Page 50 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 62. Nº1
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para amigdalectomia no adulto incluem foram estratificados de acordo com o score
a síndrome de apneia obstrutiva do sono, ACE-27 (Adult Comorbidity Evaluation index),
a amigdalite caseosa e a necessidade de um instrumento validado que permite obter
avaliação anatomopatológica. Apesar de ser uma pontuação entre 0 e 3, baseada no
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considerada uma cirurgia de ambulatório, número e severidade de comorbilidades
estão descritas potenciais complicações médicas: 0 - sem comorbilidades; 1 -
associadas a este procedimento, contudo, comorbilidades ligeiras; 2 - comorbilidades
a literatura é escassa no que diz respeito moderadas; 3 - comorbilidades graves. As
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aos fatores de risco. A necessidade de indicações cirúrgicas foram categorizadas
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recurso ao serviço de urgência (SU) no pós- em etiologia infecciosa, síndrome de apneia
operatório pode ocorrer em cerca de 11% obstrutiva do sono (SAOS), amigdalite caseosa
dos casos, nomeadamente por descontrolo e avaliação anatomopatológica (AVAP), por
álgico, náuseas, vómitos ou desidratação. suspeita de neoplasia, em caso de assimetria
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A hemorragia pós-operatória é uma das ou lesões amigdalinas. Todos os doentes foram
complicações potencialmente mais graves submetidos a amigdalectomia total, cuja
e pode ocorrer mesmo após a realização de técnica cirúrgica variou entre disseção a quente
uma hemostase cuidada, estando descrita com recurso a eletrocautério ou coblation e
na literatura uma incidência de 14.5%, disseção a frio, de acordo com a preferência
bastante superior ao observado na população e experiência do cirurgião. Foram definidos
pediátrica (3 a 5%). A hemorragia pós- como outcomes primários: hemorragia pós-
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amigdalectomia pode ser classificada como amigdalectomia; necessidade de revisão de
primária (primeiras 24 horas) ou secundária hemostase no bloco operatório; e recurso
(após 24 horas), apresentando no adulto uma ao SU (por descontrolo álgico ou outros). A
incidência estimada em 0.2-2.2% e 0.1-4.0%, HPA foi dividida em primária (< 24 horas) ou
respetivamente. Os objetivos do presente secundária (> 24 horas). A análise estatística foi
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trabalho foram: (1) caracterizar a população efetuada através de análise descritiva e testes
adulta submetida a amigdalectomia total não-paramétricos: teste Chi-quadrado ou
num centro terciário; (2) analisar as indicações Fisher’s Exact Test, correlação de Spearman
cirúrgicas para amigdalectomia; (3) identificar e análise MANOVA. Para os parâmetros
fatores preditores de complicações pós- estatisticamente significativos, na análise
operatórias nos adultos. MANOVA, foi efetuada uma análise between
subject-effects, assim como aplicados
Material e Métodos testes post-hoc. Os testes estatísticos foram
Foi realizado um estudo observacional realizados com recurso ao software IBM
retrospetivo incluindo todos os doentes SPSS Statistics v.29. Os resultados foram
adultos submetidos a amigdalectomia total considerados estatisticamente significativos
no Centro Hospitalar Universitário Lisboa para valores de p ≤0.05.
Norte, entre Janeiro de 2016 e Dezembro de
2021. Foram consultados os processos clínicos Resultados
para obtenção de dados demográficos e Foram incluídos 539 adultos submetidos a
clínicos. A colheita de dados incluiu: idade, amigdalectomia total. A média de idades
género e antecedentes pessoais (incluindo foi de 32 anos (18–84 anos), sendo a maioria
coagulopatias e tabagismo); indicação do género feminino (58.8%). Grande parte
cirúrgica; técnica cirúrgica; recurso ao SU dos doentes (79.8%) não apresentava
no período pós-operatório, nomeadamente comorbilidades, ou tinha um grau ligeiro, e
por descontrolo álgico ou hemorragia; 19 indivíduos (4.1%) apresentavam um grau
necessidade de revisão de hemostase sob moderado a severo. Apenas 2 doentes tinham
anestesia geral. Os antecedentes pessoais coagulopatias (défice de fator VII e doença
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