Page 46 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 62. Nº1
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demonstraram  que  não  existem  alterações       escleróticas ou espongióticas meramente
          histológicas que corroborem a SSN ou que não      fenestrais; grau 2 – doença coclear (com e sem
          encontraram uma deterioração sensorineural        envolvimento fenestral), podendo dividir-se
          da audição superior ao expectável para            em 2A (envolve a espira basal), 2B (envolve
          a idade ; outros autores, referem que a           a espira média/apical) e 2C (envolve a espira
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          histologia coclear pode encontrar-se alterada,    basal e a apical); grau 3 – envolvimento de
          existindo  evidência  de  obstruções  do  fluxo   toda a cóclea. O grau 2C difere do 3 por
          endolinfático, degeneração do ligamento           apresentar um envolvimento disperso versus
          espiral,  bloqueios  vasculares  e  redução       confluente  contínuo.  Por  representarem
          dos potenciais endococleares    6–8 . Assim, a    graus de envolvimento coclear, neste estudo
          progressão da osteodistrofia pode levar a SSN     optou-se por agrupar os doentes classificados
          ou mista, possivelmente pela deposição de         como  2A,  2B,  2C  e  3.  Foi  definido  como
          colagénio no ligamento espiral, resultando na     sucesso terapêutico, um hiato aero-ósseo no
          sua hialinização . A tomografia computorizada     audiograma  tonal  simples  ≤10  dB  HL,  sem
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          (TC) dos ouvidos é utilizada nos casos em         agravamento dos limiares de via óssea      14,15 .
          que o diagnóstico de otosclerose não é claro      Para cálculo do hiato-aero-ósseo foi utilizada
          e na preparação da cirurgia estapédica. Este      a média tonal simples com as frequências de
          exame pode detetar focos de otospongiose          250, 500 e 1000 Hz. Foram considerados os
          ou otosclerose. Alguns estudos sugerem que        audiogramas mais recentes disponíveis.
          a gravidade do envolvimento coclear na TC
          pode correlacionar-se com o grau de perda         Resultados
          SSN 11,12 .  Neste contexto, este estudo tem como   A população em estudo incluiu um total de
          objetivo averiguar se doentes com otosclerose     46 doentes, 15 do sexo masculino (33%) e 31 do
          e  alterações  cocleares  na  TC  apresentam      sexo  feminino  (67%),  com  uma  idade  média
          pior prognóstico audiométrico após cirurgia       de 47,5 (± 7,8) anos. Verificou-se uma taxa de
          estapédica.                                       sucesso cirúrgico de 91% (n=42). Em relação à
                                                            classificação dos focos de otospongiose na TC,
          Material e Métodos                                os doentes distribuíram-se da seguinte maneira:
          Foi realizado um estudo retrospetivo dos          7 doentes com grau 0; 32 doentes com grau 1; 7
          doentes submetidos a cirurgia estapédica          doentes com grau 2–3. Em todos os doentes nos
          no Hospital Beatriz Ângelo, entre janeiro de      quais se observou envolvimento coclear na TC,
          2012 e janeiro de 2022. A cirurgia foi realizada   obteve-se sucesso terapêutico após cirurgia. Os
          por  cirurgiões  diferentes.  A  estapedectomia   audiogramas mais recentes foram realizados
          foi a técnica escolhida por preferência dos       em média 33 meses após a cirurgia, sendo que
          cirurgiões.  Os  doentes  incluídos  no  estudo   não houve padronização do tempo decorrido
          realizaram TC dos ouvidos e audiograma            entre  a  cirurgia  e  o  audiograma  utilizado.
          tonal simples pré- e pós-operatório.  O grau      Verificou-se que a média tonal simples da via
          de  otosclerose  foi  classificado  de  acordo  a   óssea (VO) do ouvido operado melhorou, em
          escala de Symons e Fanning : grau 1 – lesões      média, 6,9 dB HL nos doentes sem alterações
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           Tabela 1
           Resultados
          Focos otospongiose na TC                                   Doentes com sucesso cirúrgico
          - classificação Symons e Fanning                            (hiato aero-ósseo ≤10 dB HL)
          Grau 0                                      n=7                      n=5 (71%)
          Grau 1 (envolvimento antefenestral apenas)  n=32                    n=30 (94%)
          Grau 2-3 (envolvimento coclear)             n=7                      n=7 (100%)
          Total                                       n=46                    n=42 (91,3%)


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