Page 38 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 62. Nº1
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vertigem) ou intracranianas com morbilidade       no estilo de vida do paciente, o que se torna
          significativa   associada. 3   Esta  patologia    ainda mais relevante em idade pediátrica.
          apresenta-se, frequentemente, com otorreia,       As  infeções  de  repetição  na  cavidade
          que pode apresentar odor fétido e hipoacusia,     mastóidea podem causar reabsorção óssea e,
          contudo a fase de evolução da doença dita         consequentemente, fístulas labirínticas.  Para
                                                                                                    11
          a sintomatologia.  2,3  O tratamento da OMC       além disso, doentes com cavidades podem
          colesteatomatosa é cirúrgico e o principal        experienciar episódios de vertigem com
          objetivo é erradicar a doença, prevenir           alterações da temperatura e de pressão. 12
          recidivas e complicações e, por último, tentar   De  forma  a  ultrapassar  as  limitações  de
          preservar ou restabelecer a acuidade auditiva     ambas as técnicas, a mastoidectomia via
          do paciente. 2,3  A abordagem cirúrgica desta     técnica retrógrada visa a remoção limitada
          patologia baseia-se, essencialmente, em dois      da parede póstero-superior do CAE para
          tipos de mastoidectomia: canal wall up (CWU)      exérese completa do colesteatoma, seguida
          com preservação da parede póstero-superior do     de reconstrução  da mesma com material
          canal auditivo externo (CAE) e canal wall down    autólogo (osso, cartilagem) ou aloplástico
          (CWD)  sem preservação da  parede  póstero-       (cimento de hidroxiapatite, cera de osso)
          superior  do CAE.  A  preservação da  parede      quando possível e adequado.    5,7  Esta técnica
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          póstero-superior do CAE na mastoidectomia         de  mastoidectomia  via  retrógrada  seguida
          CWU permite manter a anatomia normal do           de reconstrução da parede foi descrita pela
          CAE, reduz o tempo de cicatrização, evita as      primeira vez por Guilford e, posteriormente, foi
          limitações  que  surgem  com  a  presença  de     aplicada por inúmeros cirurgiões otológicos. 13
          cavidades de esvaziamento (necessidade            Esta técnica permite uma melhor exposição
          de  proteger  o  ouvido  da  água,  dificuldade   e controlo do epitímpano, seio timpânico e
          na utilização de próteses de reabilitação         recesso do facial, locais onde a localização
          auditiva) e permite melhores resultados           do colesteatoma é frequente e, onde existe
          auditivos, comparativamente à técnica CWD.        maior risco de doença residual.  Desta forma,
                                                                                           13
          As desvantagens são a exposição limitada do       esta técnica tenta combinar as vantagens da
          epitímpano, mesotímpano posterior, recesso        mastoidectomia CWD e CWU.      4,9
          facial  e  seio  timpânico,  o  que  pode  levar  a   A localização, extensão da doença, a presença
          doença residual e, consequentemente, maior        ou não de complicações, a função da trompa
          taxa de recidiva. 5,6,7   Por este motivo, está   de Eustáquio (TE),  a capacidade funcional
          preconizado um second-look 6-12 meses após        do doente e a acuidade auditiva são fatores
          a cirurgia ou, em alternativa, a realização de    a considerar aquando da seleção da técnica
          ressonância magnética com difusão.  3,8           cirúrgica. Este  estudo teve como  objetivo  a
                                                                     1
          Por outro lado, a remoção da parede póstero-      análise retrospetiva dos resultados funcionais
          superior do CAE até ao nível do segmento          após mastoidectomia via técnica retrógrada
          vertical do nervo facial na mastoidectomia canal   para extirpação de colesteatoma na população
          wall down (CWD) permite a exposição adequada      adulta,  no  Centro  Hospitalar  Tondela-Viseu
          para remoção completa  do  colesteatoma,          (CHTV).
          com menor risco de doença residual e, por
          isso, menor taxa de recidiva (inferior a 10%  ).   Material e Métodos
                                                     5,9
          Contudo, os resultados audiométricos parecem      Realizou-se um estudo retrospetivo dos casos
          ser piores comparativamente com CWU e,            de mastoidectomia via técnica retrógrada por
          a  criação de uma cavidade  obriga a  limpeza     OMC colesteatomatosa realizados no Centro
          periódica da mesma e aumenta o risco de           Hospitalar Tondela-Viseu entre Janeiro de
          infeções  de  repetição  em  cavidades  húmidas,   2018 e Dezembro de 2021, com a recolha dos
          reforçando a necessidade de manter proteção       seguintes dados: idade, sexo, lateralidade,
          da água. 5,10  Estes cuidados causam alterações   técnica cirúrgica, cirurgia primária ou de



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