Page 69 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº4
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Nesta amostra houve uma distribuição Outros estudos identificaram um crescimento
grosseiramente equitativa entre os graus de 50% dos tumores ao longo de 5 anos. 17,18,19
de audição. O grau D (já com perda de Após o diagnóstico é imprevisível saber quanto
discriminação da fala), com maior número e até quando o tumor pode crescer, não
de doentes, justifica-se pela tendência de havendo aparente relação com fatores clinico-
agravamento da audição com a história demográficos como a idade, sexo, tamanho do
natural da doença. tumor ou sintomas quando do diagnóstico. O
O acufeno esteve presente em 34 (41%) dos crescimento pode ser contínuo, mas também
doentes, com diferentes graus de intensidade. pode só acontecer depois de um período de
O acufeno unilateral é o segundo sintoma inatividade. Tumores com características
auditivo mais comum, presente desde quísticas costumam ter crescimentos maiores
12% a 60% dos doentes, frequentemente e mais rápidos. 20
acompanhados de sintomas inespecíficos A vigilância apertada dos SV com RM seriadas
compatíveis com plenitude auricular. 9,10,11,12 e exames audiológicos (espera vigilante ou
Apesar deste tumor se desenvolver a partir wait and scan) é considerada uma estratégia
de um dos nervos vestibulares, as queixas apropriada nos SV esporádicos e assintomáticos
vestibulares não são comuns, uma vez (grau de recomendação III, nível de evidência
que o crescimento lento permite uma C). O crescimento médio de SV esporádicos é
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adaptação por mecanismos centrais ao défice 1,1 mm/ano em diâmetro. Numa abordagem
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vestibular progressivo crónico desenvolvido. conservadora, existem estudos que demons-
Aproximadamente, metade dos doentes (48%) tram que um crescimento maior que 2,5
não apresentaram sintomas de vertigem ou mm/ano tem significativamente maior taxa
tonturas no nosso estudo. de perda auditiva comparativamente com
Apesar da surdez súbita ser uma forma de taxas de crescimento menores, 75% e 32%,
apresentação pouco frequente, foi encontrada respetivamente, com um período de follow-up
em 7 (9%) doentes. Esta forma menos frequente de 26 a 52 meses. No nosso estudo, a idade,
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de apresentação, manifesta-se em 2% a 7 % dos a clínica e crescimento maior ou igual 2,5mm/
doentes, sobretudo em tumores de menores ano, foram fatores de decisão terapêutica,
dimensões ainda limitados ao CAI. 9,10,13,14 principalmente em tumores borderline.
Em 61 doentes (51%), optou-se inicialmente Como alternativa à espera vigilante nos doentes
por uma abordagem conservadora (wait-and- com tumores pequenos e assintomáticos
scan) mas, no seguimento, cerca de metade (Koos I e II, Samii T1-T3a), a Radiocirurgia
destes, 23, acabaram por ter uma decisão Estereotáxica (RCE) é considerada válida, por
de tratamento, por cirurgia ou radiocirurgia, parar o crescimento do tumor e preservar a
pois tornaram-se sintomáticos ou adquiriram função do nervo a longo prazo. No entanto,
dimensões e crescimentos demasiado agressivos. existe um pequeno risco dessa deterioração
A literatura relata que a proporção de tumores acontecer, afetando a qualidade de vida do
que crescem durante o follow-up varia doente. (grau de recomendação II, nível de
consideravelmente entre 30-70% ao longo evidência B).
de diferentes períodos. Esta variação pode A Radiocirurgia Estereotáxica é uma
dever-se aos métodos e critérios utilizados no modalidade terapêutica não invasiva que
seguimento. 15,16 utiliza a administração, de uma só vez ou em
Segundo uma revisão sistemática da literatura, várias sessões, de uma fracção de alta dose de
que incluiu cerca de 6,000 doentes em 53 radiação externa com uma extrema precisão
artigos de 1984 a 2014, demostrou-se uma a alvos bem localizados e com limites bem
média de crescimento de 33% para tumores definidos, geralmente intracranianos. Uma
pequenos e médios, com um follow-up de 3,3 característica fundamental desta técnica e
anos. que a distingue da radioterapia externa (RTE)
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