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convencional é a obtenção de um elevado subtotal para preservar a função pode ser
gradiente de dose para além dos limites uma opção, com RCE subsequente. (grau de
da lesão, isto é, uma poupança máxima recomendação C) 33
de irradiação dos tecidos normais vizinhos A escolha de uma abordagem cirúrgica
adjacentes às lesões, devido à utilização de depende da audição e da preferência do
múltiplos feixes centrados no alvo. 24 doente, das características do tumor e da
A maioria das séries na passada década, experiência do cirurgião. A experiência da
reportam controlo do tumor em 92 até 98% equipa cirúrgica é um fator importante que
com um período de seguimento entre 3 a afeta o resultado final, pelo que os SV apenas
10 anos. 25-30 Há uma tendência á perda de devem ser tratados em centros especializados
audição progressiva após a RCE: um estudo com maior volume cirúrgico. (grau de
com 44 doentes com SV que apresentavam recomendação IV) 34,35,36
audição útil e foram tratados entre 1997 e A cirurgia pode ser considerada até em
2002, com um follow-up de 9,3 anos, tiveram pequenos tumores, se existir degeneração
taxas de audição útil de 80, 55, 48, 38 e 23% aos quística ou se o objectivo principal do
1, 3, 5, 7 e 10 anos, respetivamente. 31 tratamento for a cura (grau de recomendação
No nosso estudo, todos os doentes eleitos III, nível de evidência C). 37,38,39 O objetivo da
para RCE possuíam audição útil. Um deles cirurgia deve ser a ressecção total ou quase-
tinha um tumor (Koos III – Samii T3b) que se total (near-total resection – NTR), uma vez que
optou por tentar controlar o crescimento com o tamanho da doença residual correlaciona-
RCE; acabou por ter que ser intervencionado se com a probabilidade de recorrência (grau
cirurgicamente. Outro doente com um tumor de recomendação III, nível de evidência B). 40
(Koos II – Samii T3a) com sintomas vestibulares, Nos tumores de grandes dimensões (Koos
preferiu ser tratado, primeiramente, com RCE. IV, Samii T4a e T4b), a cirurgia é o tratamento
Contudo, este caso também acabou por ter de eleição para remover a lesão sintomática
que ser intervencionado cirurgicamente, por ou potencialmente fatal devido ao efeito de
crescimento tumoral. Por último, um caso compressão no tronco cerebral. 41
de um tumor (Koos II – Samii T2) que realizou A abordagem suboccipital ou retrosigmoideia
RCE, encontra-se ainda em seguimento e (retromastoideia) é preferida pelos neuro-
sem necessidade de intervenção cirúrgica. Os cirurgiões e é particularmente indicada para
poucos doentes eleitos para RCE acabam por tumores localizados no APC ou tumores
ser uma limitação deste estudo. com um grau de compressão do tronco
A maioria dos doentes com tumores de média significativo. Esta abordagem permite a
dimensão apresentam sintomas auditivos remoção de tumores de várias dimensões
ou vestibulares. Mesmo nestes, a paresia e oferece teoricamente a possibilidade de
facial é rara e, se presente, deve ser feito o preservação da audição, mas já vimos, pelos
diagnóstico diferencial com schwannoma resultados da nossa série e por outros estudos,
do facial (SF). No nosso estudo, a parésia que a preservação da audição não é obtida na
facial apenas esteve presente em tumores maior parte dos casos. É uma abordagem que
de grandes dimensões que tiveram de ser oferece uma visualização privilegiada sobre o
intervencionados cirurgicamente. Devido aos tronco cerebral, pares cranianos e estruturas
sintomas e dimensão do tumor, nos doentes vasculares vizinhos, mas requer alguma
com tumores médios a abordagem deve ser retração do cerebelo e tem apenas um acesso
interventiva. Quer a cirurgia quer a RCE pode limitado ao fundo do CAI, onde muitas vezes
ser recomendada. (nível de evidência C) é deixado um volume variável de tumor
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Os riscos são menores com a RCE; no entanto, residual. 42,43
apenas a cirurgia tem intuito curativo com A abordagem translabiríntica é realizada por
remoção completa do tumor. A resseção otorrinolaringologistas com competência
342 Revista Portuguesa de Otorrinolaringologia - Cirurgia de Cabeça e Pescoço

