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vertigem) ou intracranianas com morbilidade no estilo de vida do paciente, o que se torna
significativa associada. 3 Esta patologia ainda mais relevante em idade pediátrica.
apresenta-se, frequentemente, com otorreia, As infeções de repetição na cavidade
que pode apresentar odor fétido e hipoacusia, mastóidea podem causar reabsorção óssea e,
contudo a fase de evolução da doença dita consequentemente, fístulas labirínticas. Para
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a sintomatologia. 2,3 O tratamento da OMC além disso, doentes com cavidades podem
colesteatomatosa é cirúrgico e o principal experienciar episódios de vertigem com
objetivo é erradicar a doença, prevenir alterações da temperatura e de pressão. 12
recidivas e complicações e, por último, tentar De forma a ultrapassar as limitações de
preservar ou restabelecer a acuidade auditiva ambas as técnicas, a mastoidectomia via
do paciente. 2,3 A abordagem cirúrgica desta técnica retrógrada visa a remoção limitada
patologia baseia-se, essencialmente, em dois da parede póstero-superior do CAE para
tipos de mastoidectomia: canal wall up (CWU) exérese completa do colesteatoma, seguida
com preservação da parede póstero-superior do de reconstrução da mesma com material
canal auditivo externo (CAE) e canal wall down autólogo (osso, cartilagem) ou aloplástico
(CWD) sem preservação da parede póstero- (cimento de hidroxiapatite, cera de osso)
superior do CAE. A preservação da parede quando possível e adequado. 5,7 Esta técnica
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póstero-superior do CAE na mastoidectomia de mastoidectomia via retrógrada seguida
CWU permite manter a anatomia normal do de reconstrução da parede foi descrita pela
CAE, reduz o tempo de cicatrização, evita as primeira vez por Guilford e, posteriormente, foi
limitações que surgem com a presença de aplicada por inúmeros cirurgiões otológicos. 13
cavidades de esvaziamento (necessidade Esta técnica permite uma melhor exposição
de proteger o ouvido da água, dificuldade e controlo do epitímpano, seio timpânico e
na utilização de próteses de reabilitação recesso do facial, locais onde a localização
auditiva) e permite melhores resultados do colesteatoma é frequente e, onde existe
auditivos, comparativamente à técnica CWD. maior risco de doença residual. Desta forma,
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As desvantagens são a exposição limitada do esta técnica tenta combinar as vantagens da
epitímpano, mesotímpano posterior, recesso mastoidectomia CWD e CWU. 4,9
facial e seio timpânico, o que pode levar a A localização, extensão da doença, a presença
doença residual e, consequentemente, maior ou não de complicações, a função da trompa
taxa de recidiva. 5,6,7 Por este motivo, está de Eustáquio (TE), a capacidade funcional
preconizado um second-look 6-12 meses após do doente e a acuidade auditiva são fatores
a cirurgia ou, em alternativa, a realização de a considerar aquando da seleção da técnica
ressonância magnética com difusão. 3,8 cirúrgica. Este estudo teve como objetivo a
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Por outro lado, a remoção da parede póstero- análise retrospetiva dos resultados funcionais
superior do CAE até ao nível do segmento após mastoidectomia via técnica retrógrada
vertical do nervo facial na mastoidectomia canal para extirpação de colesteatoma na população
wall down (CWD) permite a exposição adequada adulta, no Centro Hospitalar Tondela-Viseu
para remoção completa do colesteatoma, (CHTV).
com menor risco de doença residual e, por
isso, menor taxa de recidiva (inferior a 10% ). Material e Métodos
5,9
Contudo, os resultados audiométricos parecem Realizou-se um estudo retrospetivo dos casos
ser piores comparativamente com CWU e, de mastoidectomia via técnica retrógrada por
a criação de uma cavidade obriga a limpeza OMC colesteatomatosa realizados no Centro
periódica da mesma e aumenta o risco de Hospitalar Tondela-Viseu entre Janeiro de
infeções de repetição em cavidades húmidas, 2018 e Dezembro de 2021, com a recolha dos
reforçando a necessidade de manter proteção seguintes dados: idade, sexo, lateralidade,
da água. 5,10 Estes cuidados causam alterações técnica cirúrgica, cirurgia primária ou de
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