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demonstraram que não existem alterações escleróticas ou espongióticas meramente
histológicas que corroborem a SSN ou que não fenestrais; grau 2 – doença coclear (com e sem
encontraram uma deterioração sensorineural envolvimento fenestral), podendo dividir-se
da audição superior ao expectável para em 2A (envolve a espira basal), 2B (envolve
a idade ; outros autores, referem que a a espira média/apical) e 2C (envolve a espira
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histologia coclear pode encontrar-se alterada, basal e a apical); grau 3 – envolvimento de
existindo evidência de obstruções do fluxo toda a cóclea. O grau 2C difere do 3 por
endolinfático, degeneração do ligamento apresentar um envolvimento disperso versus
espiral, bloqueios vasculares e redução confluente contínuo. Por representarem
dos potenciais endococleares 6–8 . Assim, a graus de envolvimento coclear, neste estudo
progressão da osteodistrofia pode levar a SSN optou-se por agrupar os doentes classificados
ou mista, possivelmente pela deposição de como 2A, 2B, 2C e 3. Foi definido como
colagénio no ligamento espiral, resultando na sucesso terapêutico, um hiato aero-ósseo no
sua hialinização . A tomografia computorizada audiograma tonal simples ≤10 dB HL, sem
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(TC) dos ouvidos é utilizada nos casos em agravamento dos limiares de via óssea 14,15 .
que o diagnóstico de otosclerose não é claro Para cálculo do hiato-aero-ósseo foi utilizada
e na preparação da cirurgia estapédica. Este a média tonal simples com as frequências de
exame pode detetar focos de otospongiose 250, 500 e 1000 Hz. Foram considerados os
ou otosclerose. Alguns estudos sugerem que audiogramas mais recentes disponíveis.
a gravidade do envolvimento coclear na TC
pode correlacionar-se com o grau de perda Resultados
SSN 11,12 . Neste contexto, este estudo tem como A população em estudo incluiu um total de
objetivo averiguar se doentes com otosclerose 46 doentes, 15 do sexo masculino (33%) e 31 do
e alterações cocleares na TC apresentam sexo feminino (67%), com uma idade média
pior prognóstico audiométrico após cirurgia de 47,5 (± 7,8) anos. Verificou-se uma taxa de
estapédica. sucesso cirúrgico de 91% (n=42). Em relação à
classificação dos focos de otospongiose na TC,
Material e Métodos os doentes distribuíram-se da seguinte maneira:
Foi realizado um estudo retrospetivo dos 7 doentes com grau 0; 32 doentes com grau 1; 7
doentes submetidos a cirurgia estapédica doentes com grau 2–3. Em todos os doentes nos
no Hospital Beatriz Ângelo, entre janeiro de quais se observou envolvimento coclear na TC,
2012 e janeiro de 2022. A cirurgia foi realizada obteve-se sucesso terapêutico após cirurgia. Os
por cirurgiões diferentes. A estapedectomia audiogramas mais recentes foram realizados
foi a técnica escolhida por preferência dos em média 33 meses após a cirurgia, sendo que
cirurgiões. Os doentes incluídos no estudo não houve padronização do tempo decorrido
realizaram TC dos ouvidos e audiograma entre a cirurgia e o audiograma utilizado.
tonal simples pré- e pós-operatório. O grau Verificou-se que a média tonal simples da via
de otosclerose foi classificado de acordo a óssea (VO) do ouvido operado melhorou, em
escala de Symons e Fanning : grau 1 – lesões média, 6,9 dB HL nos doentes sem alterações
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Tabela 1
Resultados
Focos otospongiose na TC Doentes com sucesso cirúrgico
- classificação Symons e Fanning (hiato aero-ósseo ≤10 dB HL)
Grau 0 n=7 n=5 (71%)
Grau 1 (envolvimento antefenestral apenas) n=32 n=30 (94%)
Grau 2-3 (envolvimento coclear) n=7 n=7 (100%)
Total n=46 n=42 (91,3%)
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