Page 55 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº4
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Resultados                                        doentes tinham sido submetidos a colocação
          Foram    analisadas   126   cirurgias,  tendo     de TVTT. Foi possível identificar uma etiologia
          sido excluídos 69 ouvidos. Dos 57 ouvidos         provável para a perfuração em 50 doentes.
          considerados, havia um caso bilateral. A          Na  maioria, as  perfurações  surgiram  após
          maioria era do género masculino (56%). A          colocação  de  TVTT  (tubos  de  Shepard  em
          média de idades no momento da cirurgia foi        92% das perfurações pós-tubo) e em 40%
          de 10,4 ± 3,2 anos (6-17 anos), tendo 37% menos   após otites de repetição ou otite média
          de 9 anos, 40% entre 9-12 anos e 23% mais de      aguda supurada. Num caso a perfuração foi
          12 anos. A caracterização clínica da população    traumática. O ouvido contralateral não tinha
          estudada encontra-se na Tabela 1.                 qualquer alteração em 54% dos casos sendo
          Relativamente à presença de comorbilidades,       que, nos restantes, existia otite média crónica
          32%   tinham    história  de   rinite  e   9%     com perfuração (21%), otite média com efusão
          apresentavam malformações craniofaciais,          (4%), retração da pars tensa (4%). Em 17% dos
          incluindo fenda palatina (n=1), síndrome de       casos existia história de timpanoplastia no
          Down (n=1), craniossinostose (n=1), síndrome      ouvido contralateral.
          KBG  (n=1)  e  síndrome  de  Barakat  (n=1).      No que se refere às características da
          Previamente à miringoplastia, 52% dos             perfuração, a maioria tinha localização central
                                                            (91%) e envolvia apenas um quadrante da
                                                            pars tensa (60%), sendo o ântero-inferior o
          Tabela 1
          Características clínicas da população (N=57       mais frequentemente afectado (73%). 16%
          ouvidos)                                          das perfurações eram subtotais e em 7% dos
                                                            casos envolviam o  anullus  timpânico. Cerca
                                           N      %         de um terço dos casos apresentava focos de
          Género                                            miringosclerose (32%).
          Masculino                       32     56%        A via de abordagem retro-auricular foi usada
          Feminino                        25     44%        em 98% dos casos, sendo a via transcanalar
                                                            utilizada em apenas um doente. Na maioria
          Lateralidade
                                                            dos ouvidos foi empregue enxerto de fascia
          Direito                         32     56%        temporalis  (93%), sendo  aplicado  enxerto de
          Esquerdo                        25     44%        cartilagem ou misto (fáscia e cartilagem)

          Presença de rinite              18     32%        em  2% e  5%  dos casos,  respectivamente.  A
          Presença de malformação          5      9%        técnica underlay (96%) foi preferida à técnica
          craniofacial                                      onlay (4%). Foi realizada secção do umbo em
          TVTT prévio                                       7% dos casos e calibragem do canal auditivo
                                                            externo em 11%. No momento da cirurgia,
          Shepard                         28     49%
                                                            89%  dos ouvidos  encontravam-se  sem  sinais
          Goode                            2      3%
                                                            inflamatórios.  Ocorreu  complicação  cirúrgica
          Causa provável da perfuração                      em apenas um caso, com aparecimento
          Após TVTT                       25     46%        tardio de paresia facial homolateral grau II

          Otite média                     23     40%        de House-Brackmann (2º dia pós-operatório),
                                                            com recuperação completa.
          Traumatismo                      1      2%
                                                            O sucesso cirúrgico avaliado três meses após
          Estado do ouvido contralateral
                                                            a cirurgia foi de 89% (51/57). Os ouvidos foram
          Normal                          31     54%        seguidos em média durante 30  ± 21 meses
          Perfuração timpânica            12      21%       (3-69 meses), tendo sido observada recidiva
          Status pós-timpanoplastia       10      17%       da perfuração em 16% (n=9) dos doentes, em
                                                            média aos 14,6 ± 11,9 meses (4-45), totalizando
          Retração da pars tensa           2      4%
                                                            26% de insucesso clínico (n=15) quanto à
          Otite média com efusão           2      4%


                                                                                  Volume 60 . Nº4 . Dezembro 2022 327
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