no  tratamento  de  doentes  com   8- Brook I, Bajaracharya H, Hinthorn D. Chronic sinusitis - eMedicine Specialties.
          rinossinusite crónica. Nos casos em que a mucosa nasossinusal se   Last update: Jun 2009. Available from: URL: http://emedicine.medscape.com/
          encontra colonizada por biofilmes bacterianos, constata-se uma   article/232791-overview.
          destruição exuberante do epitélio respiratório com uma ausência   9-  Lund  V.  Therapeutic  Targets  in  Rhinosinusitis:  Infection  or  Inflammation?
          completa de cílios e células goblet, o que condiciona também   Medscape J Med. 2008; 10(4): 105.
          piores  resultados  após  tratamento  cirúrgico .  É  imperiosa  a   10- Davies DG, Parsek MR, Pearson JP, Iglewski BH,et al. The Involvement of Cell-
                                           6
          publicação de mais estudos, com grandes amostras de doentes   to-cell Signals in the Development of a Bacterial Biofilm. Science. 1998 Apr 10;
          e  randomizados,  para  se  poder  retirar  conclusões  sobre  esta   280(5361): 295-8.
          temática.                                         11- De Beer D, Stoodley P, Roe F, Lewandowski Z. Effects of Biofilm Structure on
                                                            Oxygen Distribution and Mass Transport. Biotechnol Bioeng. 1994 May; 43(11):
          CONCLUSÃO                                         1131-8.
          A rinossinusite crónica é uma doença muito prevalente, contudo   13- Xavier J, Picioreanu C, Rani S, Loosdrecht M, et al. Biofilm Control Strategies
          a sua patogénese permanece desconhecida. Os biofilmes têm   Based on Enzymic Disruption of the Extracellular Polymeric Substance Matrix – A
          sido implicados no desenvolvimento e persistência da doença.   Modeling Study. Microbiology. 2005; 151: 3817-32.
          As bactérias de um biofilme têm propriedades significativamente   14-  Ghnnoum  M,  O´Toole  G.  Biofilm  Antimicrobial  Resistance  in  Microbial
          diferentes  das  bactérias  livres/flutuantes  da  mesma  espécie,   Biofilms. Washington DC: ASM Press. 2004; 14: 250-68.
          dado  que  o  ambiente  denso  e  protector  do  biofilme  permite
          uma cooperação e interacção peculiar. Um dos benefícios é o
          aumento da resistência a detergentes e antibióticos pois a densa
          matriz extracelular e as camadas superficiais protegem o interior
          da comunidade. Desta forma, os biofilmes presentes na mucosa
          nasossinusal  são  difíceis  de  erradicar  com  a  antibioterapia
          convencional.  Vários  autores  defendem  que  a  administração
          tópica de antibióticos pode constituir uma solução ao permitir
          atingir  elevadas  concentrações  de  fármaco  na  mucosa
          nasossinusal, com uma baixa potencial absorção sistémica e sem
          efeitos laterais relevantes.







                                                                                     VOL 48 . Nº4 . DEZEMBRO 2010     205
   30   31   32   33   34   35   36   37   38   39   40