Page 18 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 44. Nº2
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OTITE MÉDIA AGUDA RECORRENTE EM IDADE PEDIÁ  TRICA





              ainda para a possibilidade de existência de po-    recém-nascidos,  as bactérias Gram-negativas e
              limorfismos constitucionais nos genes das citoqui-  a Pseudomonas aeruginosa. No caso particular das
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              nas,  levando a  alterações  na sua  produção' .   OMAr  as  bactérias  patogénicas  são  semelhan-
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                 Por  outro  lado,  a  própria  persistência  das   tes, embora o risco de resistências seja superior .
              bactérias na  nasofaringe e ouvido médio pode         O  desenvolvimento de resistências  bacteria-
              conduzir a uma  imunossupressão celular, facili-   nas  reveste-se  de  grande  interesse  na  proble-
              tando  a  inflamação crónica  do tracto  respira-  mática das OMAr. A  resistência dos Pneumoco-
              tório superior. A colonização crónica das vege-    cos à Penicilina, mediada por Penicilin binding
              tações  adenóides,  presente  em  mais  de  30%    profeins  (PBP's),  varia  entre  20 e  80%,  sendo
              das crianças com idade inferior a quatro anos,     mais  comum  em  crianças  com  menos  de  dois
              facilita também a  ocorrência de OMA's.            anos que frequentam  infantários  e que recebe-
                 De  facto,  actualmente,  considera-se  que  o   ram  múltiplos tratamentos  com  antibioterapia.
              papel  das  vegetações  adenóides  na  ocorrên-       No entanto, muitas estirpes são apenas par-
              cia de OMAr é mais importante como reserva-        cialmente  resistentes,  sendo  por  isso  erradicá-
              tório  de  bactérias  do que  propriamente  como   veis  com  altas doses  de amoxicilina.  Por outro
              causador de obstrução e disfunção tubar.           lado, cerca  de 30 a  50% dos Haemophylus  e
                 No que diz respeito à  atopia, a  sua  impor-   l 00% das Moraxellas são produtores de [3-lac-
              tância não se  encontra  bem  estabelecida.        tamases21 . Os vírus,  incluindo VSR, Rhinovírus,  ln-
                 São,  por um  lado,  factores  a  favor  do  seu   fluenzae,  Parainfluenzae  e  Adenovírus,  repre-
              papel  nas  OMAr  a  frequente  concomitância      sentam  também  um  papel fulcral  na  patogéne-
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              entre  doença  respiratória  alérgica  e  OMA,  a   se das OMA's .
              história familiar de alergias, a existência de eo-    De facto, pelo menos 30 a 40% dos casos de
              sinofilia  sérico/nasal e a  presença de lgE  e de   OMA estão associados a  infecção respiratória
              mastócitos  no  ouvido  médio.  Por  outro  lado,   alta vírica prévia. Além disso, estes agentes são
              constituem  argumentos  a  seu  desfavor  o  facto   detectados  em  l O a  20% dos  exsudados  das
              de a  prevalência  de OMAr em  crianças atópi-     OMA, de forma isolada, ou, mais frequentemen-
              cas ser  inferior a  33%,  o  padrão sazonal  dis-  te, associados a  bactérias.
              tinto,  a  ausência de eosinófilos no ouvido mé-      Provocam  um  aumento  secretório  e  altera-
              dio e a  ineficácia  dos anti-histamínicos.        ções  histológicas do epitélio tubar, com  conse-
                 Constituem  uma  situação  particular as  aler-  quente  obstrução tubar,  comprometimento  dos
              g ias  alimentares,  incluindo  a  intolerância  ao   mecanismos de clearance e alteração inflama-
              leite  de  vaca,  ovo e/ou  trigo,  em  que os  ali-  tória  da  mucosa  da  caixa.  Facilitam  ainda  a
              mentos  se  comportam  como  antigénios  gera-     adesividade  bacteriana  e  inibem a  actividade
              dores de uma resposta  imune  local ao nível  do   fagocítica dos  polimorfonucleares.
              ouvido  médio. A sua importância na patogenia         Assim,  é  provável que,  para além  de efeito
              das OMAr tem  vindo  a  ser reforçada,  embora     citopático directo, os vírus favoreçam a  inflama-
              apenas  em  casos  raros  as  suas  manifestações   ção,  aumentando a  susceptibilidade aos agen-
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              se  limitem à  esfera ORL .                        tes  bacterianos.


              MICROBIOLOGIA                                      DIAGNÓSTICO

                 A  OMA  é  classicamente  considerada  uma         O  diagnóstico de OMA, e de OMAr em par-
              doença bacteriana. Os agentes mais importan-       ticular,  é  essencialmente  clínico,  sendo  funda-
              tes permanecem os mesmos desde há décadas,         mental a colheita cuidadosa da história clínica,
              sendo  isolados em  66 a  75% das culturas.        incluindo antecedentes  pessoais e  familiares,  e
                 Embora com variações geográficas, os mais       a  realização de um  exame físico completo.
              comuns são o S.  pneumoniae, o Haemophylus in-        Este,  para além da otoscopia, deverá procu-
              fluenzae  e a Moraxella Catarrhalis,  numa rela-   rar  factores  anatómicos  predisponentes,  como
              ção habitual de 3:2: l . Menos importantes são     hipertrofia  adenoideia,  rinite  alérgica,  fenda
              o  S.  aureus,  o  Streptococus  pyogenes e,  nos   palatina ou outras anomalias cranio-faciais,  bem


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