Page 19 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº2
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SANDRA AL VES, BERTA  RODRIGUES, PEDRO OLIVEIRA, ARTUR  CONDÉ, AGOSTINHO SILVA





          como a  presença de infecção/inflamação de ou-     rá  prevenir o  desenvolvimento de lesões  orgâni-
          tras regiões das vias aero-digestivas superiores.   cas irreversíveis, permitir a detecção precoce de
             No que diz respeito aos meios auxiliares de     malignidades e doenças auto-imunes e possibili-
                                                                                                  6
          diagnóstico, são de referir em  primeiro lugar os   tar aconselhamento parental e genético .
          métodos culturais. O  estudo microbiológico não       Outros  meios  auxiliares  de  d iagnóstico
          é habitualmente necessário, na medida em que       poderão ser  úteis em  situações  particulares.
          o tratamento habitualmente se baseia, de forma        Os  estudos  audiométricos  e  de  impedanci-
          empírica,  nos  agentes  bacterianos causadores    metria  são  importantes  em  situações  associa-
          mais comuns.  No entanto, como possibilita a rea-  das  a  otite  média  com  efusão.  A  fibroscopia
          lização de antibioterapia específica e dirigida,   nasal permite uma eficaz visualização das fos-
          a  timpanocentese  está  indicada  em  casos  de   sas  nasais  e  da  nasofaringe,  tendo  sobretudo
          recém-nascidos prematuros, de imunodeficientes     interesse  na  suspeita  de  malformações  ou  de
          ou  de  ausência  de resposta  a  tratamento  anti-  neoformações.  A  prova do suor e a  avaliação
          biótico adequado ao fim de 72  horas 20  •         da motilidade ciliar deverão ser realizadas em
             Os  testes  alergológicos,  incluindo  dosea-   situações  de  infecções  respiratórias  altas  de
          mento  de  eosinófilos  plasmáticos,  lgE  total,   repetição  associadas  a  co-morbilidade  grave
          lgE's  específicas  e  RAST,  constituem  exames   das vias aéreas inferiores. Quanto aos estudos
          cuja  requisição sistemática  suscita  polémica.   imagiológicos,  são de  referir a  radiografia  de
             Por  um  lado,  o  sistema  imune das  crianças   perfil  do  cavum  faríngeo,  quando  não  é  pos-
          mais  pequenas  ainda  se  encontra  em  desen-    sível  obter colaboração  da  criança  na  avalia-
          volvimento.                                        ção de eventual hipertrofia adenoideia, e a  to-
             Por outro, não está  provado que a  presença    mografia computorizada do ouvido, na suspeita
          de  atopia  se  associe  de  forma  inequívoca  a   de anomalias anatómicas  ou  de complicações
          OMAr  17 •  Assim, a posição mais consensual con-  associadas.
          siste  na  realização  de  avaliação alergológica
          apenas em  situações  de suspeita clínica.
             No  que  diz  respeito  aos  estudos  imunes,   TERAPÊUTICA
          estudos recentes demonstraram a sua importân-         Episódio agudo de OMA
          cia em  crianças com  mais de três episódios de
          OMA por semestre  ou mais de quatro por ano,          Os  antibióticos  constituem  o  elemento  fulcral
          nas  sujeitas  a  antibioterapia  durante  mais  de   da  terapêutica  médica  das  OMA's  em  todo  o
          dois meses sem  sucesso  e naquelas com neces-     mundo,  na  medida  em  que são altamente efica-
          sidade de antibioterapia endovenoso.               zes  e seguros,  razoavelmente tolerados e se  en-
             Além  disso,  na presença de outros sinais de   contram  globalmente  disponíveis.  A  sua  utiliza-
          alarme  para  imunodeficiência  primária,  como    ção empírica baseia-se no facto de a maior parte
          amigdalites ou infecções sinusais graves de repe-  das OMA's serem  provocadas por agentes  bac-
          tição,  abcessos  ou  infecções  profundas  recor-  terianos e de a sua  utilização se  associar a  uma
          rentes, ou  história familiar de imunodeficiência   resolução mais rápida, com menor risco de com-
          primária,  deverá  ser  efectuado  estudo  imuno-  plicações, e a  uma erradicação bacteriana mais
          lógico adequado  16 •  Os testes de primeira  linha   completa. Apesar de alguns autores não defen-
          consistem  no hemograma com contagem diferen-      derem  a  antibioterapia  em  casos  não  compli-
          cial de leucócitos, no doseamento das lmunoglo-    cados  de  OMA  ou  a  utilizarem  apenas  em
          bulinas totais (A,  E, M ,  D e G) e das sub-classes   esquemas de curta  duração, estas abordagens
                                                                                                    8 10
          de  lgG e  na  pesquisa  de anticorpos  a  antigé-  não estão indicadas em  caso  de OMAr •  .
          nios polissacarídeos 22  •                            Classicamente, os agentes mais utilizados são
             A  detecção  atempada  de  eventuais  défices   a amoxicilina, um  [3-lactâmico do grupo das ami-
          imunes é fundamental, na medida em que justifi-    nopenicilinas, e os macrólidos, em caso de a ler-
          ca  algumas  medidas,  como a  disponibilização    gia às  penicilinas.
          de terapia de substituição de imunoglobulinas e       No entanto,  no  caso  de OMAr,  deverão  ser
          a utilização de antibióticos na dosagem máxima     utilizados agentes terapêuticos de segunda linha,
          durante pelo  menos  14 dias.  Além  disso,  pode-  não  susceptíveis  às  [3-lactamases,  como  amoxi-


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