Page 50 - Revista Portuguesa - SPORL - Vol 60. Nº4
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em doentes com a doença em estadios a localização tumoral (hipofaringe vs. laringe)
avançados (IV) e com RNL e IIS pré-operatórios influencia o prognóstico clínico do doente,
mais elevados, embora estes últimos não se conforme já comprovado , nem permite fazer
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tenham evidenciado como fatores preditivos inferência sobre os restantes marcadores
independentes de sobrevivência. Ainda assim, inflamatórios analisados que poderiam
já existe evidência científica que um elevado revelar-se como preditores da sobrevivência
RNL pré-tratamento é um fator preditor assim como já aconteceu noutros estudos.
negativo nos tumores da cabeça e pescoço 21,22 . Adicionalmente, o facto de se tratar de um
O que pode contribuir para esta diferença estudo retrospetivo não permite um rigor
é grande heterogeneidade que existe na nos timings de colheita dos nossos estudos
literatura relativamente à definição dos cutoff’s analíticos (pré- e pós-tratamento). A variedade
ideais para determinar um rácio elevado e dos tratamentos realizados também conferiu
baixo para se determinar as sobrevivências . alguma heterogeneidade à amostra que
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Essa variação poderá ser atribuída ao método poderão, por si só, influenciar os desfechos
utilizado para a sua determinação. Num clínicos dos doentes.
estudo sobre neoplasias laríngeas realizado Ainda assim e, apesar das limitações
por Du et al. , onde foi demonstrado a apresentadas, concluímos que na nossa
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associação entre um RLN elevado e um pior amostra um elevado RPL mostrou ser um fator
prognóstico na análise de sobrevivência, foi prognóstico negativo, assim como acontece
utilizado o método CART (classification and numa ampla gama de outras neoplasias,
regression tree) tendo sido determinado o nomeadamente pulmonares, esofágicas e
valor de 3.18 como cutoff. Relativamente ao IIS, renais 23-25 , que mostra alguma coerência e
um score semelhante que reflete uns níveis fortalece a ideia de que o microambiente
aumentados em circulação de neutrófilos tumoral e, consequentemente, a resposta
e monócitos (SIRI - Systemic Inflammation inflamatória sistémica associada, tem, de
Response Index), já mostrou estar associado a facto, impacto na agressividade e progressão
um aumento da mortalidade em doentes com tumoral.
tumores da cabeça e pescoço (HR de 3.3) . Futuramente seria pertinente a realização
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Ainda assim, e embora pareça haver correlação de um estudo prospetivo multicêntrico para
entre a RIS e o prognóstico clínico destes determinar que marcador inflamatório, ou
doentes, a utilização destes marcadores para combinação de vários, prediz melhor os
a previsão prognóstica deve ser realizada de desfechos clínicos destes doentes, avaliar
forma crítica uma vez que os marcadores com precisão a sua variação dinâmica com
inflamatórios analisados representam uma os tratamentos instituídos e determinar
avaliação da atividade do sistema imunitário fiabilidade estatística (teste-reteste) destes
num momento exato e único e, como tal, não parâmetros inflamatórios. Será também
refletem as variações dinâmicas que ocorrem importante definir valores de cutoffs fixos,
ao longo do tempo. Adicionalmente, também de modo a avaliar a sua aplicabilidade na
é importante ter em conta que o tipo de perfil prática clínica. Por fim, poderia revelar-se
imunológico analisado ser uma avaliação interessante a avaliação adicional de outros
sistémica e global da resposta inflamatória e, fatores, nomeadamente da albumina e da
como tal, pode não refletir necessariamente o relação albumina/globulina, que reflete o
microambiente tumoral e as subpopulações estado nutricional do doente 21 e que já se
específicas de células envolvidas. terá mostrado como preditor dos desfechos
Consideramos serem limitações deste estudo, clínicos nos tumores da cabeça e pescoço e
primariamente, o tamanho amostral que, por noutras neoplasias .
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ser reduzido em cada subgrupo analisado,
não nos permitiu mostrar que, por exemplo,
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